Chapter One

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Encarei o relógio acima do quadro e senti meu sono começar a atingir proporções irreconhecíveis para o ser humano, aumentando a cada vez que o ponteiro se movia lentamente.

Eu estava tentando me lembrar de que logo estaria longe da Sra. Lawth e das equações lineares de segunda ordem, mas as conversas baixas e irritantes das garotas ao meu lado sobre algum jogador do time de futebol da escola e a quantidade absurda de números e letras que pareciam ter surgido no quadro por algum tipo de magia estavam me fazendo mais irritado a cada segundo que se passava.

Virei a cabeça e encontrei Zayn mexendo no iPad por baixo da carteira, os óculos escorregando da ponte do nariz e os lábios franzidos em concentração. A regra de não trazer celulares/tablets era anulada quando se tratava de Zayn porque... Bem, ele era Zayn, o garoto que nem estava ligando para aula e mesmo assim aprenderia toda a matéria se prestasse atenção por dez segundos. Isso me deixava puto pra cacete, já que eu precisava revisar todos os exercícios quando chegava em casa para começar a entender. Em algumas vezes, eu tinha vontade de desenhar pentagramas com sangue no chão do meu quarto para conseguir mais inteligência, mas Jay provavelmente me faria limpar depois e... Nah.

Zayn Malik era a perfeita personificação do que as pessoas costumavam dizer sobre alma errada no corpo certo.

Ele possuía músculos magros e definidos em todo o corpo, mas nunca os mostrava, preferindo cobri-los com camisas longas e moletons de trefoil. O maxilar pontudo sempre estava marcado pelos sorrisos de lado, – que geralmente apareciam quando estava falando de jogos online – porém, nunca maliciosos. Z era um anjo caído se reinventando em meio à matemática, álgebra e geometria analítica. Em alguma outra vida, com certeza devia ter sido um garoto de fraternidade de Harvard. Ele ainda iria para Harvard, claro, mas passaria longe de ser um garoto que beberia barris de cerveja e garrafas de Vodka.

Olhei rapidamente em volta, para todos os rostos repletos de traços entediados e sobrancelhas franzidas, e suspirei baixo ao deitar a cabeça na mesa.

Era o meu último ano. Ao mesmo tempo em que estava feliz, também havia um sentimento estranho me preenchendo por completo. Não somente pela pressão da faculdade e das futuras cartas de aplicação, mas também porque minha vida parecia estar na estaca zero o tempo inteiro, como se estivesse dentro de algum jogo maldoso e alguém tivesse o pausado eternamente.

Eu nunca tinha namorado e já podia prever que acabaria morrendo ao lado de um monte de gatos persas com nomes de integrantes de boybands. Minhas pesquisas no Google se resumiam a "posso adotar uma criança sem me casar?" e até estava revendo a possibilidade de baixar o Tinder para encontrar um garoto que gostasse de Stanley Kubrick tanto quanto eu.

Ou seja, eu era um otário que nunca tinha feito nada de emocionante para escrever sobre. Stephen King com suas experiências épicas me chutaria no saco se me conhecesse. Minha vida seria apática e bosta para sempre.

Ao menos era o que eu pensava.

— Não, sério! Aí no jogo eu lancei a granada neles e eles... — Zayn ergueu as mãos e sinalizou uma explosão da forma como pôde. — Caboom!

Parei no meio do corredor do colégio e me virei para meu amigo, que sempre se animava exageradamente ao falar de partidas de jogos online.

— Caboom? — Perguntei tentando esconder o riso.

Ele deu um tapa fraco no meu ombro e depois puxou a alça da minha mochila, forçando-me a continuar andando em direção ao refeitório que, na hora do intervalo, mais parecia um campo livre para a maior manada de abutres do mundo. Quase todos na escola eram animais, empurrando as pessoas com ombros e quadris para conseguir um pouco mais de purê de batata ou hambúrguer integral.

ephemeralWhere stories live. Discover now