Parte III

1.4K 232 542
                                    

As coisas começaram a mudar a partir da última conversa que tiveram e, desde então, as mudanças não pararam. Louis notava como Harry às vezes parecia estar guardando mais informações para si, mas acabava por achar ser fruto da sua imaginação. Algo criado e alimentado unicamente por seus medos, aquele lado inquieto que jurava ser incapaz de confiar mais uma vez.

Harry já conseguia cuidar de si mesmo, tão bem que certa vez o marujo acidentalmente entrou no banheiro sem checar se o tritão estava na cama. Apesar da nudez não ser novidade entre eles, a visão de suas costas era algo novo. O olhar de Louis não conseguiu desviar, percorrendo um caminho pelo seu torso e cintura até sua bunda e coxas.

O marujo deu passos para trás e se retirou quase imediatamente, o olhar que queimou em suas costas não passou despercebido para Harry e a visão que teve pelo espelho. Ele guardou essa informação, confusa a princípio mas que passou a fazer sentido conforme testava a temperatura das águas do outro.

Nesse momento, Louis pensa que é uma questão de tempo até que entre em uma crise já que o tritão sempre dá um jeito de acabar com as mãos em sua cintura. Em alguns dias, ele tropeça, em outros ele inventa algo sobre seu equilíbrio. O ponto é: Harry gostava de observar como Louis se comportava nesses momentos: o marujo primeiro fica nervoso e morde o interior dos lábios, depois, encara a forma como sua mão se encaixa e segura ali de forma áspera. Todos os anos em mar correm por seus pensamentos, porque nunca foi acostumado a contato físico além de abraços amigáveis.

No entanto, a brincadeira perde a graça num certo dia, quando em um de seus testes se volta contra Harry. Nesse dia ele considera estar ficando louco pela saudade que sentia do mar, que talvez seus sentimentos estejam descontrolados e que um pouco de água salgada recuperaria sua sanidade.

Eles estão um pouco quentes, porque Louis estava ensinando a Harry uma das danças comuns nos festivais e, nessa situação, eles já se encontravam próximos. O único porém era: não satisfeito, o tritão resolveu colar seus corpos, acabando com a distância.

Há uma certa adrenalina e excitação que somente a bebida costumava ser capaz de fornecer para Louis, e ele a sente naquele momento quando reforça o aperto em reflexo. A ponta de seus dedos se aprofunda levemente no cós da calça que Harry veste, um arrepio percorrendo os dois corpos.

Quando Harry se afasta, reagindo como se tivesse recebido um choque e correndo imediatamente para o banheiro. O tritão percebe que nunca havia sentido isso antes e, mais assustador ainda, que queria sentir de novo.

Não estando acostumado com as partes baixas de um corpo humano, Harry se sente incomodado com a reação delas ao momento anterior, mas a confusão é substituída por algo bom quando o toque é feito. Ele se coloca contra a porta de madeira e encara sua mão, ponderando se está fazendo aquilo corretamente.

Era uma exploração estranha visto que Louis estava logo no outro cômodo ao mesmo tempo que intensa pelo mesmo motivo. Por isso, Harry rapidamente se sentiu cruzando alguma barreira e encheu a banheira de água fria para se distrair.

A sensação da água levou embora o resquício dos toques que compartilhou minutos atrás, mas levou a mente do tritão para outro tipo de íntimo. Ele precisa que Louis converse com ele, que confirme suas suspeitas.

Há uma mesa entre eles e Harry tem dificuldade em guiar a conversa quando estão sentados dividindo um pão. Nas últimas horas não tocaram no motivo do tritão não ter ido embora, como se ele fosse um convidado qualquer, ficando ainda mais difícil retomar o assunto que um dia iniciaram.

— Você pode continuar me contando sobre a perna? — Os dois olham a madeira involuntariamente, com Louis reclamando mentalmente por ter escolhido água e não álcool justo no dia de hoje, sem saber que Harry pensa o contrário no mesmo momento, está grato em saber que o outro se abrirá sem empurrões.

Hiraeth [l.s]Where stories live. Discover now