Capítulo 25

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Minha mãe acendeu a luz do quarto e se sentou de novo na cama, aguardando que eu começasse. Não era uma conversa qualquer, e eu não sabia o que dizer a princípio.

- Eu estava saindo com uma pessoa mãe... Estávamos namorando — disse com uma voz baixa, mas já com o choro controlado.

Minha mãe se mostrou surpresa:

- Namorando? Que bom Lu! Porque não me contou, não me apresentou?

- A gente ainda estava se conhecendo, era recente.

- Vocês brigaram?

- Pior, terminamos.

- Poxa, que pena. Mas não existe qualquer possibilidade de conversa?

Minha mãe não fazia nenhuma pergunta que pudesse me dar abertura para eu revelar algo, e aquilo era angustiante. Não queria que tivesse que partir de mim. Dei um suspiro.

- Não mãe... Acho que não.

Minha mãe também parecia calcular exatamente o que perguntar para não avançar o sinal e parecer uma intrometida.

- Qual era o nome dela?

Corei na hora. Tinha que decidir rápido: ou inventava um nome qualquer, ou seguia firme. Precisava ser sincero, era a minha mãe:

- Rodrigo mãe, era um cara...

- Ah, era ele, e não ela... Entendi. Mas porque terminaram?

No fundo achava graça daquele jeitão dela. Minha mãe foi pedagoga a vida toda. Acho que estava no sangue dela procurar deixar as pessoas sempre à vontade. Sabia que naquele momento ela entendia que qualquer brecha de silêncio seria uma punhalada, e que provavelmente ela deixaria para pensar no assunto depois.

- Terminamos por uma sequência de problemas, que não pararam de aparecer.

Não ia falar do sexo a três, é claro. Teria que ser liberal demais com minha mãe para abrir isso. Resolvi omitir essa parte, mas contei tudo. Como a gente se conheceu, o que aquilo tinha despertado em mim, o que achava que sentia, minha consulta com a Paula, a viagem. Ela escutava tudo atenta, bastante interessada.

- Eu não imaginava que era gay mãe... Quando conversei com a Paula, cheguei a pensar que era bissexual, mas percebi que não sinto a mesma atração pelas garotas. E eu estava mesmo gostando dele... — admiti cabisbaixo.

- Lu, eu fico feliz que você está começando a se relacionar com as pessoas. Talvez triste por não acompanhar mais de perto. Mas você vai entender que relacionamentos amorosos vão além do sentimento. É convívio, troca de experiências, enfrentar problemas juntos, passar por dificuldades. Não é só alegria. Se não deu certo, busque entender o que não funcionou. É um aprendizado para o próximo. E guarde o que viveu de bom — ela sorriu, e continuou — Eu tive muitas aventuras e paqueras antes de conhecer seu pai. Boas e ruins. Uma pessoa pode te mostrar o mundo, mas também pode não te dar nada. A vida é assim.

"Como eu amo essa mulher, meu Deus...". Minha mãe tinha o dom supremo de dizer a coisa certa na hora certa. Mas naquele momento, não era o namoro que me preocupava, e sim o que se passava na sua cabeça.

- Eu sei que você sempre esperou as melhores coisas do seu único filho, desculpe se não atendi às expectativas — travava os dentes para não chorar.

- Mas o que é isso, Luciano? Que pensamento é esse? Continuo esperando as melhores coisas que você sempre me mostrou, e essa é uma delas. A sua sinceridade, sua confiança, os seus gostos — ela parou um pouco para pensar, mas logo prosseguiu — Deixa eu te contar uma coisa. Seu pai e eu queríamos muito ter um filho. Muito mesmo. Você não precisa saber desses detalhes — disse rindo — mas vivíamos tentando.

Três Formas de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora