𝐐𝐔𝐀𝐓𝐓𝐑𝐎. il dolore che resta

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QUATRO

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QUATRO. a dor que permanece

KIARA PEDIU LICENÇA ANTES DE SAIR DA sala, claro. Era uma mulher de educação, mesmo quando parecia que sua cabeça ia explodir com as informações recebidas. Já não bastava que Santino tivesse feito de sua vida o inferno na Terra, ainda conseguiu fazer com que Kiara virasse líder da máfia a qual tinha raiva de escutar o nome.

De maneira alguma poderia se tornar parecida com Santino ou algum dos chefes das grandes máfias. Eles eram cruéis, pessoas terríveis, sem misericórdia e limites para sua violência desmedida. Kiara odiava como eles estavam sempre no comando de tudo. Como suas ordens eram acatadas sem oposição, por mais desumanas e absurdas que fossem.

— Eu o odeio tanto — murmurou sozinha — Espero que aproveite sua próxima vida no inferno. — Reclamou antes de ligar para o contato selecionado, esperando segundos até Leonardo atender — Ei, Leo.

Kiara! Como estão as coisas por aí?

— Tão agitadas quanto aí — se apoiou numa janela — Pretendo voltar amanhã para a cerimônia. Está tudo pronto?

Todos avisados e convidados, o espaço da família no velório, reservado, caixão comprado. Algo mais?

— Por mim, uma festa — riu sem humor — Está tudo ótimo. Obrigada por tudo.

Você me parece desanimada. E tenho certeza que não por causa de Santino. Qual o problema?

— Ele. Até depois de morto ele estraga minha vida — bufou de raiva — Ele morreu, Gianna também, não temos filhos. Seu império é meu. O que seria ótimo se não envolvesse o fato dele ser um chefe de máfia.

Ela o ouviu suspirar do outro lado. Era uma situação de merda, ambos tinham de admitir.

E só estava por começar.

Acho que você precisa de um tempo para pensar nisso. Fique bem, Kira. E me faça o favor de permanecer no “até que a morte nos separe”. — E desligou.

Originalmente, seu plano era de ficar no hotel e levar o corpo do marido para a Itália, mas naquela hora, tudo o que mais queria era andar por Nova York sem ter que se preocupar com segurança, sem se preocupar com nada, na verdade. Kiara só queria experimentar a liberdade que lhe fora tirada durante anos.

E foi exatamente isso o que fez.

A temperatura na rua estava amena, então ela colocou um casaco preto por cima do vestido que usava. Também pegou sua bolsa e saiu, sem rumo pela cidade.

Zanotti havia andado por meia hora, sem fazer sequer uma pausa para descansar os pés. Seus saltos haviam feito seu trabalho e ela sentia os calcanhares queimarem de dor. Era a primeira vez aquele dia que ela sentia algo.

Ela estava sentada num banco na frente de outro grande hotel, recuperando o fôlego para voltar ao Continental. Estava distraída, mas não era burra. Notou estar sendo seguida dez minutos antes de parar sua caminhada. No fundo, ela não ligava. Morrer não parecia tão ruim.

— Sra. D'Antonio? — ela seguiu a baixa voz até encontrar um morador de rua com as mãos estendidas e um anel de sinete que deveria custar dez mil dólares — Eu tenho um recado para a senhora.

Seu rosto se retorceu em uma careta.

— Com licença?

— O Rei tem uma surpresa para a senhora. Ele quer que veja pessoalmente e me pediu para ser seu guia.

— Rei? Isso é algum tipo de piada? Não é o meu melhor dia.

— O Baba Yaga, Sra. D'Antonio. Não é uma piada.

Agora ela estava pálida, assutada e ainda assim, curiosa.

Silenciosamente, ela assentiu. Levantou do banco e seguiu o homem por uma longa caminhada, incluindo becos escuros e assustadores pela cidade. Seus pés estavam em carne viva quando eles chegaram ao destino, mas ela não se importou. A curiosidade dentro de si crescia a cada segundo.

O destino em si era uma longa galeria subterrânea com um trono, um tapete e algumas armas espalhadas pelo chão. Uma das primeiras coisas que Kiara notou foi a presença de um cão. Um pitbull cinza que jazia parado do lado de uma espécie de maca improvisada.

— Talvez eu devesse me curvar diante da própria Kiara D'Antonio! — veio uma voz potente do homem sentado no "trono". Ele não estava ali há um segundo.

— Quem é você? E onde eu estou?

A luz acima do homem estava piscando, então Kiara não pôde vê-lo direito de início, mas quando ele mandou que ela chegasse mais perto, viu que ele estava coberto com algumas bandagens e haviam cortes em seu rosto e mãos. Ainda assim, ele carregava um sorriso cheio de arrogância no rosto.

— Você está diante do Rei Bowery, querida. Também conhecido como o rei do submundo criminoso de Nova York.

— Suponho que você tem uma cadeira na Alta Cúpula também.

— Muito bem suposto. As vezes eu entendo o porquê de Santino te escolher como esposa. Você não aparenta ser nada além de um rostinho bonito. Que está cega para a origem do dinheiro do marido — ele riu alto — Mas você não é. Você é inteligente e perspicaz.

— Por que eu estou aqui?

— Porque, querida, eu tenho um presente de boas vindas e uma proposta para você.

— "Boas vindas"? O senhor não acha mesmo que eu ficarei com a cadeira, acha?

— Veremos sobre isso. — A ironia era quase palpável em sua voz.

O Rei Bowery acenou para o rapaz que havia levado Kiara até ali, então ele a guiou até a maca ali presente. Em cima dela, viu um homem deitado. Estava coberto até o pescoço por uma grossa coberta e seu rosto estava ferido, mas ele dormia um sono que parecia tranquilo. Por baixo dos ferimentos e bandagens improvisadas, ele parecia muito bonito. Sua barba cercava um rosto forte e o cabelo liso e escuro lhe caía como uma moldura.

— Quem é esse?

— Esse é o homem que realizou o sonho de toda pessoa que já cruzou com Santino D'Antonio. A lenda no meio dos assassinos. Esse é o Baba Yaga, que pessoas tremem só de ouvir falar.

Kiara olhou novamente para o rosto que parecia pacífico, perdido em sonhos agradáveis.

— Esse é John Wick, o homem que matou seu marido. 

𝐀𝐃𝐃𝐈𝐂𝐓𝐄𝐃 𝐓𝐎 𝐘𝐎𝐔 ━ john wickWhere stories live. Discover now