Parte IV

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— O que quis dizer com isso? — Harry pergunta. As flores em seu cabelo ganham peso junto de seu significado. — Você apenas colheu a primeira flor que avistou, certo?

O marujo larga o que fazia, se vira para o tritão e observa seu rosto em agonia. O rosto de quem implora para ouvir que aconteceu um engano, porque não sabe o que fazer se não for assim. É dessa forma que Harry vê essa situação, está aterrorizado com a possibilidade de ouvir uma mentira, então prefere que o curativo seja arrancado o mais rápido possível.

Não é isso que acontece.

— Eu fui cuidadoso ao escolher essa flor especificamente. — Louis responde caminhando lentamente em direção ao outro. Suas mãos ainda formigam por terem ficado tempo demais no corpo de Harry durante a noite passada, agora se contenta com seus bolsos.

O de olhos verdes tem tantas perguntas, mas começa com: — Por que?

— Torci para que a flor te dissesse tudo. — Louis dá uma pequena risada, realmente não sabia como dizer o que sentia de outra forma, mas estava disposto a tentar. — Conheci muitas pessoas na vida, Harry. — Foi como escolheu começar. Agora mais próximo do tritão, que pela primeira vez se via sem palavras — Nenhuma delas dividia a mesma quantidade de amor pelo mar que eu, então sempre achei que estava sozinho nessa. Já você, nem precisou dizer muito para que eu percebesse em sua voz a mesma paixão que move a minha.

— Mas— Harry queria fazer objeções enquanto podia, talvez impedir Louis de dizer mais sem querer. Mas o marujo logo encostou gentilmente a ponta dos dedos em sua boca, interrompendo-o.

— Não faz ideia do quanto me esforcei para não gostar de você, para te ver como vilão, e ontem parei de me esforçar um pouco. Passei a noite pensando sobre como isso me levou direto aos seus braços e como pareceu tão certo. É como se algo me puxasse até você, e no momento que eu parei de resistir foi que finalmente lembrei o gosto da liberdade. — Louis tenta construir um discurso no meio de seus pensamentos desordenados e sentimentos que ainda tentava entender. Por um segundo, para, balança a cabeça e diz o que prevalece. — O que quero dizer é que desisti de tentar, porque de alguma forma você tem um pedaço da minha casa consigo, Harry.

O pirata fechou os olhos por medo assim que disse a última palavra. Nada foi ouvido em resposta.

Mas, ao criar coragem para encarar o rosto de Harry novamente, viu seus olhos d'água e seu corpo agora usando a parede de apoio como necessidade. A lágrima que segurava escapou, carregava toda a felicidade por tudo que acabara de ouvir.

Louis encarou o caminho que ela traçava, descendo lentamente pela bochecha do tritão. A chance de recuperar sua vida logo a frente.

Ele tomou a decisão certa. Ou pelo menos foi o que disse a si mesmo enquanto alcançava o primeiro frasco vazio em cima da mesa e, quando Harry lutou por se dar conta do que aconteceria, usou o peso de seu corpo para o prender na parede.

Os dentes afiados estranhamente não foram vistos porque o tritão ainda se encontrava imerso com a confiança dos segundos anteriores. Quase se engasgou com a realização de tudo que mais temia, o único que tinha o suficiente dele para poder quebrar seu coração acaba de fazê-lo.

O barulho da lágrima entrando pelo frasco repetiu traidor traidor traidor traidor.

— Pirata. — Harry diz, porque deveria ter previsto o acontecimento. Como pôde ser tão estupido? Devia ter visto que o marujo mexeu suas peças cuidadosamente naquele jogo.

Louis se afasta. Nos primeiros segundos torce para que Harry veja a verdade atrás do movimento dele, e diga que entende seus motivos.. Mas não acontece.

Hiraeth [l.s]Kde žijí příběhy. Začni objevovat