Capítulo 36

7.3K 744 37
                                    

- Poxa, falando assim, parece que você está me dispensando. Não tô te falando nenhum veredito, só contando sobre uma possibilidade.

- Eu sei, e não estou te dispensando, nem chateado. Não viaja, Rodrigo.

Ele se manteve calado.

- Claro que eu ia preferir que você ficasse aqui, mas não vou te pedir isso. Se estivesse no seu lugar, também não gostaria que me pedisse isso. É uma oportunidade incrível, poucas pessoas tem essa chance. Você pediu a minha opinião. Eu aceitaria.

Rodrigo insistia no desânimo. Não estava conseguindo entender aonde ele queria chegar.

- Se eu aceitar... - ele disse olhando para baixo - E a gente?

- Espera... - tentei organizar os meus pensamentos - Você claramente está propenso a aceitar, certo? Há três minutos, você já me falou sobre as nossas possibilidades para combater a distância. Ou você vem, ou eu vou periodicamente. O que você quer que eu te diga exatamente, Rodrigo?

- Eu não sei Lu... É uma oportunidade bacana, mas eu também não quero te perder. Poxa, a gente já passou por coisa demais.

- Mas continuar ou terminar, só depende da gente. Em nenhum momento eu disse que você ia perder alguma coisa. Não existem garantias, nem certezas. Nunca vão existir.

Rodrigo parecia querer dar continuidade ao raciocínio, mas foi interrompido pelo garçom, que veio anotar os pedidos. Escolhi aleatoriamente qualquer prato, e ele pareceu fazer o mesmo. Assim que decidimos, o silêncio voltou a imperar. "Vamos lá, você não perdeu o fio da meada", olhava fixamente para ele, que parecia procurar a palavra certa para dizer.

- Vamos fazer o seguinte - disse um pouco impaciente com aquela situação - Caso você aceite, não vamos fazer promessas, nem nada. Vamos prosseguir assim, no ponto em que estamos, e vamos ver no que vai dar.

Não era o que eu queria realmente dizer, mas não considerava outra possibilidade.

- Será uma experiência interessante - prossegui - para o bem ou para o mal. Se der certo, viva. Se der errado, seremos sinceros um com o outro e vamos levar isso numa boa, da melhor forma possível, tá?

- Caso eu aceite... - ele voltou a me olhar sério - Vamos fazer dar certo, eu tenho certeza.

- Você vai aceitar, eu também tenho certeza.

Com o fato do dia esclarecido, tentei mudar de assunto conversando amenidades. Queria contar para ele sobre a possível viagem para a França, mas não senti mais clima para isso. Estávamos tentando manter o encontro agradável, mas estava bem difícil. Durante boa parte do almoço, ficamos calados, pensando nas novas possibilidades que estavam por vir. Comecei a pensar que tinha um sério carma com as segundas-feiras, um caso de tese acadêmica.

...

A tarde foi tomada por trabalhos corriqueiros e desinteressantes. Ainda assim, não conseguia me concentrar em nada. O dia se tornou chato e arrastado, mas procurava não transparecer o que estava sentindo. Aliás, sequer poderia comentar o assunto com alguém, já que para todos os efeitos, o meu relacionamento com Rodrigo tinha voltado a ser um segredo. Recebi uma mensagem dele dizendo que estava em uma nova rodada de reuniões, mas que queria me ver pela noite. "É claro que ele já decidiu", pensei suspirando.

Voltei para casa sentindo uma enorme estafa. Mais mental do que física. Fiz um rápido lanche e cochilei no sofá, assistindo um programa qualquer na televisão. Pouco depois, acordei com o barulho do interfone tocando. Seu Jonas anunciou a chegada do Rodrigo, mas não tinha certeza se eu estava no apartamento. Pedi que ele subisse e já deixei a porta aberta, enquanto ia lavar o rosto para despertar. Quando retornei à sala, ele se levantou do sofá, vindo ao meu encontro com um forte abraço. Era uma resposta, eu sabia que era.

Três Formas de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora