Capítulo três

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Pela primeira vez desde que faço turnos na Heale, não ouvi o alarme tocar. Além de não ter acordado cedo, não compareci à aula de abdominais no ginásio e estou quarenta minutos atrasada.

Visto as primeiras jeans que encontro, um crop top rosa e uma camisa simples branca aberta. Calço as All Star cor de creme, agarro nas chaves do BMW e desço pelas escadas do prédio, ignorando o elevador. Conduzo o mais rápido que consigo e agradeço mentalmente ao universo por não apanhar tanto trânsito.

Entro na clínica a suar, depois de imenso tempo à procura de um espaço vazio para estacionar. Mudo de roupa rapidamente e apercebo-me da hora. São quase meio dia e devia ter entrado às dez da manhã. Encho o peito e tento ter coragem para o dia que já começou mal.

Chego à recepção e deparo-me com ele debruçado no balcão, a falar animadamente com Leah. Por momentos, paraliso. Já não o vejo desde quarta-feira passada. Giulia passa por mim e cutuca-me com o cotovelo, trazendo-me de volta à realidade. Passo pelas cadeiras das minhas colegas e Harry cala-se. Sento-me bruscamente na cadeira e abro o email, ignorando-os por completo.

— Obrigada pela simpatia, Leah. Quando precisar, sei para quem ligar. — Engulo em seco, dando conta que me esqueci da minha garrafa de água em casa. — Vemo-nos, mais logo, na reunião. — Vejo como Leah distribui vários sorrisos e mentalmente julgo-a. Quem é que flirta desta maneira sendo que é comprometida?

— Passou-se alguma coisa? — A voz de Giulia faz-me desviar o olhar fixo que mantinha em Leah. Viro-me na cadeira e bato nas suas pernas. A sua feição muda automaticamente. — Ui, alguém está de mau humor. — Comprimo os lábios e franzo o sobrolho. — Hoje temos reunião. Adiantei alguns dos emails. Não te preocupes. — Vira-se sob a cadeira e regressa ao seu lugar. Faço todo o pequeno percurso até ela e a mesma olha-me, surpreendida.

— Há quanto tempo ele estava aqui? — Um sorriso maroto cresce nos seus lábios e arregalo os olhos, dando a entender a importância da minha pergunta. Meu Deus! Qual importância?!

— Bem, eu entrei às dez horas e eles já cá estavam a falar e aos sorrisinhos. Tinham muito assunto por acaso. — Fecho os olhos e respiro fundo. A raiva começa a tomar conta de mim. — Não percebi bem porque ele veio cá. Estão avisados de que qualquer que seja o problema, nós vamos até eles. — Leah no consultório dele? É que nem pensar! Repreendo-me, sem saber o porquê da minha irritação e indignação. Sinto as bochechas a ferver e perco a calma. — O facto é que ele veio até nós e estava aqui desde então. Só tem consultas agora, às doze horas e quinze minutos. Estás preocupada? — Nego. Comprime os lábios e põe as suas mãos sobre as minhas. — Ele estava só a ser simpático. Vi muito bem como fez silêncio quando passaste por ele, sem lhe dar a mínima atenção ou importância. A forma como ele olha para ti é diferente. Confia em mim.

— Diferente como?

— Admiração. Ele admira-te. Tu captas toda a sua atenção. E ele a tua. — Balanço a cabeça, negando, sistematicamente. — Oh, Grace, todos veem como olhas para ele. Ele é um fruto proibido e quanto mais o proibires na tua vida, mais apetecível será. Mais vale, sentires o seu sabor de uma vez por todas. — Pisca-me o olho. Bufo, irritada. — É inevitável. Por mais que tentes evitá-lo, vocês atraem-se, mutuamente, por alguma razão. Resta-te a ti descobrires qual é. — Reviro os olhos. Tira as suas mãos das minhas e suspira. — Foi só uma opinião. Não te preocupes com a Leah, com certeza só estava constrangida. Ele é prepotente. — Concordava consigo. Harry consegue ser muito prepotente, como se ao seu lado fôssemos tão pequeninas e indefesas. A forma como joga com as palavras e as manipula, baralha-me e enfurece-me. Tudo nele revolta-me. Mas porquê?

Can I Stay? | Harry StylesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora