PRÓLOGO - VICENTE.

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"Não busco a perfeição em ninguém, porque não quero que busquem em mim." - Chorão.

VICENTE

UM ANOS ANTES.

- Como vai ser agora Henrique?

Ouço minha mãe falar, não abri meus olhos ainda, apesar da dor que estou sentindo, encarar o olhar de desapontamento do meu pai vai ser bem pior.

- Eu não sei Luiza, vou conversar com o casal que foi atingido no acidente, quem sabe eles aceitem dinheiro.

- Meus Deus, meu filho poderia ter morrido!

Sinto o peso das palavras de minha mãe, eu realmente poderia ter morrido.

- Você só se preocupa com esse inconsequente, foi ele quem provou o acidente Luiza, você viu o teor alcoólico no sangue do seus filho? - As palavras do meu pai som como um trovão, aumentando ainda mais minha dor de cabeça. - O casal que ele quase matou, estava indo para o trabalho, para o trabalho! Meu Deus eu nem sei como vou conversar com aqueles dois para oferecer dinheiro em troca de silencio.

O silencio que se faz no quarto me diz que meu pai está muito puto, que o melhor a fazer é continuar fingindo que estou dormindo, ouço seus passos pelo quarto, ele está agitado.

- O Vicente merecia ir preso!

Sinto meu peito apertar, há uma chance real de que meu pai me deixe ir para a cadeia, ele vem me avisando que se outra merda acontecesse, não iria me perdoar.

- Pelo amor de Deus Henrique. - Minha suplica. - O que vai ser do meu filhinho na cadeia em meio aquele monte de bandido.

Graças a Deus, minha mãe começa a interceder por mim.

- Seu filho é um delinquente também, e da pior espécie, ele bebeu e assumiu um volante, sabendo  que poderia se matar ou  matar um inocente, como quase aconteceu!

Minha cabeça dói ainda mais, as lembranças do acidente voltam no mesmo instante. Beto e eu estávamos em uma festa em uma boate muito exclusiva, eu bebi demais e ele também, acabei cedendo e usando pela primeira vez cocaína, nunca mais coloco nada dessas substancias no meu corpo, a sensação foi boa no inicio, mas depois vem uma loucura que nada faz parar. 

Foi nessa hora que resolvemos ir embora, com a sensação de que alguém nos perseguia eu acelerei meu minha Ferrari nova, Beto ria também sob o efeito da droga, enquanto Bruna minha ex, que eu não me lembrava em que momento entrou no carro gritava.

- Vince por favor vai devagar.

Não dei atenção ao que ela falava, imerso no ódio que ela me desperta, na magoa que ainda sinto pelo que ela fez, deixo minha adrenalina correr solta pelo meu corpo, a sensação de perseguição era tão intensa que meu medo me fez acelerar ainda mais, ao mesmo tempo que eu curtia a sensação de liberdade provocada pela velocidade.

- Vince a gente vai bater. - Bruna gritou afivelando o cinto ao meu lado.

Entrei em uma curva correndo muito, não vi que sinal a minha frente estava fechado, só vi quando atingi a traseira de uma moto, não sei ao certo o que aconteceu, só lembro que o carro rodou com a freada brusca, quando girei o volante tentando tomar o controle, ele capotou.

- Pode abrir os olhos Vicente, sei que está acordado. - A voz de minha mãe ecoa pelo quarto.

Absorto em minhas lembranças não ouvi meu pai sair.

- Ele já saiu, se é pelo seu pai quem está procurando. 

Minha mãe me encara séria, ela é muito boa em livrar minha barra, sempre foi assim, eu aprontava meu pai vinha me corrigir e ela intercedia por mim. Com certeza, ela deve ter convencido meu pai a livrar minha barra, mais uma vez.

- O que aconteceu Vicente? - Minha mãe pergunta se aproximando da cama de hospital.

- Eu não sei mãe. - Minto, claro que eu sabia o que tinha feito, mais uma loucura.

- Não sabe? - Ela estreita os olhos para me olhar. - Pois eu vou te contar o que aconteceu. Você bebeu e se drogou. - Desvio os olhos dela, por vergonha, sempre fiz muita merda na minha vida, mas usar drogas, foi a primeira vez. - Não adianta querer mentir os exames mostraram.

- Não disse que era mentira.

- Mas diria que eu te conheço bem. - Não retruco, porque certamente era o que eu faria. - Não satisfeito em "curtir" a farra com o bando de desocupado que você anda, pegou o volante e causou um acidente.

- Não me lembro bem de como foi o acidente. Minha mente pega fragmentos do que aconteceu, vejo tudo fora de ordem. Eu acertei a moto em cheio?

- Claro que não. Se não aquele pobre casal não estariam vivos.

Uma sensação de alivia me toma, graças a Deus não matei ninguém.

- Como foi? Não lembro como bati minha Ferrari.

Minha mãe passa as mãos pelos cabelos escovados e impecáveis como sempre, me olha molhando os lábios, eu posso ver a decepção em seu olhar.

- As câmeras de segurança mostraram que você tentou desviar, quando o carro começou a girar, atingiu a lateral da moto, lançando o casal alguns metros a frente, então você capotou uma vez.

- Minha Ferrari? - Pergunto sabendo que deu perda total.

- Sério Vicente, que sua preocupação é se a sua Ferrari está inteira?

Desvio os olhos, eu deveria perguntar sobre as pessoas primeiro, eu sei que fui um idiota, como sempre preocupado comigo mesmo.

- A Bruna e o Beto estão bem, só pequenas escoriações, já o casal a mulher que estava na garupa quebrou a perna, está em cirurgia, o marido quebrou o braço, seu pai foi vê-lo.

- Eles estão aqui?

Pergunto chocado, estamos em um hospital particular bem caro.

- Claro que estão, seu pai fez questão de pagar o tratamento deles, você queria o quê? Mandá-los para o SUS, para que a mulher perdesse a perna e depois nos processasse? 

- Eu ouvi o que ele disse.

- É bom que tenha ouvido mesmo, seu pai não vai te dar outra chance Vicente, se você não tomar jeito ele vai te tirar da empresa e cortar seus benefícios, todos eles.

Sinto meu sangue talhar na veias, não estou preparado para perder tudo, minha vida é boa demais.

- Eu vou mudar mãe, eu vi o fim da vida de perto.

- Eu espero que mude Vicente. - Meu pai fala ao entrar no quarto. - Não estou disposto a te dar uma nova chance.




Esposa por contrato.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora