Capítulo 5 : crise de meia idade

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Jonathan me entregou um capacete e fez um sinal com a cabeça para que eu fosse atrás dele. Ele usava um capacete preto, enquanto o meu estava cheio de figuras e adesivos. Ele ligou Suzi e o ronco do motor ecoou por todo o estacionamento.

Um frio percorreu minha espinha e meu corpo todo. Suzi possuía LEDs roxas embaixo dela, o que dava um charme a mais.

- Se segura firme - disse Jonathan sem olhar para trás. Passei meus braços em volta de sua cintura e colei nossos corpos. Ele deu um arranque e saiu cantando pneu.

Entramos em uma estrada deserta e afastada da cidade. Ele estava em alta velocidade, mas com o tempo fui me acostumando com a adrenalina. Eu me sentia livre e estiquei a mão, sentindo o vento veloz passar entre meus dedos.

De repente, senti Jonathan reduzir a velocidade e me dei conta de que estávamos no meio do nada. Ele parou e eu desci da moto.

Confesso que estava com medo de ser abandonada por ele ali, naquela estrada afastada de tudo.

Ele se sentou no passeio e eu o segui, sentando ao seu lado. Ele olhava para o nada e decidi quebrar o silêncio entre nós.

-Não sei como você ainda está vivo ou como não foi pego pela polícia- comentei.

- Mágica... um mágico nunca revela seus segredos- respondeu Jonathan, sorrindo. Nunca tinha visto alguém sorrir tanto quanto ele.

- Pensei que sua magia fosse ter um pai influente - provoquei.

Ele deu um sorriso triste - Merda... está quase na hora da gente voltar a ser inimigos mortais - disse ele.

Achei graça do seu dramatismo e continuamos olhando para o céu. Sem querer, as palavras escaparam da minha boca.

- Com quantas pessoas você fez esse truque? A moto, esse passeio...- perguntei.

Jonathan continuou olhando para Suzi antes de responder - Nenhuma, você é a primeira

Me senti estúpida e corada, mas logo me acabei de rir e ele apenas sorriu para mim.

Continuamos conversando por um tempo, mas logo percebi que era hora de encarar o sermão de Lucas. Depois do surto dele no estacionamento, não o vi mais, mas sabia que ele estava me esperando em casa.

Pedi para Jonathan me deixar a um quarteirão da minha casa, me despedi dele e segui em direção a minha casa.

O dia estava lindo e, ao chegar em casa, me deparei com minha mãe usando o avental que Lucas estava usando mais cedo.

- Bom dia, filha - disse ela. Era estranho vê-la em casa àquela hora, mas não pude conter minha alegria ao vê-la.

Conversei com minha mãe enquanto ela cozinhava, contando como foi "meu dia na escola" - obviamente mentindo, não contei sobre o passeio de moto e nem sobre Jonathan.

Fui para o meu quarto tomar banho, apreensiva. Lucas não estava lá e isso me preocupou um pouco. Joguei minha mochila na cama e entrei no banheiro para tomar um banho quente.

Enquanto estava lá, só conseguia pensar nas conversas com Jonathan. Coloquei uma roupa larga e confortável e, quando voltei para o quarto, Lucas entrou. Ele não me olhava nos olhos e isso me irritou um pouco. Me sentei na cama e fiquei observando-o.

- Hoje tive um dia difícil...- começou ele, mas logo parou.

As vezes, Lucas desabafava como se tivesse uma vida paralela à minha, mas nunca falava claramente. Às vezes, parecia falar em enigmas e eu nunca o compreendi completamente.

- Fui idiota de te deixar sozinha. Não confio nele... confio em você, mas ver vocês...- continuou ele, andando de um lado para o outro. Seus cabelos começaram a perder a cor gradativamente, como se fosse mágica.

Seus olhos estavam mais escuros, como no começo do dia. Ele não gritava, mas seu tom de voz era áspero e seco. Eu estava imóvel, sentada na beira da cama, em silêncio. Ele se ajoelhou perto de mim e parecia nervoso, mordendo seu lábio inferior, era como se uma parte vulnerável dele estivesse aparecendo.

Sem conseguir falar, apenas passei a mão em seus cabelos que agora estavam brancos.

- Se olha no espelho, Lucas - sugeri.

Ele me olhou sem entender e saiu resmungando e reclamando por eu não ter dado ouvidos ao sermão dele e ter ficado hipnotizada com sua beleza. Ele foi até o espelho do banheiro e pareceu surpreso ao ver seus cabelos brancos.

- Puta que pariu! A idade chegou mais cedo para mim!?- exclamou ele - É agora? Viu, culpa sua! Você me fez passar tanta raiva que olha o que aconteceu com meu cabelo.

Fiz uma careta e me joguei na cama, enquanto ele deitava de barriga para cima e fitava o teto.

- Estou me sentindo um idoso. Olha que só tenho 16 - disse Lucas, fazendo um biquinho. Eu ri da sua dramatização e me deitei ao seu lado.

- Vish, crise da meia-idade tá foda, hein, coroa?- brinquei.

Ele me tapou com um travesseiro e eu o puxei para mais perto. Agora eu era a conchinha maior e ele fechou os olhos, enquanto eu fazia carinho em seu cabelo.

Ele parecia vulnerável dormindo. Era como se visse o garotinho que um dia acordou sem saber onde estava, atrás de todas as suas muralhas. Havia um garotinho perdido, e eu via isso.

Nessas horas, ele parecia tão real quanto eu. Doía saber que a realidade era diferente.

Dei um beijo em sua bochecha e me deitei ao seu lado, imaginando um mundo onde ele existia e onde eu podia abraçá-lo e sentir seu calor.


Meu Melhor Amigo Imaginário Where stories live. Discover now