Voz Eterna.

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Restava silêncio, escuridão e desejo.
Os ouvidos cheios de nada, feixos de luz pela janela iluminando um corpo adormecido e desnudado, pele macia. Passava um turbilhão, contrastando com o ambiente, a alma implorava pelo som. Dali, não via mais do que os traços das costas, a curva para a anca e a dobra para um pescoço de cisne. Era beleza pura. Sua pele manchada por duas cores únicas, podia jurar que não precisava de mais nada para ser feliz. Sentia o aroma, laranjeira com algo metálico que dava ênfase ao eflúvio natural dos seus cabelos negros. Quanto mais se alastra, mais artístico fica, como um quadro abstrato. O tom vermelho dominando o edredom como se marcasse território, secando na sua pele e tornando-se nada mais do que marcas de luta. Vê-la calma depois de um tumulto não podia ser melhor. Todo aquele medo escapou dos olhos, tornando-os estáticos. Os membros relaxaram não muito depois, estava tão serena... Havia uma melodia que se gastou no rádio no canto da sala, mas naquele momento, a voz pronunciando meu nome com dificuldade era poesia pura, calmante e extasiante. Aquele cheiro entorpecente foi substituído ao longo dos dias, mas nunca deixei de amá-la, nem quando sua pele se tornou cinzenta e com marcas estranhas. Era a sua natureza, tão linda como um campo florido. Queria poder conservar aquela visão divina, mas aos poucos ia se deteriorando. Mais rápido do que desejava. Até que houve um dia em que perdi a oportunidade de acordar ao lado dela todos os dias. Haviam sirenes, altas e estridentes. Abracei o seu corpo, cobri seus ouvidos. Nada podia perturbar o meu amor.

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⏰ Last updated: Dec 30, 2021 ⏰

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Devaneios de uma Alma PerdidaWhere stories live. Discover now