🪐 • me leve de volta para a noite em que nos conhecemos.

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[🌙]

I had all and then most of you
Some and now none of you
Take me back to the night we met

Eu tive tudo, e então a maior parte de você
Um tanto, e agora nada de você
Me leve de volta para a noite em que nos conhecemos

ㅡ "The Night We Met", Lord Huron.

⸙͎۪۫

Tudo começou em uma noite onde o frio poderia quebrar meus ossos. 

A primeira neve do ano, o cair do inverno, abraçava meu corpo como jamais fora abraçado um dia. Era cheio de ternura, e ao mesmo tempo, um veneno incontrolável. Minha boca secava, meus braços imploravam por calor, de qualquer lugar, mesmo o mais deplorável que existisse. Meus olhos não conseguiam permanecer abertos, e minhas pernas tortuosamente clamavam por um alívio. 

A noite sempre foi minha maior companheira e guardiã, tudo que surgia dela tornava-se meu amparo, as estrelas eram minha casa materna, e a lua, a minha mãe. Ora, quando se vive tão sozinho, precisava-se criar cenários onde a solidão não era assim tão triste, e fazê-la bonita.

É isso que os poetas fazem, não é?

Com muito esforço do meu corpo febril e tão gasto, consegui abrir os olhos. Olhei ao meu redor, vendo a escrivaninha, os livros e a cama onde estou deitado. Tudo em sua mais bela escuridão, na frieza do pó, na surdez do mundo e na cegueira do sol. Era assim que vivia minha vida, ao escuro.

Mas viver é uma palavra muito forte, é forte demais. O meu estado era um ato de sobrevivência, de luta contra todos os meus pecados. O grande Jeon Jungkook. Que passava seus dias deitado numa cama e em profundo luto contra sua própria alma, sua própria vida, que nunca viveu. Era apenas um fragmento entre todos os outros daquela cidade.

E é assim que deveria ser, eternamente. 

Mas como tudo que eu planejo, não aconteceu dessa maneira. 

Vivo essa vida, pois não possuia coragem de tirá-la, pelo menos, não até agora. 

Foi o que pensei quando levantei, sentindo todo o meu corpo pedir ajuda, clamar por socorro, que não lhe foi atendido. Rastejei até a varanda, abri a porta, senti o vento beijando minha pele e matando minha alma, sem nenhum pudor. Deitei-me no chão da varanda, sem camisa, sentindo o ar sumir de pouco a pouco, meu pulmão implorando por um resquício de vida, enquanto eu implorava pela falta dela.

ㅡ Não vale a pena, certo? ㅡ Falei com dificuldade, sorrindo de forma dolorida ㅡ É melhor assim. 

And then I can tell myself

What the hell I'm supposed to do? 

Enquanto meu corpo se desgastava, a neve perdurava sobre mim, perfurando meus ossos. A lágrima caía lentamente, o sorriso se distanciava, o céu mudava sua cor, parecia mais escuro do que nunca. 

Estava em luto. 

E naquele instante, tudo parecia certo. 

Até que ouvi um barulho vindo do apartamento vizinho. Um corpo abrindo a porta da varanda e admirando o mundo lá fora, um mundo totalmente cheio de coisas as quais poderiam ser admiradas. Eu estava deitado, então tive medo de ser visto nessa situação deplorável, gemi pela dor ao tentar me movimentar, minha cabeça girando não ajudava, nada me ajudava naquele momento. Sentei-me na cadeira que estava mais próxima, e finalmente, olhei para a varanda vizinha. 

E meu coração, por mais fraco que estivesse, ousou bater mais rápido. Ousou colocar um pouco de vida em meus batimentos lentos. 

And then I can tell myself

onde o caos é realmente bonito °jjk + pjm°Where stories live. Discover now