Estresse

535 67 27
                                    

Enji não aguentava mais aquele sonho, especificamente aquele sonho, o que só tinha quando estava longe daquele, acordava com a frente da cueca suja e arfando. Suas noites eram horríveis, demorava para dormir e acordava cansado na madrugada, quando não, acordava mau-humorado de manhã. Há quase duas semanas não via o moleque desde a recaída no tapete da sala do apartamento. Enji abriu os olhos e lá estava Kei deitado sobre si completamente pelado e imóvel, o corpo pálido manchado de vermelho do aperto de seus dedos na cintura principalmente.

Duas semanas e nenhuma ligação do garoto ou mensagem, Enji devia se sentir aliviado com tanto silêncio, porém lhe preocupava.

— Isso não vai acontecer de novo. — disse ao se levantar e vestir as roupas. Suas costas doíam do tapete e não podia culpar a bebida. Onde o moleque aprendeu tais truques com a boca? Foi o que se perguntou e o que o fez atentar que dessa vez usaram camisinha e elas estavam amarradas espalhadas pelo chão.

Kei se espreguiçou esticando os braços e contorcendo os dedos dos pés, ele tinha pés bonitos e o movimento foi mais bonito ainda. Enji lembrou de como segurou aquele tornozelo na noite anterior, a mão aprisionando-o completamente e dos gemidos que se seguiram tanto de Kei quanto de Enji.

— Volte quando quiser. — Kei disse com um sorriso preguiçoso após bocejar. Enji controlou o seu próprio bocejo.

Perguntar o que ele queria não adiantaria, Kei responderia em círculos nada de útil e metade da sua intenção já foi revelada, a outra metade era um mistério.

— Eu sou casado. — Enji falou e sentiu a língua estranha com a frase, nunca a usou, essa foi a primeira vez. Nunca teve um caso também. Nunca se interessou por nada além do topo.

Kei ficou em silêncio por alguns segundos, não porque a frase o impactou ou porque ele revia sua conduta, estava apenas espantando o sono e então como se apenas o cumprimentasse com um bom dia falou:

— Eu não. — Despretensioso.

O moleque não tinha moral alguma, se fez isso com ele, fazia com qualquer um. Kei não se importou com um Enji de costas para ele abotoando a blusa e o próprio sabia disso, tanto que nem olhou para trás, para o Kei que voltava a se alinhar para dormir de novo no tapete. Enji foi embora e quando fechava a porta viu um Kei dormindo contente.

Agora vinham os sonhos na sua casa vazia, os filhos foram embora: Toya há muito morto num incêndio, Fuyumi e Natsuo com a própria vida após serem fracassos e Shoto na escola. A esposa, bom, há anos ela não estava ali também e quando estava ficavam separados sem se ver, a casa enorme garantia isso. Nenhum dos dois tinha interesse em se ver, Rei principalmente.

Olhou para a aliança sobre a cômoda, em todos esses anos foi somente um anel para demonstrar o status e as mulheres lhe deixarem em paz, hoje é o círculo dourado que Kei pôs entre os dentes. Lembrou da língua quente dele entre seus dedos, a sucção e os olhos cor de ouro assim como o anel. Eles e a língua assombravam seu sono sem imagens, sentia a quentura e umidade da língua e os olhos observando-o de algum lugar. Sentia o corpo dele contorcendo embaixo do seu e ouvia a voz sussurrando seu nome. Não via nada. Nunca via nada nos seus sonhos. Acordava com a frase em mente: "Volte quando quiser". Enji voltaria nunca mais.

Kei fumava um cigarro quando Enji chegou, não esperava que o garoto fumasse, no entanto, mesmo assim, não foi uma surpresa. Kei não tinha nenhuma nos olhos que se apertaram levemente no sorriso:

— Oi, grandão. — O cigarro ainda entre os dedos.

Enji não disse nada, não aguentava mais sonhar, entrou no apartamento, Kei não fez nada para apagar o cigarro, lembrou quando descobriu que Natsuo fumava na escola, lhe deu uma surra e o garoto passou a fumar só no quarto.

— E então? — Kei falou. — Vai ser aqui mesmo ou no quarto? — Apagou a ponta do cigarro no cinzeiro sobre o balcão americano.

— No quarto. — Enji foi direto e complementou: — Sem beijos.

Kei fingiu ficar cabisbaixo.

— Posso escovar meus dentes, sabia? Tenho que ir ao banheiro de qualquer forma.

— Sem beijos. — Enji deu a palavra final. Aquilo, tudo aquilo, era apenas para aliviar o estresse. Nada a mais.

Gente! Vai ter o especial de Dia Dos Namorados! Não se preocupem, porém vai atrasar. Obrigado por lerem a fic!

Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoWhere stories live. Discover now