Melhor amigo

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Capítulo 15

Aviso: menção de violência doméstica e abuso sexual.



Quando Niki acordou na manhã seguinte, a primeira coisa que sentiu foi o cheiro de café. Em seguida, sua cabeça doeu, e por fim, ele percebeu que não estava deitado no chão gelado e desconfortável de onde vivia. Em vez disso, estava em um colchão fofo, coberto por um cobertor também fofo. Lembrou-se então de ter sido carregado por Dave até sua casa e puxou o cobertor para sentir seu cheiro. Logo depois, ficou de joelhos na cama e começou a examinar os arredores, observando tudo o que havia ali. Acima da cabeceira, havia uma cruz, o que indicava que Dave era uma pessoa religiosa. Niki nunca havia tido religião, já que seus pais não se importavam com isso, então ele nunca foi batizado ou algo assim. Além disso, ele também não acreditava em céu ou inferno, então essas coisas não tinham importância para ele.

Depois de sair da cama, deu uma volta pelo quarto pequeno. Havia uma mesa ao lado da cama, com um notebook em cima. Niki ergueu a tampa para ver se descobria algo, mas é claro que estava protegido por senha, então não conseguiu acessá-lo e desistiu. Ao lado do notebook, havia uma pilha de livros de medicina, grossos e confusos. Só de olhar para eles, Niki sentiu náuseas. Por fim, foi olhar a mochila que estava em cima da cadeira de madeira em frente à mesa. Era uma mochila preta comum e, além de alguns instrumentos médicos como um estetoscópio, havia também um avental e algumas pomadas de amostra grátis, mas nada mais. Ele até vasculhou os bolsos para ver se encontrava algo como uma camisinha, por exemplo, mas não tinha nada, nem uma moeda. Foi o mesmo com a mesinha de cabeceira. Em cima dela, havia apenas um abajur, e dentro da única gaveta encontravam-se um cortador de unhas e um livro de ficção científica que Niki desconhecia. Na prateleira próxima à escrivaninha, tinha apenas um cacto parecendo meio morto, dois perfumes e um crachá com seu nome, provavelmente do hospital onde fazia estágio. Niki espirrou cada um dos perfumes e cheirou o ar, eles não eram ruins, mas gostava mais do cheiro natural daquele garoto, então deixou para lá. Além disso, suas roupas estavam penduradas no canto do quarto, e alguns sapatos alinhados embaixo. Dave tinha poucas roupas, sendo a mais chamativa a roupa que ele vestiu na ilha, no dia em que se viram pela primeira vez. Ao olhar para ela, Niki sorriu instantaneamente.

Num pequeno móvel ao lado das roupas estavam suas cuecas e meias. As sobrancelhas de Niki se ergueram, sentindo pela primeira vez que tinha encontrado algo interessante. Dave usava cueca boxer, sua favorita. Se tivesse trazido sua mochila consigo, certamente teria roubado uma delas, mas colocá-la no bolso faria Dave perceber. No fim das contas, teve que se contentar em deixar aquilo ali.

Quando ele saiu do quarto, ouviu a voz do estudante de medicina ecoando pelo corredor. Seguiu-a e logo estava dentro de uma cozinha velha, pequena e cheia de infiltrações pelas paredes. Dave estava ao telefone e, ao vê-lo, fez sinal para que se sentasse na cadeira à sua frente e comesse o que estava disponível ali. Niki assentiu, pegando o pão e a manteiga, realmente com fome depois da bebedeira do dia anterior.

— Então a gente se vê hoje às oito — falou Dave. — Beleza, até lá.

Niki ergueu as sobrancelhas enquanto dava uma mordida no pão. Curioso, perguntou do que se tratava.

— Vou jantar com meus amigos depois do estágio — Ele bebeu um gole do café preto. — É meu aniversário.

— O QUÊ? — Niki quase se engasgou com o pão. — Hoje é o seu aniversário?

— É, por quê?

Ele bateu no próprio peito.

— É meu aniversário também.

SparksWhere stories live. Discover now