A few more minutes

1K 108 26
                                    

CARINA

Há muito tempo eu não via a casa tão movimentada daquela forma. O varal de luzes quentes estava montado do lado de fora, abraçando a grande área de piquenique que Victoria e Travis haviam montado. Eles não pouparam comidas e bebidas para aquilo, o que era de se esperar. Andrea era e sempre seria o "Firehouse baby" junto com Pru. Entretanto, como ela ficava mais com Ben e Miranda e quase nunca ia para a estação, era Andrea quem se tornava a principal atração dos bombeiros. 

Até mesmo Antonio, que tinha certa dificuldade de interagir com pessoas que não conhecia, como Andrea nos explicara, estava à vontade com eles enquanto conversavam. Alice, por sua vez, estava ainda um pouco acanhada, e Maya decidiu assistir a um desenho qualquer com ela no quarto, alegando que assim estaria mais a vontade para conversar com ela de novo e, quem sabe, deixá-la com um pouco mais de vontade de interagir com eles. Não forçaria a barra, é claro. Alice poderia ficar no quarto se assim desejasse. 

E eu, bom...

Eu não parava de pensar naquele beijo.

Não parava de pensar sobre o quão indiferente era a quantidade de anos que se passavam, Maya ainda me conhecia exatamente da mesma forma. Ela sabia exatamente onde tocar e no momento certo para tirar minha sanidade. Sabia exatamente qual movimento fazer para me deixar louca e completamente arrepiada. Apenas eu sabia o quanto desejava aquele beijo desde todo o início daquela confusão.

Encostada na bancada da pia da cozinha, de costas para a janela que me permitia ver o que os outros faziam no quintal, passei a mão pelo meu braço enquanto bebia um copo d'água, com a mente bem longe dali. Desejava mais desesperadamente ainda que aquelas mãos me tocassem outra vez, exatamente como eu estava fazendo. Para cima, e para baixo. Com apertos ora leves, ora firmes. 

– Que cara é essa? – a voz de Vic me tirou de meus pensamentos, e não havia sido uma boa resposta ter engasgado com a água que eu estava tomando. 

– Você me assustou. – disse quando consegui parar de tossir, e a mulher me olhava com um ponto de interrogação em seu rosto. 

– Eu te assustei? Estou te chamando tem uns bons três minutos aqui! – respondeu. – Andrea está contando sobre o dia em que você caiu na pista de patinação, você não quer perder isso.

Dei um sorriso e desviei nossos olhares. Andrea sempre foi a pessoa que fazia o possível para alegrar todos ao seu redor. Não era um problema que isso significasse contar alguns podres meus e da mãe dele, mas claro, tudo dentro do seu devido limite de brincadeira.

– Você não vem? – perguntou quando não obteve nenhuma resposta minha.

Eu e Victoria não éramos as pessoas mais próximas do mundo, ou da estação, mas ela era uma mulher esperta demais. Então, intencionalmente, continuei calada, sorrindo sutilmente, esperando que ela entendesse em meu olhar que eu não sairia dali agora, pois precisava de um pequeno espaço para entender algumas coisas que ainda estavam embaralhadas em minha cabeça.

Como eu imaginava, Vic apertou meu braço e devolveu o sorriso, pegando duas garrafinhas de cerveja na geladeira e voltando para o quintal. Dali, minha visão era ampla. Aquela era a minha família, tudo o que eu tinha. E não que eu já não tivesse notado antes, mas naquele único milésimo de segundo que se passou, minha mente pareceu explodir, e então voltei seis anos no tempo.

Voltei para os olhares forçados, por estarmos exaustas demais para querer a outra por perto.

E então me lembrei dos olhos gentis de Maya quando eu estava surtando sobre o que fazer com Alice.

Voltei para quando não conseguíamos trocar palavras que não fossem acompanhadas de farpas que costumavam nos machucar mais do que, no fundo, realmente queríamos.

take me backOnde histórias criam vida. Descubra agora