Capítulo 11

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Voltei!
 
Divirtam-se!

 
Na quinta-feira, Kara e Lena mal se viram. Enquanto a loira esteve com a mãe e a avó fazendo mais uma prova de sua roupa de casamento, a sua noiva fez o mesmo poucas horas depois, mas dessa vez com Alex, Samantha e Kelly — que conseguiu uma folga em sua clínica participar.
 
Depois dos ajustes finais nas roupas, as duas noivas foram verificar como estavam os últimos preparativos da festa. Eliza, com seu ótimo bom gosto, conseguiu agradar o casal com algo simples e para poucos convidados. Kara ficou bem animada com tudo o que sua mãe tinha feito, e Lena apenas sorria agradecida.
 
Saber que menos da metade das pessoas que estavam na festa de aniversário da vovó Danvers iriam a cerimônia, deixa Lena um pouco menos nervosa. Contudo, estava muito difícil controlar sua ansiedade e a confusão que acontecia dentro de si. Para Kara, estava evidente que havia alguma coisa incomodando a morena, mas tentou não se preocupar com isso, poderia ser coisa da sua cabeça por tê-la visto tão nervosa naquele dia no barco.
 
Quando o dia estava indo embora, as noivas retornaram para casa e o resto do pessoal continuou na cidade para verificar mais algumas coisas da festa. Kara tinha em mente mil coisas que queria fazer com Lena já que estariam sozinhas em casa, só que não contava em encontrar seu pai sentado no sofá conversando com o oficial da imigração. A cena dos dois agindo como se fossem grandes amigos fez o sangue da loira ferver. Ela não conseguia entender o porquê ele estava agindo daquela forma.
 
Mais uma vez, a Luthor acabou presenciando uma discussão entre pai e filha. Jeremiah repetia para Kara desistir daquela farsa, o oficial dizia que o acordo proposto anteriormente ainda estava de pé e a loira dizia que levaria aquilo adiante. Ainda que quisesse interferir na conversa exaltada para proteger a noiva das acusações que seu pai fazia, Lena não conseguiu ter nenhuma reação. Não gostava de ser o motivo da trocas de farpas e muito menos de ver a cara de decepção no rosto da loira.
 
Aquilo tudo durou muito tempo. Tempo o suficiente para Eliza e vovó Danvers chegarem e quererem saber qual era o motivo daquela discussão acalorada. Mas então, todos desconversaram e inventaram uma desculpa bastante esfarrapada que parecia ter colado — pelo menos para Eliza.
 
Durante a sexta-feira, Kara levou Lena, Ruby e Esme para esquiar. A morena aproveitou cada segundo ao lado da loira da melhor forma que podia. A vendo brincar com as sobrinhas, teve certeza que se ela quisesse ter filhos, seria uma excelente mãe. Ela era cuidadosa, atenciosa e conseguia se divertir tanto quanto as crianças. Por todo o dia, a Luthor a observou com extrema admiração e pensou que se um dia fosse ter um filho, só teria se Kara fosse a outra mãe.
 
Não havia nem uma semana que Lena se deixou envolver pela bela mulher de cabelos dourados, mas já conseguia visualizar um futuro com ela. Adoraria passar uma vida inteira ao seu lado aproveitando de seus carinhos e de seus cuidados. E, claro, se isso realmente viesse acontecer, procuraria todos os dias fazer o mesmo por ela. Se Kara fosse o seu para sempre, a Luthor sabia que nunca ficaria entediada e que seria a mulher mais feliz do mundo.
 
No mesmo dia a noite, a loira levou a noiva para um piquenique noturno. Havia uma clareira no meio da floresta que dava uma linda visão do céu estrelado. Depois de tomarem um ótimo vinho e comerem algumas coisas, as duas deitaram numa toalha quadricula vermelha e admiraram o céu. Sendo sincera, Kara mais admirou Lena que estava deitada em um de seus braços e a todo momento sorria. Se aquilo era um sonho, ela não queria acordar.
 
Fazendo o caminho de volta para casa, Lena puxou Kara para dentro da cabana em que assistiram filme na primeira noite em Midvale e começou a beijá-la com urgência. Danvers em nenhum momento hesitou ou pensou em parar de se agarrar a morena. Aos poucos, elas foram deixando suas roupas pelo caminho até se entrelassarem em um dos sofás. Suas pupilas estavam totalmente dilatadas de desejo e sem se importarem com nada do lado de fora, se entregaram uma a outra de uma maneira que nunca fizeram com ninguém.
 
Lena sentia seu corpo queimar a cada toque e a cada beijo deixado por teu corpo. Kara não estava nada diferente, e cada vez que via a morena se desmanchando em puro prazer, recomeçava tudo de novo só para vê-la quase desfalecer em seus braços quando alcançava o ápice. Por uma boa parte da noite e da madrugada, quase nada foi falado, apenas foi feito. As únicas palavras proferidas vinham de Lena gemendo chamando por Kara e a loira retribuía seus chamados da mesma forma.
 
Era até difícil de entender como dois corpos se encaixavam tão bem e como uma parecia saber exatamente aonde a outra queria ser tocada. Quando levou Lena ao piquenique, Kara não fazia ideia que as duas acabariam nuas, em cima de um sofá, se amando. Sim, se amando. Não havia outra explicação para o que fizeram se não amor. Dizer isso em voz alta poderia soar brega, mas não foi algo simplesmente carnal, havia muito mais ali e as duas sabiam disso.
 
A luz do sol invadiu a janela da cabana, despertando Kara. Abrindo lentamente os olhos, sorriu ao encontrar Lena agarrada a ela, dormindo tranquilamente. Flashes da noite anterior invadiram sua mente a fazendo se sentir no paraíso e um enorme frio na barriga. Nem se vivesse mil vidas, seria capaz de esquecer a noite que teve com a morena. Conhecer cada cantinho de seu corpo e explorá-lo da melhor forma que podia era quase uma dádiva. Finalmente, pode devorá-la com os olhos e deixar transparecer o quanto seu corpo suplicava pelo dela.
 
Usando a mesma delicadeza de sempre, aos poucos foi começando a mexer nos cabelos escuros na tentativa de acordar sua noiva. Percebendo que ela estava começando a despertar, distribuiu beijos por todo seu rosto até que ela abriu os olhos e a olhou. Aqueles olhos verdes que a encarava agora, não se pareciam com nada com os que estavam vidrados em seu corpo na noite anterior. Agora pareciam mais calmos, carinhosos e com um brilho quase incomum.
 
— Bom dia! — sussurrou — como foi sua noite? Dormiu bem?
 
— Acredita que eu sonhei que dormi com a minha assistente? — respondeu com uma voz um pouco rouca — ela é um loira muito gostosa, mas achei um pouco demais sonhar com ela e extremamente realista.
 
— Ah, é? E como foi esse sonho? Posso saber ou é algo sigiloso?
 
— Pra você saber como foi só se eu te mostrasse o que ela fez comigo — Kara gargalhou jogando a cabeça para trás — foi uma noite incrível — disse por fim quando a loira voltou a fitá-la.
 
— Pra mim também — segurou seu rosto a beijando com paixão — agora eu tenho certeza que você tem uma tatuagem  — comentou assim que quebrou o beijo — o que significa?
 
— Eu fiz com dezesseis anos, logo que meus pais morreram — abaixou um pouco o olhar — na época fiz pensando neles. Dois pássaros que voaram para longe de mim. Eu ia remover, mas como você já imaginava, acabei desistindo.
 
Como um extinto, Kara passou as pontas dos dedos sobre a tatuagem de dois pássaros que ficava nas costas da morena. Logo depois, se aproximou deixando um beijo singelo em seu pescoço em um ponto muito específico.
 
— Dizem que essas pintinhas — deixou mais um beijo no mesmo local — nascem na gente, pois é onde nosso amor da vida passada costumava a beijar — repetiu novamente o gesto e a olhou — se eu fui essa pessoa pra você, te digo com toda certeza agora que eu adoro te beijar bem aqui — passou levemente o indicador no local.
 
Era impossível não acreditar no Kara dizia quando ela transparecia tanta verdade em seus olhos cor do mar. Também era difícil para Lena fazer seu coração se aquietar quando ele vibrava com as palavras que saiam da boca daquela mulher. Se a loira dissesse a Luthor que o céu é vermelho, era capaz dela acreditar mesmo já tendo visto o céu e sabendo que ele era da cor das orbes que a encarava.
 
— Vamos cancelar esse casamento e ficar aqui — a abraçou pela cintura — já tivemos a lua de mel mesmo.
 
— Se não casarmos você não pode continuar aqui — afagou seus cabelos — devemos ir, já já começam a nos procurar para começarmos a nos aprontar.
 
— Você quer isso mesmo? — voltou a mirar seus olhos — tem certeza?
 
— Eu faria qualquer coisa para você continuar ao meu lado — falou com toda a certeza e verdade que existia dentro dela — fosse te dar meu sobrenome pra você ficar nesse país, tentar subornar um juiz só pra você não ter que ir e nunca mais voltar ou mentir para minha família. Se no fim você estiver comigo, nada mais me importa.
 
Engolindo seco, Lena deu um pequeno sorriso.
 
— Vai ser Danvers-Luthor ou Luthor-Danvers? — tentou transparecer que não se afetou com a última frase que a loira disse.
 
— Acho Luthor-Danvers mais bonito. E você?
 
— Me parece perfeito — demorou seus olhos no rosto da loira guardando na memória cada detalhe.
 
— Queria ficar muito mais tempo aqui só que, se você continuar perto de mim desse jeito — desceu o olhar até o seio nu da morena — vou querer fazer coisas com você que não vou querer parar tão cedo.
 
— Eu dei a ideia de cancelar o casamento e ficar aqui, mas você não quer — deu ombros.
 
— Depois da cerimônia você não me escapa, meu bem — deu um sorriso ladeado.
 
Antes de se levantarem do sofá, Lena a roubou um beijo demorado que para Kara parecia ser quase um beijo saudoso. Mas não tinha como ser isso, se as duas estavam juntas e em poucas horas diriam sim em frente a juiz de paz, de amigos próximos e da família.
 
Mal entrando na casa principal, cada uma foi arrastada para um lado. Apesar de ser cedo, tudo já estava uma completa loucura e parecia que todos só estavam esperando por elas.
 
Sendo levada até o quarto de Alex e Kelly, Kara foi colocada em uma cadeira enquanto três mulheres a olhavam com uma dúvida que ela já sabia bem qual era. Uma das coisas que menos sentiu falta estando longe, era a intromissão de sua irmã e de sua prima na sua vida amorosa. Às vezes, elas queriam saber coisas demais que a loira apenas queria guardar para ela. Mesmo com a pouco convivência com a cunhada, tudo indicava que ela tinha aprendido direitinho com a esposa em como ser uma grande curiosa.
 
— Então você e Lena não dormiram no quarto — Sam semicerrou os olhos e Kara não entendeu se aquilo era um pergunta ou uma afirmação.
 
— Quer compartilhar algo com a gente, irmãzinha? — Alex cruzou os braços.
 
— Só pra deixar claro — Kelly se sentou na cama, mas sem desgrudar os olhos da cunhada — eu não sou a favor de nada disso, mas você quiser falar, eu ouvir.
 
— Você quis dizer que vai me analisar, não é? — arqueou suas sobrancelhas.
 
— Talvez, mas pelas minha análises prévias, já está bem claro o que rolou.
 
— O que rolou? — a Danvers mais velha perguntou para esposa com uma cara confusa.
 
— Sério, Kelly, que é com ela que você casou e tem uma filha? — Kara apontou para irmã e depois tentou segurar o riso.
 
— A gente não escolhe por quem se apaixona — a psicóloga respondeu fazendo todas menos Alex rirem.
 
— Alexandra sempre envergonhando o nome da família — Arias balançou a cabeça negando — anda, Kara, diga logo o que aconteceu.
 
— Eu não vou dizer nada — passou a mão sobre os lábios como se tivesse a fechando com um zíper — nada sobre mim e minha futura esposa diz respeito a vocês.
 
— Só da algum detalhezinho — a ruiva quase suplicou, mas logo viu a irmã negar com a cabeça — poxa! A gente te dando a maior força a semana inteira, fazendo de tudo para Lena se sentir bem com a gente, se sentir em família e você nos nega uma mísera informação sobre como foi seu piquenique com ela?
 
— Nego — deu ombros — isso é coisa minha e dela.
 
Samantha já estava pronta para contra-argumentar, mas foi atrapalhada quando deram três batidas na porta e logo Eliza entrou no quarto.
 
— Trouxe sua roupa e o cabeleireiro só está esperando para começar o seu dia de noiva — depois de colocar a roupa estica na cama, foi até a filha deixando um beijo em sua testa — animada?
 
— Como jamais estive — abriu um sorriso que confirmava a sua animação e felicidade.
 
— Achei que depois que eu casasse uma filha, quando acontecesse com a outra eu estaria pronta, mas não estou — seus olhos se encheram de lágrimas — quando Samantha casar, aposto que não estarei pronta também. É a única filha que falta.
 
— E a que vai continuar faltando — respondeu à tia — isso tudo não é pra mim. Estou bem com minha vida e minha filha.
 
— Quando o amor te pegar, quero ver repetir isso — Olsen provocou — vai ficar igual a Kara ou um pouco pior.
 
— Você já tá casada, Lena vai casar hoje — todas olharam para ela sem entender — as duas pessoas que eu me casaria sem nem pensar já são comprometidas. Se bem que, Lena ainda não disse sim, será que dá tempo de fazer ela mudar de ideia? — fez uma cara pensativa.
 
Quando entendeu o que Samantha disse, Kara abriu a boca quase em choque.
 
— Você... você não seja besta de tentar roubar minha noiva.
 
— Samantha! — Eliza a repreendeu — quer que a Kara desmaie antes mesmo de se casar?
 
— Só foi uma brincadeira — levantou as mãos em rendimento.
 
— Também vou te estapiar na brincadeira pra ver se você gosta — a mais do grupo retrucou — vou tomar um banho e logo pode falar para o cabeleireiro entrar, mãe.
 
— Onde está indo? — Eliza perguntou ao notar que a filha iria sair do quarto.
 
— Vou tomar banho no banheiro do meu quarto.
 
— Não, não, não, não — Alex começou a empurrar para o seu banheiro — Lena está lá com a vovó, e vocês só se verão agora na cerimônia.
 
Ao longo da manhã e uma parte da tarde, as duas noivas foram aprontadas para o casamento. A cada cinco minutos, Kara pedia para alguém dar a ela alguma coisa para comer. Se já sentia muita fome normalmente, com o nervosismo que se intensificava a cada minuto, ela estava parecendo ter o próprio buraco negro no estômago. Como ninguém queria a estressar, ficavam se revezando para fazerem seus gostos.
 
Diferente da loira, Lena havia perdido completamente a fome e sentia que qualquer hora poderia ter um ataque de pânico. Nunca em sua vida imaginou que um dia poderia ficar naquele estado, por sorte, vovó Danvers quase não desgrudou dela, o que a deixava mais calma.
 
Faltando pouco mais de vinte minutos para o casamento, Lena colocou seu vestido com ajuda de Sam e vovó Danvers. Assim que se olhou espelho, sorriu de alegria e sentiu que nada mais importava além de dizer sim no momento certo.
 
— Deixaram uma ambulância de prontidão, vovó? — Arias perguntou, mas a senhorinha não compreendeu — porque vamos precisar de uma depois que Kara desmaiar por ver a noiva.
 
Com os olhos marejados, Lena gargalhou com o comentário. Uma das coisas que mais havia gostado em Samantha era as suas piadinhas pontuais.
 
— Eu acho que teremos que pedir uma mesmo — a Danvers mais velha concordou fazendo Lena rir mais — está linda!
 
— Eu nunca fiquei tão nervosa quanto estou agora — passou as mãos no corpo do vestido — acho que esqueci como respira.
 
— Então serão duas ambulâncias — Sammy se aproximou colando a mão no ombro da morena — ela também está linda, quase comeu uma boa parte do buffet de tão nervosa que está. Não importa como começou, o importante é agora — Lena a olhou com estranheza — eu sei tudo. Mas o importante é o que está em seu coração agora.
 
— Devemos ir. Chegar um pouquinho atrasado é bom, mas não quero que minha neta morra de nervoso por estar demorando demais — sorriu para a morena — está pronta?
 
— A senhora pode me levar ao altar? — olhou para a Danvers mais velha — a senhora se tornou muito importante para mim, gostaria que me acompanhasse.
 
— Vai ser uma honra.
 
Esperando pela noiva já no altar, Kara andava de um lado para o outro. Se estivesse com seus óculos no rosto, provavelmente estaria mexendo nele a cada segundo, mas como o perdeu no rio, não tinha muito como aliviar a tensão que percorria seu corpo.
 
Depois do que pareceu uma eternidade, percebeu que todos da sua família estavam em seus devidos lugares — menos vovó Danvers — então uma música suave começou a ecoar pelo ambiente. Quando Kara olhou para o fim do tapete vermelho forrado no meio da grama de sua casa, viu Esme e Ruby entrarem sorridente. A mais velha trazia as alianças e a caçula jogava pétalas de rosas vermelhas e brancas por onde passava. Menos de um minuto depois, Lena apareceu com sua avó ao lado.
 
Vendo a morena com um vestido branco de manga três quartos e uma saia um pouco justa que exaltava sua curvas, quase sentou seu coração parar de bater. Aos seus olhos, nunca haveria mulher mais bonita do que Lena em toda a via láctea.
 
Não muito diferente da loira, a cada passo que dava indo a seu encontro, Lena sentia o ar faltar. Kara a surpreendeu um usando um terninho azul que caia perfeitamente bem nela e realçava seus olhos. Quando chegou perto o suficiente, foi entregue para a loira depois de vovó Danvers deixa um beijo em sua testa. Logo Sam — sua madrinha — pegou o seu buquê.
 
Não se controlando, assim que Kara a recebeu, deixou um beijo casto em seus lábios e sorriu. Então, todos os convidados sentaram e o juiz de paz deu início a cerimônia.
 
— Estamos reunidos hoje aqui para testemunhamos a união entre Kara Danvers e Lena Kieran Luthor — começou falando — e reconhecermos o amor, a verdade, a honestidade e o altruísmo que unem essas duas mulheres — verdade. Honestidade. Altruísmo. Três palavras que atingiram em cheio a Luthor. Não era por nada daquilo que ela estava se unindo a Kara — perante a família e amigos — família. Tirando Sam e vovó Danvers, a morena estava mentindo para todos — que ensinaram Kara e Lena a amar...
 
— Só um minuto — Lena levantou a mão interrompendo o juiz de paz.
 
— Algum problema? — Kara sussurrou em seu ouvido.
 
— Eu não... não... — sentia um peso dentro de seu peito, a garganta secar e uma vontade incontrolável de chorar.
 
— Lena? — Kara colocou a mão em suas costas — está sentindo alguma coisa? — perguntou preocupada.
 
— Eu preciso dizer uma coisa — Kara a olhava sem entender o que era aquilo tudo.
 
— Isso pode esperar? — o juiz perguntou, mas ela negou.
 
Assim que Lena olhou para Kara, a loira já sabia o que estava passando em sua mente só por causa do seu olhar. Naquele momento, ela nunca quis tanto não conhecer a morena o suficiente só para se iludir que ela não faria o que estava prestes a fazer.
 
— Você não precisa fazer isso — Kara falou baixinho apenas para ela ouvir — eu disse que faço qualquer coisa pra ter você comigo e te fiz uma promessa.
 
— Não posso te arrastar para uma mentira desse tamanho. Te amo demais para lidar a vida inteira com você mentido para pessoas que são importantes para você e que se tornaram importantes para mim também.
 
A olhando nos olhos, Lena viu o azul perder o brilho com que a olhava horas atrás. Talvez Kara nunca a perdoasse por sua escolha, mas, assim como tinha lido no caderninho de anotações da vovó Danvers, amar alguém às vezes era colocar o outro acima de você mesmo. Todos esses dias, a loira fez isso, sabia que a estava a magoando, mas como poderiam conviver com aquela mentira? Com ela brigando com o pai só para defende-la. Escondendo da mãe e da irmã que todo aquele casamento era só porque a Luthor não queria ir embora do país.
 
Lena não negava mais para ela mesma que amava Kara de uma forma que nunca amou ninguém. Queria ficar ao seu lado e ter tudo com ela, mas desde que tudo fosse as claras, sem segredos. A loira não merecia mentir para as pessoas que mais amava por sua causa. Agora, a morena entendia o que sentia por ela, mas quando isso começou, só havia a envolvido em tudo isso por puro egoísmo e se tem algo que aprendeu era que o amor não era egoísta.
 
— Lena, não faz isso. Por favor — pediu mais uma vez.
 
— Me perdoa, meu amor — olhou para os convidados — obrigado a todos por terem vindo a cerimônia — limpou a garganta para continuar e então viu o oficial da imigração — eu preciso fazer uma revelação sobre o casamento. Uma confissão, na verdade. Sou Irlandesa e... meu visto venceu e eu não poderia mais ficar nesse país onde eu recomecei minha vida — começou a brincar com os próprios dedos — e para eu não deixar esse país e meu emprego, eu forcei a Kara a se casar comigo.
 
— Lena... — Kara tentou mais uma vez, mas foi em vão.
 
— Ela aceitou entrar nessa mentira porque eu ameacei a sua carreira e... e ela é muito esforçada e dedicada por tudo o que faz — a olhou alguns segundos, depois voltou sua atenção aos convidados — eu sabia que se usasse isso contra ela, ela não me diria não. E não disse — fitou Jeremiah — a sua filha é a melhor pessoa que eu conheço e é a melhor no que faz. Antes que eu vá embora, vou garantir que ela seja a editora que sonha. Você deveria se orgulhar dela e não reclamar por ela ser quem ela é e ter coragem de sonhar algo que vai além do quintal de casa. Resumindo, eu a fiz vir até aqui e mentir para vocês — Kara abaixou a cabeça tentando segurar o choro — eu pensei que seria fácil assistir a isso, mas não foi. Não é fácil destruir a vida das pessoas quando se descobre que elas são maravilhosas. Por isso eu não posso te dizer sim — olhou para a mulher ao seu lado uma última vez tirando seu anel de noivado e a entregando.
 
Após o discurso, como o furacão que sempre era na vida de Kara, a morena bagunçou tudo e seguiu para dentro da casa sem olhar para trás. A noiva deixada no altar nem conseguiu ter forças para ir atrás dela e implorar para que voltasse e dissesse sim a ela. O pior — na visão da loira — era que ela nem ao menos era capaz de ficar com raiva de Lena. E como poderia? A amava de todo o coração. Estava triste, chateada, frustrada, se sentia tola por não ter percebido que a noite anterior foi uma despedida, mas, ainda assim, a amava.
 
Todos estavam chocados por aquela revelação, até mesmo Sam — que sabia de todos os detalhes — e vovó Danvers — que já imaginava que havia algo por trás daquele casamento — pois elas não imaginavam que Lena desistiria de se casar sendo que estava verdadeiramente apaixonada.
 
— Eu sou muito bom no que faço — William Dey comentou se aproximando da loira com seu típico sorriso presunçoso — poderia ter poupado meu... — sentiu um soco ser desferido em seus rosto o fazendo cair no chão.
 
— Babaca! — Kara esbravejou sendo segurada pela irmã — me solta! — ordenou — preciso ficar sozinha.
 
Eliza até tentou ir atrás da filha, mas Alex, Sam e Kelly a impediram.
 
Correndo o mais rápido que podia, Kara foi para o meio da floresta, para o mesmo lugar que fez o piquenique com aquela que deveria ser sua esposa na noite anterior.
 
— Diaba! — olhou para o anel em sua mão — isso não vai ficar assim, Lena. Não vai mesmo.

 
:)

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