Capítulo 33 - Inconsistente.

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Capítulo 33 — Inconsistente.

Terça-feira, 27 de setembro.

Carlos sentia-se completamente destruído de manhã. Não lembrava-se de se sentir tão acabado nem mesmo anos atrás após a ressaca que resultou na sua vontade de parar de beber. Seu corpo todo reclamava pela noite mal dormida. E apesar da sua vontade de continuar deitado, já tinha sua atenção tomada pelo cão.

Kid o chamava para que ele abrisse a porta do quintal, conseguindo fazer com que o dono obedecesse ao seu pedido. Carlos se levantou, sem nem se trocar e abriu a passagem para ele. Bocejava enquanto esperava o animal percorrer a área externa com euforia. Kid tinha feito suas necessidades e agora corria procurando por algum brinquedo.

O instrutor olhava para o animal tão alegre e se sentia melhor em saber que ao menos tinha um companheiro. Os afazeres que envolviam cuidar do bichinho poderiam preencher sua mente quando ficasse perturbado demais.

Ainda não tinha sequer escovado os dentes, limpava a cozinha e trocava as tigelas de água de Kid. Lavando os potes e os enchendo de volta com água fresca. E mal se preocupou com o seu café da manhã enquanto procurava algo para vestir para poder levar o cão para passear.

Ao sair de casa, seu olhar instintivamente olhou tudo ao redor procurando por alguém. Um alguém que havia deixado claro que não queria mais contato consigo e que naquela altura já estaria bem longe dali.

O passeio todo, foi Kid quem guiou o dono, que apenas se deixava ser levado enquanto segurava a guia. Carlos estava alheio aos acontecimentos e sequer notava onde pisava, por fim tropeçando de leve em uma raíz ressaltada de uma árvore ao chegarem no parque.

Fez questão de se sentar enquanto deixava o cão brincar livremente e passou a mão pelo rosto. Sentia que precisava acordar, com medo de que aqueles sentimentos ruins não lhe dessem sossego. Mal conseguia fazer um passeio sem pensar em Fernando, tudo lhe remetia a ele.

E sentado ali, naquele banco da praça, a coisa que mais queria, era vê-lo novamente. Era como se pudesse vê-lo ali, como no dia anterior. Queria poder ouvir a voz dele ou apenas saber se ele estava bem.

O que o confortava minimamente, era saber que o artista sabia se virar e que, provavelmente, ele sofreria menos por estar longe de quem não confiava nele. Era uma verdade dolorida, mas precisava aceitar.

♢♦♢

Eduardo se despedia de alguns dos alunos que acabavam o treino da manhã e olhava no relógio, ansioso para fazer uma pausa para o almoço. Subia as escadas lembrando-se da conversa que havia tido poucas horas atrás com Carlos. O amigo apareceu para treinar e falar do que resultou de seu jantar com Fernando.

Não era comum ver a pessoa mais animada que conhecia estar totalmente sem alegria para as coisas. Queria poder fazer algo por ele, mas sequer sabia como lidar com aquela situação. Eduardo lembrava-se de que tinha incentivado o amigo a se declarar e persistir em um possível relacionamento. Então sentia-se culpado porque jamais esperava que as coisas acabariam daquela forma. Tinha medo de que pudesse estragar tudo novamente.

Parou de andar por um instante quando viu o amigo se exercitando em uma das máquinas. Apenas para conferir se era mesmo Carlos que acrescentava anilhas na máquina que já se lembrava de ter visto ele usando mais cedo. Foi até ele, ainda surpreso e ganhou sua atenção ao comentar:

— Achei que tinha ido embora.

— Ah, daqui a pouco eu vou. — Carlos se sentou no equipamento, quase se posicionando ao ser chamado novamente.

Indigente [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora