Chapter Twenty

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Eu achei que ele estava morto.

Durante os próximos quinze dias, eu enfiei na cabeça que Harry havia se matado não com os comprimidos, e sim com alguma outra coisa de efeito imediato. Meu peito nunca havia doído tanto, e a satisfação de ter conseguido nota o suficiente para poder pular algumas aulas nunca havia sido tão útil. Eu passava as manhãs no banheiro, encolhido no chão, enrolado dentro do suéter de Harry e encarando as paredes limpas. No campo de futebol, os garotos pareciam exasperados, jogando futebol como se estivessem com areia nos olhos e ferrugem na garganta.

Eu entendia.

Liam não sabia de nada sobre Harry, tão desesperado quanto eu, ninguém sabia de algo, e eu não conseguia me conformar. De certa forma, me culpei até o último instante.

Me culpei por ter beijado suas cicatrizes, seus arranhões, e por provavelmente ter tocado a única parte sua sobre a qual ele ainda exercia algum controle. Me culpava quando Jay ia trabalhar e quando eu via todos os rastros de Harry no meu quarto, na minha cama, na Range Rover que Mark havia me dado. Em tudo, Harry estava lá. Parecia uma fixação doente, uma devoção fadada a desaparecer em cada canto do que eu considerava intocável.

Em uma das manhãs, quando a porta do cubículo do banheiro em que eu estava foi aberta, não me surpreendi ao ver Zayn parado ali. Todo arrumado, com o paletó da Wye Hill e a gravata engomada. Abaixei o olhar para o meu suéter, cerrando o maxilar para que pudesse ao menos fazer alguma força para não deixar outras lágrimas saírem.

— Você não me contou — foi o que ele disse. Sua voz estava firme, e ali eu percebi que teríamos aquela conversa porque Zayn Malik nunca falava firme. Ele nunca mantinha sua voz em um nível estável se não fosse para xingar em grego jogadores de jogos online.

Eu sabia do que ele estava falando, sabia que era de Harry. Mesmo assim, perguntei:

— O quê?

— Que você aceitou ficar com Harry mesmo sabendo que ele estava se matando.

Estava.

Então era isso, não era? Mesmo sabendo o que eu estava fazendo, ouvir na voz firme e inteligente de Zayn foi como um balde de água fria. E eu não gostava de coisas frias; preferia abraços quentes, confortos mornos que pudessem me dizer que minha vida não estava indo para a direção errada.

— Zayn–

Eu esperava uma repreensão ou palavras duras, até mesmo um "idiota!". O que recebi foi um abraço tão confortável e quente que foi impossível não soluçar no ombro dele sem soltar uma lágrima sequer, com as mãos agarrando seu paletó tão forte que os nós dos meus dedos chegavam a doer.

— Louis... — sussurrou, passando os dedos pelos meus cabelos. — Bebê, o que você está fazendo?

— Não sei — sussurrei. Era a pura verdade, eu não sabia.

Não sabia por que era tão afastado de Mark e Felicite, não sabia por que pessoas possuíam demônios dentro de si e por que havia conhecido Harry. Não era para mudá-lo, como poderia? Uma pessoa de fora nunca poderia mudar outra. — Eu não sei o que estou fazendo o tempo inteiro.

Eu só queria consertar Harry. Consertar todos os pensamentos ruins dele, mas como eu poderia se nem ao menos consigo consertar os meus?!

— Louis — ele me afastou pelos ombros. Era difícil olhá-lo e ver toda a chateação contida em qualquer pequeno gesto que Zayn fazia. — Você não pode tentar consertar alguém porque pessoas não podem ser consertadas. Pessoas precisam e devem ser amadas.

Amor parecia algo tão fútil naquele momento.

— Eu amo Harry — ergui os olhos, os cílios provocando borrões no canto da minha visão. — Eu o amo, eu o amo, e isso não é o suficiente.

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