Conto 1: Drama.

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TODOS SEREMOS VÍTIMAS DO TEMPO•

☆ Capítulo Único ☆

- Tá okay filha - disse Priscila ao telefone -, vou ficar um pouco mais aqui. Já, já eu chego por aí.

- "Não se preocupe mãe, tá tudo sobre controle! As crianças estão tranquilas. Fique o tempo que quiser...".

- Você é um doce de filha. Até já.

- "Até já. Eu te amo mais que tudo mãe!".

- Eu também!

Ao pousar o telefone sobre a mesa, pegou na distração daquela manhã. Sentiu uma agradável sensação de conquista quando o cheiro do livro, recém-comprado, lhe invadiu as narinas. Deu um sorvo no café enquanto releu o título do suspense policial: "Antes de lhes fecharem os olhos".

Depois da terceira folha, ela percebeu e se incomodou pela sua falta de concentração. Esforçou-se em atentar-se no exemplar, mas, não teve sucesso. Pousou-o sobre a mesa onde está seu celular, sua xícara de café e sua pasta com papeis de seu trabalho.

Fitou sua volta; não em busca de algo diferente, conhece aquela cafeteria, talvez, melhor do que os funcionários que ali estão, pois nas quase quatro décadas em que frequenta o lugar, não há um só que se manteve no local desde a primeira vez em que entrou no estabelecimento. Sua intenção foi levar uma atenuação ao cérebro quê, nesta segunda-feira não lhe deixa adentrar na ficção e, deste modo, iniciar sua manhã exercendo seu relaxante ritual diário do "café com leitura".

Aprendeu, ao cursar psicologia, sobre a importância de relaxar o cérebro com algo que lhe dá prazer antes de atuar em obrigações. "É extremamente enriquecedor para a produtividade de seu dia!" Dizia um de seus professores.

É formada em psicologia, porém, foi herdeira de duas instituições: uma creche e um asilo. Trabalha desde a saída da faculdade nas duas empresas deixadas pelo pai. Divide-se em uma semana na creche e a outra na casa dos idosos.

Mesmo que experiente, os dias são, quase sempre, persistentemente fatigante; nem é pelos bebês ou idosos em si, pois ela não trabalha diretamente com eles, e sim em conviver com tantos caráteres diferentes dos mais de cinquenta funcionários que tem. "Crianças e idosos são mais subjetivos do que os adultos conscientes. Divertem-se com uma caneta e uma folha de papel, ou até mesmo num simples bingo; enquanto os adultos nem se recebessem o mundo de presente seria o bastante!", diz em reuniões familiares.

Eis que uma jovem mulher, atraindo a atenção de alguns dos clientes, entra na cafeteira deixando notória a pressa em seus movimentos.

Acomodou-se à mesa seguinte a de Priscila. Pegou em seu celular e dividiu sua atenção dentre a entrada e o aparelho.

"Ela deve estar esperando alguém", pensou Priscila. "Talvez um namorado atrasado", arriscou num ar de riso.

Não tardou para a garçonete aproximar-se para o pedido.

Priscila olhou para o relógio digital pregado na parede acima da porta de entrada, no qual além da hora, expõe a data. Ao realizar a data marcada, surpreendeu-se ao lembrar-se que está fazendo aniversário de morte de seu pai.

"Só pode ser isso!" Arriscou ter encontrado o núcleo da desconcentração na leitura. "É aniversário de morte dele!"

Foi abatida pela saudade repentina que emergiu em sua entranhas. Lembrou-se daquele que fora seu mais fiel amigo. Formou um sorriso tristonho em seu semblante ao lembrar-se de uma das reflexões mais repetidas dele: "Eu não sou seu amigo, sou seu pai. Amigos você terá quantos quiser e puder durante toda sua vida, porém nunca confunda essas duas palavras, pai e amigo; nunca nenhum amigo será seu pai, mas eu sempre serei mais que um amigo em sua vida".

Contos Multiplos.Where stories live. Discover now