Capítulo 5

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Capítulo 5. A Reviravolta

A tensão pareceu tomar conta não só do salão de festas como também do próprio reino, como se cada alma inconscientemente sentisse a mão do ceifador pairando sobre o fio de sua vida. Kaim tremeu diante do homem que o ignorava deliberadamente, como quem evita uma mosca irritante, preferindo muito mais se concentrar na princesa do que nele. O homem engoliu em seco, amargo, embora ele jamais fosse admitir, não gostava de jeito nenhum que fosse ignorado como o ar, principalmente por conta daquela criança inútil.
Porque os deuses não o abençoaram com apenas um príncipe no lugar de duas princesas estúpidas e fracas?

-Cyane minha querida, poderia por gentileza buscar os seus pertences?- Disse a mãe de Cyane para que pudesse ficar a sós com o ruivo e apaziguar a situação. Embora claramente para todos os presentes, a pobre rainha, ou ex, tremia feita uma vara verde.

O Ruivo mirou seu olhar para a rainha destronada, com fogo nos olhos, como ela ousa passar a frente e tomar decisões sem questioná-lo? Não, embora a mulher claramente mal conseguisse olhar nos seus olhos, porque mandar a jovem princesa para pegar suas coisas? Ela não tinha servas? Seria esse um caso sútil de rebeldia para dar tempo a pequena princesa, e futura consorte de fugir? Qual era o esquema?
-Não… A princesa deve vir como está, não precisa de nada deste fim de mundo, tudo que precisa está no palácio real, assim como suas companheiras de vida, as outras concubinas. - O jovem, mas poderoso rei, deu um sorriso de canto de boca, como se não estivesse quebrando o frágil planejamento da mãe abusada de Cyane, que pela primeira vez tentou salvar a filha, observado atentamente o rosto moreno de sua futura consorte, que não escondia em nada o desgosto. Mas isso mudaria. Todas mudavam.

Ganaorra tremeu, apertando as mãos no colo, nervosa. Ela era uma vergonha como mulher, como rainha, como mãe e madrasta, ela nunca pode salvar nada, nem a si mesma do perigo, quanto mais suas filhas do marido e agora… Pelo que podia ver, sua linda garotinha, seu tesouro mais precioso iria seguir seus passos e seria vendida para um homem tão cruel como seu marido. O bárbaro de cabelos ruivos como fogo, exalando um comportamento violento, que respirava o clamor da guerra como madeira alimentando fogo… Sua filha aguentaria?
Sua delicada e gentil garotinha seria quebrada em milhares de pedaços na mão de Alandroal.

Uma voz rouca e viscosa interrompeu os pensamentos emaranhados e tristes da ex rainha, a fazendo levantar os olhos para um homem magro e alto. Um nobre.

-Com licença meu senhor e rei, Alandroal, poderia com sua majestade nos explicar como ficará a questão dos funcionários, já que a Família Racert será destronada, seremos remanejados? -  Ekalaim, deu um passo à frente, soltando uma tosse fraca, ao tomar toda a atenção do salão para si. Ele era o ministro da economia e finanças e também um dos únicos três condes do reino, conhecido principalmente por sua incrível lábia e desenvoltura em palavras persuasivas. O fato era de que o homem esguio, com leves tons de branco já aparecendo nos cabelo e no bigode ser conhecido por ser um parasita que se agarrava a pessoas mais poderosas para se promover, a seu grão benefício não era exatamente um segredo entre os plebeus ou mesmo os nobres, mas ele era o "cabeça" que comandava toda a "diversão ilegal" pelo reino, e, molhando as mãos certas, inclusive ao do antigo rei de Racert, um dos seu mais antigos clientes o tornou praticamente intocável no país.

A atenção de Theo se fixou no homem, avaliando seu terno bem cortado e elegante. O ruivo franziu a testa enojado, pelo seu resultado de inteligência tudo indicava que era ele, Ekalaim um dos apoiadores que defendiam ferozmente a ideia de pegar os nativos indígenas do seu próprio país para transportá los para fora ou mesmo os forçando a trabalhos braçais. Quão lixo pode ser alguém para escravizar seu próprio povo para ganhos pessoais? Simplesmente por eles terem uma vivência diferente da do restante do reino, e não era só isso… A ficha do homem era completa com jogos de azar, tráfico de ópio, escravas sexuaisassasinato.... E só piorava.
Os  olhos de Theo se tornaram tão frios quanto dois cubos de gelo ao processar seu comentário, pois aquele homem em especial que se dizia tão nobre e tratava os supostos bárbaros de seu país como lixo, adorava caçar as indígenas e as estuprar brutalmente. Colocar crianças para serem caçadas e abatidas como animais como esporte, forçando mesmo aos homens em trabalhos pesados e perigosos.  No império que Theo pretendia construir, superstições por causa de diferenças não seriam aceitos… E talvez Ekalaim poderia ser o exemplo perfeito para isso.

Entregue Ao ImperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora