Photograph

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MAYA

Fechei a porta do closet quando terminei de dobrar todas as roupas que estavam anteriormente em minhas malas. Respirei fundo, sentindo a estranheza por estar naquela casa de novo. Naquele quarto, principalmente.

Era onde deixávamos nossos amigos descansarem quando a nossa reunião mensal acontecia, em que ousamos beber um pouco mais e jogar conversa fora. Vic e Travis sempre passavam da conta e, de vez em quando, até mesmo Carina se permitia. Mas, eu sempre me prontificava a ficar sóbria com Andrea quando ele ainda era um bebê, porque eu sabia o quanto Carina estava cansada e precisava aproveitar um pouco da vida também.

Nunca, em um milhão de anos, pensei que eu começaria a dormir na cama que não era tão confortável quanto a do meu antigo quarto, mas não havia mais nada que eu poderia fazer sobre aquilo. Já era demais eu estar naquela casa de novo.

Ouvi o barulho da televisão vindo do andar de baixo e resolvi investigar. Deixei o quarto para trás e desci as escadas, vendo Andrea com o volume estranhamente alto demais, até mesmo para ele, que não costumava aumentar tanto.

– Não conversamos sobre o volume da televisão? – o alertei quando cheguei na sala, chamando sua atenção.

Scusa. – disse quando me viu, imediatamente ajustando o volume no controle remoto. – Essa caixa estava aqui no sofá, tinha um HD com a etiqueta Famiglia e eu fiquei curioso. Não quis mexer nas suas coisas, sinto muito.

– Oh... É um pouco pessoal, sim, mas também se trata de você. Qual está assistindo? – perguntei me aproximando dele e me sentando ao seu lado no sofá. Eu não o proibiria de ver lembranças tão lindas quanto as que tinha salvas naquele HD.

– Meu primeiro dia de aula. Você chorou mais do que a mama. – observou divertido enquanto o vídeo na televisão ainda rodava.

PLAY: Photograph, Ed Sheeran (on repeat)

Passei meu braço em volta do seu ombro e ele se deitou em meu peito para assistirmos juntos. A sensação de tê-lo tão perto era maravilhosa, e saber que dessa vez ninguém iria embora, é um alívio.

A filmagem daquele dia passava na televisão em alto e bom som, e um aperto em meu coração começou a me incomodar. Não havia nada que eu não faria para ter a minha família de volta, no entanto, perdoar Carina do dia para a noite não parecia certo.

Mesmo assim, eu sabia que não daria para continuar sem ela. Sabia, porque mesmo depois de seis anos tentando me convencer de que jamais a teria de volta, nunca houve realmente uma ideia de que ficaria tudo bem.

E agora, ela estava bem ali, disposta a fazer de tudo para que voltássemos a ser uma família de novo. No entanto, não havia como as coisas serem as mesmas porque agora haviam feridas que ainda não estavam cicatrizadas, e eu entendia que Carina também as possuía, porque eu não costumava facilitar quando ela esteve aqui.

O castigo pelas minhas atitudes era a minha solidão, maior inimiga e incômodo que eu já tive o desprazer de conhecer. A única coisa que me aliviava um pouco era saber que, pelo menos, meu filho estava aqui, debaixo do mesmo teto que eu, não pretendendo ir embora ou me deixar de lado.

Sua felicidade ao saber que eu voltaria para a nossa casa, onde criamos tantas lembranças boas, não tinha preço algum que pudesse pagar, e mesmo que as coisas estivessem estranhas entre mim e Carina, por ele, qualquer coisa valeria à pena.

"Eu não acredito que você está chorando de novo!" a voz de Carina ecoou pelo ambiente e foquei outra vez no que passava na televisão.

"É claro que eu estou. Ele não quis nem me dar um abraço antes de ir." minha voz chorosa nos fez rir juntos.

take me backWhere stories live. Discover now