Investigação

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Enji abriu o primeiro envelope de papel pardo, não confiava que o detetive lhe passasse as imagens por arquivos de mídia e assim evitava qualquer contato a mais com o homem. Já era suficiente que ele soubesse seu número de telefone. Eram dois envelopes, um para cada investigado: Yagi e Kei.

Abriu o de Yagi, estava repleto de fotos do sósia magricela, cópias de exames que mostravam o avanço das metástases e o veredito final que custou uma pequena fortuna a Enji: a amostra de DNA do magricela cruzada com as informações da polícia eram totalmente compatíveis com a de Yagi. Eles são a mesma possível. Impossível.

Enji jogou os papéis para longe, suas mãos tremiam sem saber de ódio, frustração ou desalento. Yagi morria e por isso saiu dos negócios, saia invicto sem sequer Enji ter chegado ao menos uma vez perto de derrubá-lo. O segundo envelope no rompante de raiva de Enji também foi jogado longe e seu conteúdo esparramado no chão perto da cadeira do escritório. Enji ainda estava de pé respirando rápido quando notou que pisou nas fotos.

Seu sapato estava sobre o  rosto sorridente de Kei, afastou o pé e viu que Yagi, o magricela, estava ao seu lado também sorrindo meio feliz meio doente. Enji pegou o maço de fotografias e via uma a uma: Kei com a mão nas costas do outro loiro; Yagi sorrindo enquanto Kei o fitava com um canudo na boca; os dois lado a lado entrando em uma casa; Kei saindo sozinho com a aparência bagunçada; focos no pescoço marcado e no pulso livre do relógio que usava há algumas horas. As fotos se repetiam por dias, algumas eram só daquela cafeteria que Yagi comprou, outras eram dos dois indo a casa dele.

Há quanto tempo isso acontecia? O moleque era uma putinha. Esperava que ele se envolvesse com outras pessoas… outras pessoas? Não, não, Enji não se envolveu com ele, foi só uma noite nada a mais. Mas Yagi? Justo o cara que era um símbolo ter esse tipo de relacionamento e com alguém tão mais novo? Era quase impossível conceber.

Então era assim que o moleque agia: saía com homens bem mais velhos, porém para quê? Por qual motivo? É uma espécie de jogo para ele? É divertido bagunçar a vida dos outros e a cabeça? Não, Enji estava concentrado.

As fotos não acabaram. Ele continuava a analisá-las. Kei com uma blusa esticada encostado na varanda, a blusa que emprestou, seus olhos dourados distantes em algum ponto fora da imagem. As marcas roxas desbotando na extensão pálida do pescoço assim como nas pernas. Eram os beijos de Enji que agora nas outras fotos foram substituídos pelos de Yagi. Os dois viviam sorridentes um para o outro, o caco de homem claramente apaixonado por trás dos dentes amarelados e a postura recurvada enquanto o moleque o fitava da mesma forma que fitava Enji.

Kei era perigoso. Ele queria algo, Enji somente não sabia o quê. Se Yagi realmente morreria, havia uma possibilidade no que Kei estaria interessado… mas para isso precisaria de uma confirmação.

Enji discou o número no celular, não precisou esperar muito para o homem lhe atender e então foi direto ao ponto:

— Quero todo o histórico do garoto.

Desligou a chamada. Descobriria tudo o que o garoto queria custe o que custar.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora