Resistir

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Pela manhã, Dona Ana dorme ao lado da cama de Teresa, que sequer pregou os olhos.
Ana acorda, já vê Miguel no colo de Delfina que lhe amamenta – e onde está Teresa?
-Eu não sei, mas ela saiu bem cedo...
Teresa cavalga depressa, chega na casa de seus pais, a mãe acaba de acordar, o pai já ajeita tudo para voltar aos campos de Guerra... os pais de Moacir Amadeu e sua esposa mateiam junto dos pais de Teresa...
Teresa apeia, tapeando o vestido...
-Eu achei que lhe tinha proibido de entrar aqui, diz Augusto...
-Eu não quero sua benção, eu não quero nada de vocês
-Filha o que tens... e o bebe? Estás tão pálida
Teresa desenrola o xale do bebe manchado de sangue...
-Eu vim avisar... caso não saibam, que ontem em meio ao batizado de meu filho, Moacir entrou dentro da Igreja... eu estava com o bebe no colo...
Moacir apontou a arma, Antero se jogou na frente, o tiro lhe abriu o peito....
Mariana perde as forças num quase desmaio... é amparada por Augusto...
-Eu vim dizer... eu denunciei Moacir a justiça, ele está foragido...
-Mas eles são inimigos, a polícia vai alegar legítima defesa... diz Amadeu...
-Não...  Antero estava desarmado, e com a farda de Tenente Coronel, Moacir atirou em um homem que ele tem medo... é um covarde e vai pagar... diz ela...
-E o rapaz? Esta vivo? Eu espero que sim, diz Augusto...
-Saiu daqui vivo, mas se querem saber, a mãe dele já está arranjando tudo... o caso é muito grave... diz ela.
- Eu sinto muito filha... Mariana a abraça
-Eu sei mãe...
Teresa sai na direção da porta...
-Antero cavou a própria cova... diz Amadeu...
-Pois trate o senhor de cavar a cova de moacir, pois se Antero morrer... ele também vai encontrar um vala, onde se sepultam covardes...
-Filha não digo isso... pede Mariana
-O moacir não vai a guerra, os amigos e parentes de Antero não viram aqui atrás dele, diz Amadeu...
- Se Antero morrer, na flor da idade, deixando uma mulher e um filho de dez dias.... eu mesma vou matar Moacir.... eu prometo...
Teresa retornava a casa, com a alma em pedaços... a tia a esperava com uma chá e alguns biscoitos de milho
-Precisas comer... Miguel está lá dormindo... muito bem... diz Ana
Rômulo adentra a porta bonita da casa, Teresa deixa a xicará de chá cair no chão... estatelando a porcelana... os cacos brancos floridos agora são apenas pedaços ...
-Pelo amor de deus Rômulo... não quero ouvir nada (Teresa tapa os ouvidos)
-  Eu precisava vir pessoalmente, vim te buscar ... eu acho que irás mais segura... ele estava sendo operado quando sai de lá... eu julgava que ele não chegava vivo....
-Então ele está vivo... santo deus....
-Eu quando sai de lá, ele estava sim... eu preciso ir, só vou pegar umas roupas... faça o mesmo... diz Rômulo
Teresa e Rômulo viajam o dia inteiro... chegam na  beneficiência de Bagé
Rômulo dá notícias -Acabaram de operar me parece que ele ainda está lutando pela vida... não poderá ve-lo, não ainda... mas temos fé...
Ao final da noite permitem a entrada  ... embora o tiro tenha sido quase no coração a bala passou perto, e saiu nas costas, isso era de todo um milagre.
Antero está pálido, muito pálido... Teresa pega na sua mão, não será fácil, dessa vez quase lhe tiravam dela.
Depois de quase três dias, após transfusões de sangue, finalmente Antero acordava, ele a olha sem entender nada ...
-Teresa aonde estamos? O que houve? E o bebe?
-Acalma-se ouve uma fatalidade, mas precisa descansar...
-Eu preciso ir... tenho tropas que vão invadir Santa Maria... (ele tenta levantar-se mas seu peito dói )
-Antero você levou um tiro...
-Eu lembro agora... eu lembro a dor... a dor era impossível...
Teresa fica ali até Antero voltar a dormir... asim foram durante sete dias... até que ele já recuperado a aconselha –Eu preciso ficar pois estamos em Guerra, tens que ir... e ficar com nosso filho...
Antero era um homem talhado para as guerras, para as lutas e riscos, era forte como um touro.
Teresa beija Antero desmedidamente, agora podia abraça-lo sem receio, ele a tem nos braços, lhe aperta contra ele – dentro de dois dias devo ir em casa... vá com deus... diz ele
Teresa retorna ao lar,naquela amanhã, poucos a viram, sua devoção, ao subir de joelhos até a Igreja cumprindo sua promessa, Antero estava vivo!
Teresa põe o filho na cama, precisa preparar o almoço, em breve devem chegar sua mãe e as amigas, escuta o barulho da porta dos fundos, sorri, com certeza era a madrinha, Teresa é pega de surpresa, pelas costas, sente sufocar sua boca, logo a saia é rasgada, ela consegue gritar –Socorro! Socorro...
Ela se vira o homem tem um lenço vermelho amarrado no rosto, ele lhe apoia na mesa da cozinha, tentando lhe desnudar, Teresa grita, ela reage, empurra o ferozmente, ele lhe empurra de volta, ficam naquele jogo de força até que ela lhe arranca o lenço, o rosto demoniaco de Moacir... Teresa grita em desespero...
Ele mete a mão debaixo de sua saia, apertando as coxas, Teresa clama por piedade, e não tem pena, pega um objeto de cima da mesa, crava a faca nas costas dele, duas vezes repetidas...
Moacir caiu ao chão....
Os vizinhos de Teresa entram correndo na casa, ela está em choque...

 Amores Maragatos  - Série CaleidoscópioWhere stories live. Discover now