Epílogo

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— Acho que essa é a última caixa.

Deixo a caixa de papelão no chão do quarto e me levanto, endireitando a postura ao mesmo tempo em que ouço os estalos que minha coluna faz.

Solto um suspiro baixo, um pouco aliviado por finalmente ter terminado, e coloco as mãos nos quadris, respirando pela boca e enxugando o suor escorrendo pelas minhas têmporas com a palma da mão.

— Tudo bem? — Louis pergunta, um sorriso de desculpas em seus lábios enquanto vem até mim. Me entrega uma garrafa de água e eu aceito de bom grado, murmurando um agradecimento.

— Yeah. Acho que sim. Minha coluna provavelmente vai protestar pelo resto da semana, mas valeu a pena — digo, dando os poucos passos até estar parado em frente à ampla janela que permite uma visão espetacular do campus da NYU. Pessoas lá embaixo conversam, outras também carregam caixas e algumas estão sentadas em diferentes bancos com livros abertos no colo, aproveitando o sol fraco da tarde. — Você pegou um bom dormitório. No último andar.

— E sem um colega de quarto... ao menos até o próximo semestre. Vantagens de ser um aluno na lista de segunda chamada — ouço Louis dizer atrás de mim enquanto destampo a garrafa de água. Tomo um longo gole, rezando para que a temperatura alta do meu corpo seja aplacada com a água extremamente gelada. Antes disso, porém, sinto uma mão familiar e delicada deslizar sobre a base da minha coluna; o que acaba me deixando com ainda mais calor. — Ei, H. Suas costas estão bem? Posso fazer uma massagem depois. Depois que você tomar banho, claro.

— Está falando que eu estou fedendo?

Sua mão pequena, porém quentinha, desliza por baixo da minha camiseta. Pele contra pele e seu toque tão, tão cuidadoso. Fecho os olhos, ouço sua risada baixa e permito-me sorrir também. É o meu som preferido no mundo inteiro.

— Nah — ele diz com toda a calma. Seus dedos fazem o caminho até a frente do meu corpo, e param em cima da minha barriga. Ele acaricia os músculos do meu abdômen devagar, um toque leve e quase inexistente, mas que me faz ficar tenso de qualquer forma. Sua outra mão vem para o meu quadril, e ele afunda o rosto no centro das minhas costas. Sinto-o inspirar profundamente, como se estivesse sentindo o melhor cheiro do mundo inteiro. — Não está fedendo, de forma alguma. Você cheira tão, humm, tão bem.

Engulo em seco ao colocar minha mão sobre a sua através da camiseta, ignorando com força a sensação fria se espalhando pelo meu estômago por causa de um toque... um único toque.

Louis e eu não nos beijamos. Ao menos não como fazíamos antes. Ainda não senti o gosto da sua boca, da sua língua, e tenho medo de fazer qualquer movimento que possa afastá-lo. Ele pediu para que começássemos devagar, passo por passo, avanço por avanço, e respeito e concordo plenamente. Eu nem sequer considerava a possibilidade de tocá-lo mais uma vez ou ter a oportunidade de ver seu sorriso tão perto, mas ele me deu uma chance. Ele ficou e me deixou ficar, e me faz bem como nada poderia. Então, seguro meus instintos e repreendo minhas vontades e cruzo os dedos para que ele não mude de ideia e que aceite ficar comigo mesmo que eu não o mereça.

Não... não, repito mentalmente, a palavra ecoando como gritos dentro de uma arena fechada. Eu o mereço, ele me ama e eu o amo. Ele está aqui comigo porque quer, porque aceitou ficar comigo.

Você merece, Harry.

Viro-me para Louis, para encará-lo, e me deparo com seu sorriso, o que sempre acalma as batidas frenéticas do meu coração. Seu cabelo está um pouco úmido pelo banho que ele tomou na casa de Mark antes de pegarmos o caminho para os dormitórios, e os fios alcançam o topo dos seus ombros. Vestido com a minha camiseta do Packers e calças que mais parecem leggins, eu quase me perco nele. Quase não. Eu me perco de vez.

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