Capítulo 28

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O dia após a decisão de Anahi foi intenso. Alfonso estava surpreso e confuso, mas também estava satisfeito, então não questionou. Se aproveitou da praticidade de Anahi para simplesmente aceitar sua decisão. Não pediu que ela especificasse o porquê, não perguntou o que aquilo significava, não quis esmiuçar os pormenores. Era a Anahi mãe se manifestando, não a esposa que o detestava. Mas, sobretudo, era a mulher que amava, então nada poderia mudar o sentimento de estar contente pela decisão que ela havia tomado. Ele a respeitaria de qualquer forma. A vida já havia sido suficientemente árdua até ali; mais uma vez ele só queria simplificá-la mais.

Ian, porém, não compartilhava do mesmo sentimento. Três dias depois e ele estava assistindo, com desgosto, uma movimentação de empregados pela casa arrumando as malas de Bella e Anahi.

- Eu preciso fazer isso pela minha filha - ela explicou, guardada no abraço fraco que ele lhe dava - Tenho certeza que você entende e também sei que toda essa situação tem exigido demais - ela o encarou, os olhos suplicantes - Eu prometo: é a primeira e última vez que eu e Alfonso viajamos juntos.

- Não está fazendo isso para aliviar uma culpa que não existe, está? - perguntou, cansado. Em parte, era. Mas havia uma outra parcela...

- Estou fazendo isso porque Alfonso me pediu, Bella insistiu e depois do que aconteceu eu... - ela se deu uma pausa, parecendo um pouco atrapalhada com as palavras - Tudo bem, não vamos falar em culpados por causa de uma fatalidade, já entendi - justificou, apressada - Mas eu acho que devo isso a ela. Ela merece saber tudo sobre ter uma família completa.

Ian não era um homem de ultimatos, não pensava que a vida tivesse de ser levada assim. Geralmente as pessoas mereciam segundas chances. Geralmente ele se dava o direito da tentativa.

Mas o risco também era parte importante do cenário e ele vinha, já há algum tempo, avaliando. E percebeu que a desvantagem em que se encontrava era desleal; o risco de perdas para ele era muito alto.

Ele nunca poderia culpá-la pelo que sentia ou pelo que evitava sentir; por ser simplesmente humana e ter lá suas fragilidades - as quais, de uns tempos para cá, jamais eram assumidas. Portanto, esperava que ela não pudesse culpá-lo ou acusá-lo pelo que sentia também. Nem sempre era possível ser o homem sensato e prático que costumava ser, principalmente quando se era levado ao limite. Então...

- Você precisa me dizer se isso implica retomar o casamento com Alfonso - disse, encarando-a. Firmemente Anahi respondeu:

- Temos o ponto de vista de que o nosso casamento já foi retomado, contra a minha vontade, a partir do momento que ele voltou. Isso também não é minha culpa.

- Mas também temos o ponto de vista de que não é de verdade - ele contra-argumentou, sério - Mantê-lo longe de você, sim, é sua responsabilidade.

- Não posso mantê-lo longe de mim, já conversamos sobre isso - Anahi alegou, concisa, e Ian ergueu uma sobrancelha, contrariado - Eu e ele temos uma filha, as pessoas esperam que estejamos juntos a maior parte do tempo. Quanto ao que há por trás dessa cortina, você acabou de mencionar: não é de verdade - justificou, calma, deslizando uma mão pela mandíbula tensa do advogado - Então que tal você esquecer Alfonso? - sugeriu, sorrindo - Aconteceu tudo tão rápido. Não tivemos tempo de nos despedir.

A nuvem de sedução de Anahi envolveu Ian e ele se desviou do foco que queria alcançar, sorrindo de volta para ela.

- Isso porque na última noite em que estive aqui, você me disse que não podíamos ficar juntos e todo aquele bla-bla-bla.

- Não pode reclamar do que você mesmo me ensinou - ela retrucou, divertida - Sabe, também é difícil para mim, mas hoje não tem problema.

Ian olhou ao redor de soslaio, avaliando a situação.

Depois do InvernoWhere stories live. Discover now