Keigo, Kei, Hawks

118 25 1
                                    

Keigo olhava para a mãe que estava quase irreconhecível. Ela havia perdido muito peso e sua pele antes bonita e vistosa agora era macilenta, porém os olhos dourados continuavam tão vazios quanto sempre.

Ela usava uma jaqueta moletom com strass roxo, prateado e dourado, um vestido apertado sobre os ossos destacando as costelas que acabava um palmo acima dos joelhos pontiagudos. Parecia uma daquelas supermodelos deslumbrantes, desnutridas e viciadas.

Agora ele entendia que a doença da mãe era causada pelas “vitaminas” que ela tomava e não pela falta delas. Viu a mãe pela última vez há dois anos, mas ela agia como se tivessem se encontrado ontem.

— Oi, meu amor. — Ela esticou a mão ossuda para ele e acariciou a sua bochecha. Tinha o perfume de laranja e remédios. — Você está tão bonito. Ainda tem o presente que a mamãe te deu?

Keigo apertou mais a pelúcia e meneou concordando.

— O brinquedo ainda está novinho. Você cuidou bem dele, não foi? — Ela segurou em seus ombros.

O menino acenou concordando novamente. Queria que ela tirasse as mãos de si, mas não sabia o motivo. Ela lhe apertava muito forte e Keigo sentia os dedos ossudos e frios através da roupa.

— Sentiu falta da mamãe, Keigo? — ela perguntou animada. Sorria nervosa e umedecia os lábios de quinze em quinze segundos.

Keigo não sabia o que responder, sentiu falta dela antes, mas não mais. Apenas se encolheu agarrado na pelúcia.

— Sentiu? — O sorriso dela congelou no rosto e os dedos lhe apertaram mais.

Ficou calado. Ela lhe apertou mais, o sorriso bem aperto na cara.

— Sentiu? Responda para a mamãe. — As unhas entravam na sua pele.

Uma mão pousou sobre a dela.

— Chega, Tomie. Você está assustando ele.

Nagant estava logo atrás do menino, seu longo cabelo azul com mechas rosas amarrado em um alto rabo de cavalo contrastava com o terno preto que usava.

— Como posso estar assustando ele? Ele é o meu filho. — Tomie com raiva encarou a mulher, mas logo mudou a expressão para carinhosa ao voltar o olhar para o filho. — Diga que sentiu falta da mamãe, Keigo.

Ele só queria sair dali, olhou para Nagant que ainda segurava o braço da sua mãe. Tomie ficou ainda mais irritada e sacolejou o menino com tamanha força que Keigo não imaginava que ela possuía.

— Diga!

— Chega. — Nagant com um movimento do pulso arrancou a mão direita da mulher do ombro do menino.

Keigo não chorou com a violência repentina da mãe, Nagant achou isso triste demais.

Com raiva, Tomie empurrou o menino para longe. Ele não caiu pois a outra mulher o apoiou.

— Aposto que prefere passar o tempo com o pai! — Tomie cuspiu cheia de desprezo. — Ele largou você, sabia?!

— Não aja como se não tivesse abandonado ele também. — Nagant falou casualmente. — E não faça um escândalo no restaurante, por favor.

— Gostou do tempo que passou com o pai, Keigo? — Os olhos dourados estavam esbugalhados. — É bom ter aproveitado porque a próxima vez que for ver ele vai ser em um caixão!

Nagant deu uns tapinhas nas costas de Kei para ele sentar numa das cadeiras da sala privada do restaurante. O menino conseguiu escalar a cadeira e colocar a pelúcia sentada no seu colo.

O Rei E O PassarinhoWhere stories live. Discover now