Capítulo um

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Encaixo bem os meus dedos dentro das luvas de látex antes de agarrar os produtos de desinfeção.

Começo por ajustar a altura e a inclinação da mesa cirúrgica, para poder desinfetar e deixá-la preparada na sua posição base. Retiro todos os utensílios que ficaram por usar dos carrinhos e coloco-os na reciclagem. Desinfeto os carrinhos de metal e toda a área do consultório, incluindo o lavatório usado pelos médicos e enfermeiros.

Assim que termino de toda a limpeza, retiro as luvas e desinfeto as mãos com álcool. Encaminho-me para a recepção onde aviso que a sala de cirurgia comum está descontaminada.

Regresso à nossa casa de banho privada e retiro a farda azul, usada especificamente para descontaminação — um procedimento que é feito por mim, apenas há duas semanas, devido à falta de pessoal. Volto a vestir a minha farda branca habitual e coloco o meu crachá de identificação. Troco de máscara cirúrgica e deito a anterior no lixo. Guardo a roupa usada dentro de um saco com zíper e deixo no meu cacifo. Substituo os crocs pelos meus All Star cor de creme e agarro na minha garrafa de água, que se encontra pela metade. Dou um gole rápido e caminho, apressadamente, para a recepção.

Sento-me e coloco o auscultador para estar disponível para futuras chamadas. Verifico as consultas pendentes para o próprio dia e atualizo no Excel de "Gestão de Stock" a diferença nos produtos utilizados para a descontaminação. Dessa forma, quando for contabilizar os restantes produtos no armazém haverá menor margem de erro, o que facilita a contagem e a agilidade do processo.

— Ei... — Viro-me para ver Giulia. — Já reparaste no novo nome? — Franzo o cenho, sem entender.

— Acabei de voltar de uma descontaminação e a única coisa que fiz assim que cheguei foi ligar os nossos computadores e os purificadores de ar. — Reviro os olhos, exasperando. — Que nome tão extraordinário poderá ser esse, para te deixar em pulgas? — Posiciona a sua cadeira ao lado da minha e clica na agenda, de encontro à lista dos médicos disponíveis. Deixa o cursor pousado num nome desconhecido. — Harry Styles?

— Ele próprio. — Gargalha baixo. Olho-a. — Cardiologista, licenciado na Universidade de Leeds.

— E já tens várias informações. Estou deveras impressionada. — Ironizo e volto a prestar atenção à lista de afazeres que tenho para hoje.

— Ainda não terminei. — Vira a minha cadeira para si e bato com as minhas pernas nas suas. — Está solteiro. — Pisca-me o olho. Levo a mão às têmporas e massajo calmamente. Isto vai ser uma longa semana e só agora começamos.

— Giulia podes parar de ser a casamenteira de serviço? Insistes em empurrar-me para todos os médicos solteiros existentes na clínica. Acalma-te. — Volto-me para o computador e respiro fundo.

— Não há nenhuma cláusula no nosso contrato que nos impeça de apaixonarmo-nos. Não há esse tipo de regra, então porque não aproveitar enquanto se é jovem, Grace?

— Acontece que não tenho interesse em ter um relacionamento só porque sim. — Respondo, sem olhar, ao mesmo tempo que crio uma nova pasta no servidor comum da clínica.

— Apaixonares-te... ninguém está a falar de relacionamentos— Interrompo, enquanto fito, séria, os seus olhos azuis. A minha colega retrai-se na cadeira, prevendo o que irei dizer em seguida.

— Não acredito em sentimentos frívolos, banalizados a pontos de todos se relacionarem só porque estar solteiro é viver em solidão. A minha vida não é um status público. Vivo para mim e unicamente por mim. Não preciso de alguém a proibir-me de alguma coisa ou a privar-me da paz que tanto prezo. Gosto demasiado de mim para deixar que alguém me retire o bom senso.

Can I Stay? | Harry StylesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora