Garoto Errado

Capítulo 5 - Casamento

As semanas se passaram rápido na mesma proporção como eu piscava os olhos, e assim o esperado dia do casamento havia chegado. Posso dizer que esses últimos dias haviam sido conturbados e muito, mais muito cheios. Por começar pela troca de casas, agora eu não morava mais no bairro que ficava perto da escola, estava morando quase do outro lado da cidade e eu teria que pegar agora metrô para ir à escola, e eu odiava andar de metrô. O lado bom nisso, era que eu havia ganhado um quarto com o dobro do meu antigo, uma sala de ballet – eu quase chorei quando a vi pela primeira vez toda equipada com barras e espelhos... essas coisas – e pela casa ficar bem próxima ao prédio aonde fazia as aulas.

E por falar em aulas, eu ainda estava anestesiada de felicidade por ter sido a melhor do teste e conseguido o papel para representar Odete em O Lago dos Cisnes. Bom, para falar a verdade eu havia ganhado o papel de Odete por um simples detalhe, que Karin – a menina que fazia aulas também – havia errado um pequeno passo dando a vitória para mim.

Eu me sentia tão feliz que essa felicidade se estendeu por dias, e nem as provocações nojentas de Sasuke conseguiu destruir o meu bom humor.

E por falar nesse projeto de meliante, ele estava ao meu lado agora, vestido de calça social preta, camisa azul quadriculada de botões finalizada com uma gravata borboleta e sapatos sociais nos pés... e o seu cabelo estava incrivelmente penteado e jogado estrategicamente para o lado. Eu evitava olhar para ele, e estava comprimindo meus lábios para evitar não rir, pois ele estava muito engraçado naquela roupa, obra da minha linda e santa madrasta.

A briga em casa ainda era fresca em minha memória quando Sasuke apareceu vestido como se fosse vender drogas na esquina, roupas que para ele estava normal para um casamento no civil. Casamento de sua própria mãe.

Eu apenas me mantive sentadinha no sofá - arrumada no meu vestido cor creme com estampas de pequenas florezinhas cor-de-rosa e sapatilhas combinando – observando o desenrolar daquela briga. Papai tentava apaziguar a situação e acalmar a sua futura esposa que estava vermelha de tanto gritar com o filho, mas foi em vão.

Resumindo, ela pegou Sasuke pelo braço e o arrastou escada cima. Voltou quinze minutos depois com ele transformando num garoto que parecia que frequentava a igreja, um filhinho de mamãe, se não fosse a cara emburrada e o olhar como se quisesse pulverizar qualquer pessoa que passasse a sua frente.

Bom, posso dizer... que juro, juro de pés juntos que eu tentei, mais foi mais forte do que eu, e ignorando todos os alertas que minha consciência mandava para mim que o que estava para fazer pudesse ser perigoso para minha saúde, caí na gargalhada.

Eu ri tanto como nunca ri em minha vida, ri tanto que chorei e minha barrigada começou a doer. Sasuke estava terrivelmente engraçado e a cada palavrão que ele soltava, mais eu caía na risada, até chegar ao ponto de ele arrancar a bendita gravata borboleta e jogar no chão, ameaçando de não ir para canto nenhum. Mas Mikoto foi firme e o arrastou para fora de casa, depois que pegou a gravata no chão e obrigando ele a colocá-la novamente.

Meu pai me repreendeu, dizendo que não era aquela educação que ele havia me dado e que eu estava sendo grosseira, e que eu teria que pedir desculpas a Sasuke. Mas, como eu pediria desculpas a ele, se eu não conseguia olhar para ele e não rir? Garanto que fui o caminho todo prendendo o riso enquanto olhava a janela no banco de trás do carro, evitando olhar para ele que estava sentado ao meu lado, bufando a cada cinco segundos.

E assim depois de todo aquele transtorno, chegamos ao cartório. Mikoto estava linda naquele vestido branco de renda que batia abaixo dos joelhos com um decote discreto, e os cabelos presos num coque bem feito. Observava eles assinarem o livro de registro matrimonial e foi inevitável não sentir um friozinho no estômago por saber que a partir de hoje eu teria uma nova mãe e um "irmão mais novo" como brinde.