Silêncio da água

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POV JOSH BEAUCHAMP

Acordei com o sol invadindo as cortinas do quarto e com a luz sendo acessa pela minha mãe, uma mulher loira, baixinha de 54 anos de idade, eu diria que para quem a olha de relance acharia que é a mulher mais feliz do mundo, afinal seu sorriso não sai do seu rosto nenhum minuto sequer, nem quando seu filho acorda todos os dias inválido numa cama.

Úrsula: Bom dia meu amor, como se sente hoje? - ela fazia a mesma pergunta todos os dias de manhã durante três anos, acho que ela deveria desistir, sabe que vou morrer numa cadeira de rodas.

- A mesma droga de sempre - resmunguei enquanto ela me ajudava a sentar na cama.

Úrsula: Não diga isso Joshua, tente ver o lado positivo, meu bem.

Dei um sorriso irônico e concordei  com a cabeça:

- vejamos, o lado positivo é que nunca vou me cansar, porque sempre vou estar sentado nessa merda dessa cadeira rodas ?

Úrsula: Não...o lado positivo é que meu menino está vivo a exatamente três anos depois do coma...mas...não é isso que vim falar...

- Então sobre o que é? - perguntei pegando um cigarro da mesinha de cabeceira e o ascendendo

Úrsula: Desde que seu pai morreu, e você sofreu o acidente, a empresa ficou deslocada sem um comandante presente, para dizer o que fazer...então, decidi que,  enquanto você não volta a andar, eu vou assumir o papel de presidente da empresa.

- Ta...isso é bom, distrai sua cabeça, mas, o que eu tenho a ver com isso? - Perguntei dando uma longa tragada no cigarro

Úrsula: tem a ver que, comigo fora de casa por boa parte do tempo, vou ter que contratar uma cuidadora para você, já que não posso deixar você sozinho em uma mansão enorme...

- e mais uma vez, Joshua atrapalhando os planos de todo mundo- cantarolei soltando a fumaça

Úrsula: você não atrapalha ninguém, eu só acho que...

- Que eu não sei me virar sozinho porque estou preso nessa merda de cadeira de rodas, então o inválido aqui precisa de uma babá - interrompi a mesma, dando outra tragada

Úrsula: Joshua! Você não é um inválido, é só que...

- que eu não consigo fazer porra nenhuma sozinho e preciso de ajuda, ótimo!  Obrigado mãe, por jogar na cara que sou um inútil - a interrompi mais uma vez, apagando o cigarro no cinzeiro, e puxando a cadeira de rodas para perto da cama, onde me equilibrando com os braços me sentei na mesma.

Úrsula: Pare de agir como uma criança, você é um homem de 25 anos, sabe suas limitações devido ao acidente.

- É mãe...eu sei o inútil que me tornei- falei empurrando as rodas da cadeira, indo em direção a porta do quarto, na qual ficava no primeiro andar para facilitar para mim.

Úrsula: Certo Joshua, sendo inútil ou não, vou anunciar que a grande família Beauchamp precisa de uma fisioterapeuta e cuidadora para o herdeiro.

Revirei os olhos e segui meu caminho até a cozinha, indo em direção a geladeira, e abrindo a mesma:

- Chega a ser ridículo mãe, como você mesma falou, sou um homem, posso me virar sozinho - falei observando o interior da geladeira e vendo o leite na prateleira mais alta.

Úrsula: Eu sei que você é um homem meu amor, mas, querendo ou não, você precisa exercitar as pernas, afinal sua condição não é definitiva, e outra, você já demitiu oito fisioterapeutas durante esses três anos, não se esforça nem um pouco!

- Eu sei que vou morrer aleijado, não tem para que contratar mais uma fisio, além de que...- falei tentando pegar a garrafa de leite - eu posso aprender a fazer as coisas, sozi...- antes que eu terminasse a frase, derrubei a garrafa de leite em cima de mim- PORRA!- gritei comigo mesmo vendo a sujeira ao meu redor

Úrsula: Certeza que não precisa de uma cuidadora?- ela falou fazendo uma pergunta retórica, me vendo sujo com o leite

- Me erra dona Úrsula - resmunguei empurrando a cadeira para longe da poça de leite- vou tomar um banho.

Banho...um ato  simples do dia a dia de qualquer pessoa, mas que para mim virou meu maior pesadelo.

Eu costumava me achar o homem mais lindo do Canadá, afinal, quem resiste a um homem loiro, de olhos azuis, 1,78 de altura, cabelos cacheados num topetinho, uma barba sempre muito bem feita, e sempre muito cheiroso, vestindo as melhores roupas?

Exatamente, ninguém, e por isso eu tinha a mulher que quisesse na minha cama, mas... depois da acidente...

Minha autoestima foi para o ralo, quem iria gostar de um inválido em uma cadeira de rodas? Deixei minha barba crescer, meus cabelos agora batiam na nuca, sem nenhuma definição, e minha roupa do dia a dia, eram pijamas.

Além da cicatriz horrível que eu tenho na cintura devido uma cirurgia sem sucesso para eu voltar a andar...

Eu fui do céu ao inferno muito rápido... e acredito que nunca saí do inferno desde de então.

Encarei com nojo mais uma vez meu reflexo enorme espelho do banheiro do quarto, e suspirei.

- Eu tenho nojo de você sabia?- resmunguei para mim mesmo tirando minhas roupas e encarando a cicatriz

Nojo, desprezo, era apenas isso que sentia de mim agora.

Enchi a banheira, e com dificuldade entrei na mesma, me deitando submerso na água.

Geralmente faço isso, tento ver quanto tempo consigo ficar sem respirar novamente, vendo até onde esse infeliz corpo, no qual pertence a mim, consegue chegar, imaginando, que em algum dia, meus pulmões vão finalmente falhar e perderia todo o ar naquela banheira...

Não faço isso para me matar, não, definitivamente não, seria humilhante um inválido ser encontrado morto e pelado, faço isso porque o silêncio da água me acalma, e porque parece que volto ao coma, e todo aquele silêncio me consome...

Silêncio...minha vida se tornou um silêncio...perdeu todas as cores e um enorme cinza surgiu no lugar delas...

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Notas da autora: Foi isso galeris, sorry por postar só hoje o primeiro cap, mas fazer o que? Gostaram do cap? O que acharam do Josh? Não esqueçam de votar e perdoem qualquer erro.

Beijinhos doces, Milla <3

05 / 04 / 2022

Amarelo, a fórmula da felicidade - beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora