37. Mimar Muito

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Primeiro dia de aula é sempre uma bosta. E será sempre, mas estranhamente eu estava animada, pois pensava que com Oha seria diferente. Pelo menos era o que eu pensava até minha decepção aparecer exatamente ali. Ele chegou acompanhado da perfeitinha da Gia. A sensação? Raiva e puro ódio.

Mesmo assim não consegui ficar parada quando Guta decidiu atormentá-lo. Depois? Não suportei ficar por ali sabendo que o meu namorado estava na porta ao lado da minha, no corredor ao lado do meu, e eu não queria vê-lo. Então eu saí, a princípio sem rumo e quando dei por mim tinha a minha companheira de todas as horas (uma garrafa de vinho tinto) e estava no portão da casa dos avós. Coragem para beber? Nenhuma. Vontade de chorar? Toda. Mas algo me impedia. Talvez o facto de não ter razão, eu não tenho certeza.

Quando Ohano chegou eu quis e realmente até tentei ser fria mas o resultado era apenas uma garota que se encontrava perdida dentro de si própria com a mistura de sentimentos mais dura que havia: amor e insegurança. Assim que ele disse que Gia já sabia de nós, eu me deixei levar pela emoção mas no fundo eu sabia que a batalha entre eu e ela havia apenas começado. A diferença entre nós é que para mim, Ohano não fazia parte desse jogo.

Voltamos para casa conversando sobre bobeiras e assim que ele desceu do carro com a sua mochila na mão e eu saltei para cima dele toda feliz eu tive a certeza que não importavam os problemas que viriam e nem os nomes desses problemas, pois eu ia ser dele eternamente.

Mas o que não esperávamos era entrar na casa e encontrar uma das piores visões possíveis, que tivesse poder de apertar nossos corações com tanta tristeza. Vicky estava chorando e Gia segurando suas mãos, quando Ohano olhou para mim triste e sussurrou:

- Eu acho melhor ires sozinha até a Bela Flor, deixa que eu resolvo isso. - ali eu entendi o que tinha acontecido... ela havia contado tudo para Vicky sobre a gravidez.

- Juntos em todos os momentos, bons e maus, lembras-te ? - pergunto agarrando suas mãos e levando-o para frente do sofá onde Vicky se encontrava. Oha sentou-se ao lado da mãe e eu sentei na frente deles encima da mesinha da sala.

- Porque não me contaram? - ela pergunta e Gia toma por direito passar a frente de Ohano.

- Com certeza essa daí não deixou. - diz e eu rio.

- Eu queria ter certeza. Um filho não é brinquedo mãe e eu não queria alarmar-te. - Ohano diz cabisbaixo e eu ergo sua cabeça com as mãos encorajando-o.

- Alarmar Ohano? Um filho! Eu deveria ser a primeira a saber! - diz Vitória se levantando furiosa.

- Sem provas mãe? - Ohano eleva a voz junto com Vítoria.

- Sem provas? A Gia diz que fez o teste a mais de 2semanas. - ela diz e Gia entrega o teste para Ohano que me olha assustado. E em um simples abanar de cabeça eu entendo tudo.

- E por que não mostras-te? - pergunto contendo a minha raiva.

- Não interessa Laura. A questão é porque Ohano não me disse. - Vicky diz ainda triste e desapontada. - Não confias mais em mim?

- Não é isso mãe. - Ohano diz passando a mão em seus cabelos.

- Todo mundo tem seus segredos Vitória. E cada um sabe a hora certa para revelá-los. Não se trata de confiança e sim de certezas. - digo e vejo seus olhos desapontados me darem razão enquanto Gia me observava com raiva.

- Ohano eu preciso falar contigo. - Gia diz e me olha. - A sós.

- Antes Gia, a conversa vai ser comigo. - digo agarrando seus braços e levo-a até o quarto de Ohano

- Pelo visto já conheces a casa toda, uma puta realmente não perde tempo. - ela diz tentando me provocar.

- Porquê contaste pra Vitória? - pergunto firme.

- Sei lá. Talvez por que eu quis? - diz sorrindo sínica - É assim que dizes, não é?

- Gia eu não quero gritar contigo. Então diz que pohha fizeste! - minha voz sai alta e dura assustando-a.

- Tu pensas que me conheces, Laura. Mas ambas sabemos que não. Eu sou mais esperta do que tu. - diz simples e em segundos entendo onde ela quer chegar.

- Mas é claro. Achas mesmo que Vitória irá obrigar Ohano a ficar contigo porque estás grávida? - digo e desato-me a rir - Em que mundo tu vives Gia?

- No mesmo que tu. Onde cada um luta por si, doa a quem doer. - ela diz firme e minha vontade é de bate-la mas lembro-me que dentro dela tem um pedacinho do meu amor e só por isso eu não o faço.

- Saiba Gia, que não doeu em mim. E sim em Ohano. - digo chegando bem próxima a ela e vejo que isso afeta-a - E que se isso daqui for mentira eu te quebro, pior do que da última vez e dessa vez Thomas não vai me mandar parar. - digo firme e fria saindo logo do quarto.

Quando chego na sala Ohano está sozinho chorando como uma criança.

- Eu...eu não queria...- Gia tenta dizer assim que vê o estado dele mas ele a olha com o mesmo olhar que me olhou quando me viu com Guta e eu seguro sua mão.

- Saia Gia. Apenas saia. - ele diz firme enquanto Gia corre para fora da casa. - Ela não me ama mais...- sua dor é visível na sua voz e nos seus olhos.

Tomo seu rosto em minhas mãos e como da última vez vou beijando cada parte dele.

- Ela sempre te amará, meu amor. - digo beijando a ponta do seu nariz. - Só está triste por não ter sido a primeira a saber...mas vai passar, tudo passa.

- E se isso não acontecer? - ele pergunta agora de olhos abertos observando-me.

- Prometa uma coisa para mim? - digo e ele acente - Não faça esse jogo de "e se". Isso só vai te destruir mais ainda. - digo acariciando seu rosto - Oha nada nem ninguém no mundo vai te amar mais do que a Vitória, ela só precisa de tempo para assimilar tudo isto. E eu estarei aqui. Sempre. Para os 3.

- Tu vais mesmo ficar comigo assim? - pergunta referindo-se a criança e eu sorrio.

- Eu vou mimar muito. Sabes porquê? - pergunto e ele nega com a cabeça. - Porque não importa a Gia, essa criança é um pedacinho teu, e só por isso já tem tudo de mim.

- Eu te amo. - ele diz ainda chorando e beijo sua boca.

- Eu te amo. E estou atrasada. - digo triste por ter de deixá-lo. Mesmo relutante deixo-o sozinho deitado no sofá e saio da casa.

Sem pensar duas vezes sigo até casa de Mila, pois sei que encontrarei Vitória lá e bato na porta.

- Quero falar com Vitória. - digo rápida já entrando e encontro ela sentada no sofá ainda chorona. - O teu filho não tem culpa de ter omitido a gravidez da Gia. Fui eu que pedi e achei melhor assim para termos a certeza. Ohano está em casa achando que não o amas mais e a ponto de explodir de tristeza e tu estás aqui do mesmo jeito, acho melhor vocês conversarem com calma agora que a verdade veio a tona.

- Ohano ficou tão mal assim? - perguntam juntas e eu só olho para Vitória.

- Às vezes não sei se notas o quanto ele te ama. Ele precisa de ti Vicky, mesmo que tenha errado, ele precisa de ti. - digo firme tentando não deixar que a tristeza me invada.

- E vocês? Vais ficar com ele mesmo com um filho de outra? - pergunta Mila e de novo eu sorrio.

- A Gia pode ser mãe dessa criança mas eu não estarei aqui por ela e sim pela criança. Com ou sem Ohano, como sempre estive por todas as outras. - digo e a encaro. - Uma criança não escolhe em que família estar, não achas?

- Eu vou ver o meu filho. - Vicky diz saindo apressada para casa e Mila me olha indecifrável.

- Porque mentiste? - pergunta ela de braços cruzados impedindo minha passagem

- Porque o faria, se não fosse por amor? - pergunto deixando-a estática em seu lugar e saio da casa extremamente atrasada mas com o coração mais tranquilo.

"E se..."

OhauraOnde histórias criam vida. Descubra agora