Depois do Acaso

Capítulo 21

H E L E N A
🇧🇷

— Edward pediu você em casamento? — quase grito.

— Não foi como você deve estar imaginando, soou mais no estilo de uma proposta. Ele está tentando me ajudar com meu problema com o visto. — minha amiga diz do outro lado da linha.

— Ele é um homem incrível, mas, você sabe que não precisa fazer isso se não quiser, podemos arrumar outro jeito.

— É, eu sei. — Sara suspira do outro lado da linha. — Marquei a renovação para a semana que vem...

Enquanto ouço ela falar sobre sua ida repentina de novo para o Brasil, estou dirigindo em direção ao escritório. Mesmo sendo sábado decidi passar lá para pegar uns papéis essenciais de um caso que estou resolvendo nos últimos dias. A semana foi corrida.
Peter tem resolvido seus próprios problemas, então não o vejo há quatro dias. Confesso que estou com saudades e louca de curiosidade para saber o que houve em relação a mãe da sua ex-namorada. Espero que não seja ruim, o coitado estava tão apreensivo.

Recebi uma mensagem sua mais cedo, enquanto tomava o café da manhã com o Noah, espero que consiga mesmo vir até minha casa e contar tudo o que aconteceu. Temos um almoço marcado para amanhã na casa da sua irmã, e não quero que o clima fique pesado depois que ele descobrir seja lá o que for.

Falar em Noah, preciso passar na papelaria antes de ir para casa. Tenho que repor alguns materiais que a escola pediu, até imprimi a pequena lista que me enviaram por e-mail ontem à noite. Deixei meu filho em casa arrumando o seu quarto de trens, uma ótima distração enquanto resolvo algumas pendências na rua. Cida ficou preparando uma comidinha para mais tarde — confesso que tenho estado mais faminta desde que descobri minha gravidez. Tenho até medo de olhar a balança, com certeza ganhei alguns quilinhos extras.

— Falo com você mais tarde, Lena. Que tal tomarmos um café... Quer dizer, um suco. — Sara dá uma risadinha.

— Claro! Vai lá em casa hoje. — nos despedimos de vez, e ela desliga.

Estaciono o carro e sigo rapidamente para a entrada do edifício, me livrando do vento gélido. O prédio vazio, exceto pelo segurança na porta do elevador, faz com que tudo pareça meio mórbido. Ele me cumprimenta pelo nome e um gesto de cabeça, retribuo, entrando na caixa metálica e subindo quatro andares até a minha sala. Tenho tanto orgulho do que construí ao longo dos anos, sinto como se fosse a primeira vez sempre que venho aqui. É mais fácil de admirar quando não tem muita gente, apesar de amar ver tudo isso lotado.

Passo meia hora procurando pelos papéis, e mais não sei quanto tempo resolvendo coisas. Não pretendia trabalhar aqui hoje, mas foi inevitável; um ponto foi levando ao outro e quando percebi já tinha se passado mais de duas horas de relógio. Estou faminta e não vejo a hora de devorar algo bem delicioso sem precisar vomitar tudo depois. Basicamente é tudo que está acontecendo na minha vida: comer, dormir, vomitar e trabalhar. Estou muito ansiosa pela próxima consulta, preciso urgentemente de algum remédio para enjôo.

Guardo minhas coisas na bolsa e pego meu casaco pendurado na cadeira, decidindo ir até o restaurante italiano que fica a dois quarteirões daqui. Preciso de uma massa com muito molho de tomate e manjericão no momento. Checo o telefone mais uma vez antes de ir, mas não encontro nenhuma mensagem do Peter.

Oi. Como foi na casa da Jess? — envio antes de sair do elevador.

— Até mais, Kennedy. — despeço-me do segurança.

— Tenha um bom fim de semana, dra. Fernandes.

Começou uma garoa que não percebi enquanto fiquei no escritório, por isso corro até meu carro para me livrar dos pingos finos e gelados que atingem meu rosto. Eu amo o inverno, mas para ficar em casa debaixo dos lençóis tomando uma boa caneca de chocolate quente com o Noah. Bem, acho que estou mesmo com fome. Dirijo o mais rápido que posso para o restaurante, tentando a todo momento tomar cuidado com a estrada escorregadia, e assim que estaciono meu celular começa a tocar dentro da bolsa. Nem um minuto de paz para comer! Olho a tela e o nome do Peter está piscando.