Miguel

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Augusto fica em total silêncio a voz de Teresa lhe dizendo que carregava em seu ventre um filho, filho daquele que ele odiava de morte, uma criança que carregaria a sina de duas famílias que se odiavam não poderia vingar pensava ele.
Augusto senta-se depressa no banco da Igreja, leva a mão no peito, parece aquela notícia lhe arrebatara de todo.
Teresa se aproxima –Meu pai, sente- se mal? Se acalme... vá Antero chame Rômulo...
-Não me chame de Pai, eu sou um estranho para ti... não pise mais em minha casa, sua perdida.
Rômulo chega depressa acompanhado de Dona Ana.
-O que sente senhor Augusto? Me diga ... diz o médico.
-Eu não preciso de médicos, eu não preciso de vocês, me deixe sozinho... e tu Ana não tens mais uma palavra de mim, nos enganou, acobertou essa maldita.
-Mas cumpadre, ainda que nos odeie, como diz, mas tens que estar bem... precisas se poupar...
-Essa dor no peito, é a descoberta de que minha filha mais nova, nosso '' arrelique''  espera um filho desse canalha... essa notícia é um tiro no meu peito.
Pouco tempo depois um dos empregados de Augusto surgem na Igreja, e o acompanha até estância, Teresa havia perdido o carinho do Pai, e isso doía muito.
Teresa chega na casa de dona Ana –Precisas descansar... diz a madrinha.
-Teresa sei que não podes contrair matrimônio, não agora, mas quero te levar em um lugar ... a senhora Dona Ana nos acompanha...
Antero leva Teresa a um bonita casa de estilo clássico bem no centro da cidadela Piratini.
-Essa, se for do seu agrado, será nossa casa, Palmira e Loá viram trabalhar aqui... e sei que Dona Ana  e Adelaide lhe acompanharão durante o tempo que eu estiver fora da cidade...
Teresa tem uma quase lágrima nos olhos, seu coração acelera, aquela casa já tinha aquele ar de lar doce lar, ela já pensa nas mudanças, no aconchego, nos sonhos , no quartinho do bebe.
Não tardou para que as mulheres,  arrumassem a casa, os móveis limpos, as janelas com lindas cortinas, as camas recém arrumadas, com lençóis muito alvos, as mesas já com velas, os quartos aconchegantes, muitas flores, e até o cachorrinho canção ganhou uma cama ao lado da lareira, desde que ele havia arriscado a vida para salvar Antero, nunca mais retornou a lida de campo, agora anda nos pés de Teresa.
Os meses passam como um rio, nas idas e vindas da Revolução os dias são mais demorados, o tempo tem outro compasso.
Antero acende um cigarro, Teresa com quase nove meses de Barriga, enche um amargo, sorvendo devagar aquele mate, Teresa parece mais devagar e cansada, ele recém chegado de Bagé, tem um ar mais velho e maduro, os cabelos recém lavados, Antero afaga os pés de Teresa
-Estás bem? Sente algo, acha que é para logo?
-De acordo com Rômulo até meio deste mês...
-Teresa precisamos conversar.. 
Antero esta mais sério –Estou partindo amanhã cedo, estamos indo para o centro do Estado, torcemos para que não, mas acredito que haverá derramamento de sangue.
Teresa se põe de pé rapidamente –Que dizes Antero? Que haverá uma...
-Sim... uma batalha  meu amor... eu sinto tanto...
Teresa sufoca o barulho do choro no peito de Antero, ele a pega nos braços, lhe beija, lhe conforta
-Eu juro... vai ficar tudo bem... isso é política, eles logo se acertam...
Teresa olha o marido, Antero veste sua farda, emparelhando punhos daquele doma, ajeita o lenço branco, o quepe militar, ele se vira depressa...
-Eu volto para ver o nascimento da criança... Deus te abençoe minha Teresa ...
-Eu vou rezar por ti... eu vou lhe esperar...
Teresa olha firme na janela, vê a imagem de Antero a cavalo, se distanciar, sozinho como de costume, ele some naquela névoa...
Antes do meio dia, Teresa escuta uma tropilha cruzar a rua, olha na janela, é seu pai, seus irmãos, tios e primos, e alguns criados, todos armados e usando o lenço vermelho...
Mais uma vez o Rio Grande estava no auge de uma Guerra...
Teresa deixa a tropilha passar, sai na porta de casa –Que deus os abençoe, meu pai...
Ela escuta o caozinho latir, olha para seu lado, vê sua mãe surgir como que uma sombra, Mariana está muito séria...
-Mãe, a senhora por aqui...
-Teresa, os homens partiram hoje para guerra...
-Eu sei... eu sei... Mãe eu preciso tanto lhe falar, lhe pedir perdão...
-Eu não vim lhe perdoar! Vim  para ficar com você, para lhe apoiar, para ver essa criança nascer.. eu não tenho nada o que lhe perdoar, você é minha filha... estás tão linda minha filha...
Elas se abraçam, choram as duas...
A colheita de frutas ocupa a cabeça das mulheres, Teresa e a mãe fazem compotas de doces. Teresa se  curva perto da mesa da cozinha... –senti uma pontada, mamãe chame a madrinha e o rômulo
Antero cavalga como quem tem o mundo nas costas, acaba de receber a notícia que Teresa estava com príncipio de dores...
Teresa sente romper a bolsa, Rômulo orienta que ela deite-se na cama, lhe sorri – Chegou a hora minha amiga...
Teresa sente aquelas dores que parecem dilacerar todo seu corpo, sua testa sua, o bebe está virado, ela sabe que isso irá ser muito duro...
-Força filha, força...
Dona zabela surge confiante para ajudar no parto, Teresa padece de dor e cansaço, morde os lábios...
-Minha nossa, temos que desvirar essa criança... diz Zabela
A mão que segura o rosário é agarrado com força pela  mão forte de Antero, ele lhe passa a mão na testa... –Estou aqui...
Teresa vê correr a lágrima no rosto de Antero, era o momento mais feliz de suas vidas... ela se impulsiona, desce da cama, ficando ali de cócoras, fazendo a força... urrando...  e Debaixo daquela tempestade ... numa madrugada bonita... Teresa paria Miguel... um bonito menino...  o choro da criança é uma bonita melodia...
Teresa pega o filho nos braços, ele parece reconhecer a o cheiro da mãe.
Após o banho, finalmente Antero segura o filho nos braços, cheio de esperança, ele beija aquelas pequenas mãos...
Antero agradece a nossa Senhora pelo nascimento do filho, Mariana o olha da sala, ela se aproxima ...
-Dona Mariana, eu sei que tens ressalvas a meu respeito... mas é bem vinda aqui... obrigado por tudo...
Mariana lhe sorri – eu sei... eu sei...
Ela lhe estende a mão – Meus parabéns pelo nosso Miguel...

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioWhere stories live. Discover now