𝐶𝑎𝑝 - 6

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Bruno Castellazzo


(..)

Ando devagar pelos corredores do calabouço, o cheiro de podridão arde em meu nariz. Tento manter meu rosto sem expressão, mas o pavor toma conta do meu rosto assim que escuto gritos ecoando pelo corredor. O calabouço é o lugar preferido de papá* para me torturar, seja fisicamente ou psicologicamente. Ouço gargalhadas cruéis vindo do Consigliere* do papá, ele ri do meu medo. Salvatore Ricci é tão cruel como Domenico Castellazzo.

Quando chegamos ao final do corredor vejo papá com um sorriso diabólico nos lábios enquanto alguns seguranças estão espalhados na sala.

- Entre - ordena papá. - Quando estou passando pelas portas um chute me lança para dentro, me fazendo cair de joelhos em seus pés.

- Agindo como uma ragazza*, nunca será um Castellazzo. - Papá cospe no meu rosto com a expressão enfurecida.

- Papá. - Não tive tempo de terminar a frase, um tapa tão forte arder em meu rosto. Sua voz cruel atinge meus ouvidos me fazendo arrepiar.

- Cala a boca moleque. Não permite abrir a maldita boca. - Outro tapa é desferido em meu rosto. Não satisfeito, uma sequência de socos me atinge. Tento me levantar, mas não consigo. Os homens de Domenico me seguram pelos braços. Ouço risadas histéricas dos monstros à minha volta. Sinto meus olhos pesar, gosto de sangue na boca. Não entendia o motivo do ódio de papá, mas quando se trata de mim e os seus treinamentos, ele não media esforços para ser tão cruel.

Quando ele se cansa de atingir socos em meu rosto, papá empurra bruscamente minha cabeça para trás, fazendo-a bater no chão com toda violência. Sinto uma imensa dor e a minha visão escurecendo. Antes de cair na total escuridão, a última imagem que vejo é o rosto diabólico de papá.

(..)

Acordo em sobressalto todo molhado de suor, o sonho foi tão real. Passo minhas mãos na pequena cicatriz que carrego daquele maldito dia, um pequeno lembrete das crueldades do meu progenitor. Porra! O infeliz mesmo estando morto ainda procura meios para me atormentar.

Levanto bruscamente indo em direção ao banheiro, pretendo tomar um banho bem gelado para limpar qualquer vestígio desses malditos pesadelos.

- Queime no inferno maldito Domenico Castellazzo. - grito em fúria, socando a porta de vidro do box. Uma, duas, três.... O sangue mina pela minha mão, mas não sinto nenhum vestígio de dor, pois a pior dor é aquela que carrego na alma. O vidro se parte ao meio me fazendo recuar, pelo barulho estridente logo meus seguranças vão estar invadindo o local.

Escuto meu celular tocar me tirando dos meus pensamentos. Maldição! Vou até a mesinha de cabeceira e vejo o nome do Mattia na tela. Atendo imediatamente dizendo:

- Espero que tenha informação da maldita localização do Lorenzo Marino. - digo irritado observando meus homens vasculhando o quarto.

- Esse é o motivo da minha ligação Uccisore*, estamos com Lorenzo no radar. Precisamos agir rápido. - Sorrio, finalmente irei concluir minha vingança. - Vamos nos encontrar no hotel Palace, reservei um local discreto para a nossa conversa. Eles já estão informados que estamos a caminho. - Essas foram suas últimas palavras antes da ligação cair.

- O que houve senhor? - pergunta Henrico com a expressão preocupada.

- Selecione alguns homens para nos escoltar até o hotel Palace. Mattia acabou de ligar. - digo sabendo que não foi essa a sua pergunta. - E avise o serviço de quarto para limpar a bagunça antes de retornar ao hotel. Quero tudo no lugar, inclusive a porta do box. - ordeno antes de seguir para a outra suíte.

(..)

Durante o trajeto que nos levaria até o hotel, repassei todas as informações que obtive para Henrico. Desde então ele se mantém calado, perdido em seus próprios pensamentos. Meu irmão, assim como eu anseia por vingança. Angelina era como uma irmã para ele. Perdê-la nos destruiu.

