Não há ninguém como o Pequeno Shizun!

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Era primeira vez que Shen Jiu tinha um quarto só para si — e também era a primeira vez que tinha uma casa.

Seu quarto era luxuoso e enorme. Cabiam confortavelmente todos os outros garotos que antes viviam com Jiu e Yue Qi. A cama era grande e macia, dando até para pular sobre o colchão e se esconder entre os vários travesseiros.

O quarto antes era decorado em cores vermelhas, mas desde que começou a morar ali mudou para verde e branco e agora tinha brinquedos em vez de facas.

E também tinha vários livros.

O problema era que Jiu era analfabeto.

— Para o Pequeno Shizun — Luo Binghe disse sorrindo e entregando um livro a ele.

Jiu olhou para o livro, depois olhou para o mais velho. As bochechas de menino ficaram vermelhas e ele acertou a cabeça de Luo com o leque várias vezes.

— Se quer me xingar, diz na cara! Luo-gege idiota! — ele brigou. Estava tão irritado e se sentindo tão humilhado que seus olhos lacrimejaram. — Um livro pra quem não sabe ler! Hahaha, idiota!

Jiu se virou e saiu andando a passos pesados, chegando a tremer de raiva. Ele iria embora, não tinha nenhum vontade de ficar em um lugar para ser humilhado.

Luo Binghe se sentiu um verdadeiro idiota. Como sempre que olhava para ele via seu Shizun, esqueceu-se que ele ainda era uma criança e que vivia na rua antes. Não tinha ninguém para ensina-lo a ler ou escrever.

— Não chore. Eu não sabia. Desculpa. Me desculpe, Pequeno Shizun — Binghe implorou, ficando a frente de Jiu e limpando as lágrimas que escorriam por suas bochechas. — Eu não queria magoar o Pequeno Shizun!

— Só desculpo se eu ganhar doces! — Jiu disse, cruzando os braços e virando o rosto, se recusando a olhar para ele. Ainda queria voltar para Qi-ge, mas poderia ficar mais um pouco para comer doces.

— Vou comprar todos que o Pequeno Shizun quiser! — Luo prometeu.

Jiu desenhava, brincava com a espada que Luo Binghe deu ou ficava abrindo e fechando seu leque para matar o tédio quando Binghe ficava ocupado no escritório. Tudo era legal e bom até o garoto começar a incomodar as esposas de Luo.

A porta de seu quarto foi aberta bruscamente e uma mulher entrou furiosa. Ela não era humana e com certeza devia ser muito forte, pois assustara todos os servos que tentaram falar ou impedi-la. Jiu se assustou com a entrada repentina e se escondeu no canto do quarto.

— S-Senhora Sha Hualing, foram ordens do Mestre Luo Binghe — o servo, que normalmente cuidava de Jiu, explicou. — Por favor, fale com ele se não gosta.

Ela não prestou atenção no que ele disse, seus olhos estavam focados na criança de olhar afiado que se escondia no canto do quarto. Conhecia aquele rosto tão bem quanto conhecia o rosto de todos os inimigos de seu marido. Mas, saber disso só a enfurecia ainda mais.

Sha Hualing pegou aquela criaturinha que ameaçava seu lugar ao lado de Luo Binghe e a arrastou pelo quarto. A criança se debateu e a mordeu, tentando se soltar.

— Sai, sua vaca demônio! — Shen gritou, a chutando.

As pupilas dela se estreitaram e ela agarrou seu pescoço, suas unhas longas perfurando sua pele. Jiu foi erguido no ar, suas pernas se debatendo procurando o chão e suas mãos tentavam tirar a dela de seu pescoço.

— Como você ousa? Ele não vai se importar se você morrer — ela disse, caminhando até a janela. — Vou dizer que foi um acidente trágico.

As forças de Jiu já estavam se esgotando. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, embaçando sua visão. Ele viu um vulto passando e ouviu o som de pele sendo perfurada. A força esmagadora em seu pescoço se foi e ele foi segurado em braços fortes antes de cair. Jiu se agarrou ao pescoço daquela pessoa fortemente enquanto tossia e se engasgava.

Como criar um bom ShizunOnde as histórias ganham vida. Descobre agora