Chapter Five

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Coloquei Orgulho e Preconceito de volta ao seu lugar na prateleira de obras clássicas da biblioteca e percorri os dedos pelas laterais dos outros, lendo os títulos meio apagados rapidamente para encontrar algum que pudesse me interessar enquanto murmurava um trecho de Bohemian Rhapsody que estava preso na minha cabeça desde manhã.

Peguei O Médico e o Monstro de Robert Stevenson e dei a volta na grande estante preservada antes de caminhar de volta para a entrada da biblioteca, folheando as primeiras páginas amareladas com a cabeça baixa e praticamente arrastando os pés pelo chão de madeira escura, deixando a preguiça me tomar por completo. Apenas o pensamento de que eu teria mais algumas aulas a frente foi o suficiente para me fazer grunhir baixo. Eu só queria dormir. No chão estaria ótimo, obrigado.

Quando, já de volta ao extenso balcão onde a bibliotecária preguiçosa estava lendo uma revista sobre uma boyband famosa, ergui a cabeça, me deparei com ele. Foi assim...

Repentino e inesperado. Todo o ar dos meus pulmões pareceu ter sido expulso com um soco certeiro no peito, e não tenho certeza se foi pelo fato de estar vendo Harry após tanto tempo me sentindo um babaca por uma possível paixonite clichê digna de um livro de Nicholas Sparks versão iludido-não-correspondido ou porque ele não parecia... Ele.

As mãos gigantes já não carregavam os inúmeros anéis e, ao invés do casaco do time – que, obviamente, estava comigo –, ele estava vestido com um moletom simples e cinza, a touca escondendo os cachinhos que sempre passaram a impressão de ser tão macios, mesmo que eu não tivesse tocado neles. Se seus olhos me deixaram sem fôlego na primeira vez que vi que eram verdes, agora eles me tiraram todo o oxigênio porque estavam opacos, tão sem vida quanto o livro que caíra no chão no momento em que ele capturou meu olhar de volta.

Com um palavrão sibilado e forçado a sair junto com uma expiração, eu me abaixei e agarrei o livro como se estivesse agarrando a mim mesmo para me manter de pé.

Segurei a capa dura contra o peito e levei alguns segundos a mais que o necessário para me levantar novamente, ajeitando a franja. Foi só aí que descobri que a paixonite à la Nicholas Spark não tinha morrido. De fato, estava bem viva... Muito mais do que os olhos de Styles.

Tentei sorrir como qualquer pessoa normal faria, porém meus dentes eram tortinhos e rugas apareciam ao lado dos meus olhos quando meus lábios repuxavam para cima e talvez tenha sido por isso que não fui correspondido. De braços cruzados, ele tornou a abaixar a cabeça e puxou as mangas do moletom para baixo, cobrindo os dedos e se concentrando no livro posto em sua frente na mesa.

— Tomlinson, não está pensando em roubar esse livro, está? Dê-me aqui para eu registrar.

— Se eu fosse roubar alguma coisa aqui na biblioteca, Sra. Blanc, com certeza seria essa sua revista sobre Liars in Direction. — Virei-me para ela. — Quem não quer saber sobre a vida amorosa de todos os super heterossexuais integrantes?

A Sra. Blanc, uma mulher de bochechas fofas e óculos pontudos sempre pendendo no nariz gordinho, estreitou os olhos para mim ao pegar o livro.

— Essa revista é da minha neta.

— Yeah, claro. — Inclinei-me sobre a bancada, deixando meus pés sem apoio algum no ar. Aproximei-me mais um pouco da Sra. Blanc, sorrindo inocentemente. — Hum...

Há quanto tempo Harry Styles está ali?

Com um revirar de olhos, registrou o livro no iMac e o deu de volta para mim com um gesto impaciente.

— Desde o início da aula.

Após uma olhada ligeira no relógio pendurado na parede bege, constatei que já faziam cinquenta minutos que Harry estava ali. E tínhamos aula de Literatura no próximo horário.

ephemeralWhere stories live. Discover now