Sinto a velocidade do carro diminuir estacionando próximo ao hotel. Descemos em passos largos em direção à entrada do edifício.

Chegando no saguão do hotel, me aproximo rapidamente da recepção.

- Seja bem-vindo ao hotel Palace em que posso ajudar senhores? - pergunta a loira passando a língua pelos lábios carnudos.

- Temos uma reunião com Mattia De Luca.

- Infelizmente o senhor Mattia está atrasado, mas os senhores podem aguardar na sala da reunião. - Troco um olhar com Henrico, ele está tão alerta como eu.

- Vou levá-los até a sala, me acompanhe senhores.

Observo o elevador descer, mas meus pensamentos se voltam para Mattia, onde aquele infeliz se meteu. Era para ele já estar aqui, algo grave deve ter acontecido.

O som das portas do elevador se abrindo me faz voltar a atenção para o reflexo da mulher saindo desorientada pelo elevador batendo de encontro com meu peito. Logo escuto grunhido seguida de algo molhando meu terno e os meus sapatos. O fedor toma conta do ambiente, olho para a coisinha insignificante de cabelos castanhos dobrada em meus pés. A infeliz tosse terminando de jogar todo líquido pegajoso em meus sapatos. Cazzo*! Meus sapatos italianos caríssimos.

Henrico e os demais estão com a expressão de que não estão acreditando no que vê. E eu menos ainda. Não acredito que meus olhos estão contemplando essa cena. Essa desgraçada terá uma morte lenta e dolorosa.

Henrico a pega pelo braço bruscamente, seus olhos azuis se encontram aos meus, eles brilham em lágrimas, sinto minha respiração falhar quando percebo a semelhança com Angelina. Minha estrelinha seria idêntica a essa garota. Dio mio*!

- Senhor, quais são as ordens? - pergunta Henrico me trazendo a realidade. - Solte-a. - imediatamente ele solta seu braço.

- E-eu sinto muito, e-eu não queria. - Ela tenta se explicar.

- Cale-se, suma das minhas vistas antes que eu me arrependa. - Ela engole em seco passando por mim, mas antes agarro o seu braço trazendo próximo ao meu rosto, encosto minha boca próximo ao seu ouvido e digo:

- Muitos fizeram muito menos, e não saíram vivos ragazza agradeça ao seu Deus pela misericórdia. - sussurrei baixinho observando seu corpo tremer. Eu ri, ela sai desorientada pelo corredor.

Me volto para Henrico que têm seus olhos fixos em mim e digo:

- Não vou poder participar da reunião, fique e encontre Mattia. Confio em você. - digo, indo em direção a saída.

Sai em passos rápidos em direção ao carro, meus pensamentos se voltam para a garota petulante dos olhos azuis. Quem é essa garota? Qual é seu nome? Estou fascinado por aqueles olhos cor de céu. Meu lado irracional que aprisiona-la, acorrenta-la, marca-la, mas meu lado racional diz que arrastá-la para esse mundo selaria seu destino. Anjos como ela e Angelina deveriam ficar distantes de homens como eu.

Meus pensamentos são interrompidos assim que ouço barulhos de pneus cantando, saco minha pistola rapidamente ficando em alerta, meus homens se espalham. Visualizo homens de balaclava dentro de um carro em alta velocidade, um deles se levanta do banco do passageiro e joga algo em minha direção que vêm rolando, em um momento pensei que seria uma bomba, mas não, em vez disso e a cabeça do maldito Mattia dentro de um saco plástico transparente com um bilhete. Malditos! Abri o saco rapidamente retirando de dentro o bilhete, percorro meus olhos na folha rabiscada. Eu ri, eles não sabem o monstro que despertaram.

" Estou mais próximo do que imagina Uccisore, o próximo será você. "

Tradução das palavras

¹ Conselheiro
² Papai
³ Menina
⁴ Matador
⁵ Porra
⁶ Meu Deus

SentenciadaWhere stories live. Discover now