Your lips, my lips

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N/a: A música é Apocalypse - Cigarretes after sex.


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Dipper não saia da minha cabeça desde antes da nossa visita à Cabana do Mistério, mas depois disso meus pensamentos quase sempre continham o moreno. Pinetree. Pines. Dipper. Mason. Nomes demais para chamar uma pessoa. Nomes demais rondando na minha cabeça. "Pinheiros demais" ironizei mentalmente, cada esquina dessa cidade esquecida no fim do mundo me lembrava o Pines, ou então pior, a minha mãe e seus incontáveis quadros de florestas, árvores e pinheiros. Me arrependia todos os dias de ter deixado os quadros dela com minha tia na California, eles deveriam estar empoeirados em um sótão a essa hora e isso me deprimia.

Mordi o lábio e olhei para minha tatuagem, suspirando por fim. Bill Cipher, preso em um triângulo vicioso. Pouco do meu humor havia voltado na última semana, mas não deixava de ser verdade que eu estava vivendo em ciclos. Eu me sentia bem, então me lembrava do acidente e da forma como eu havia sido um péssimo filho para minha mãe morta, então me sentia péssimo; Logo em seguida chegava à conclusão que minha mãe não gostaria de me ver assim e tentava me animar; O ciclo todo se repetia infinitas vezes. Eu não conseguia me livrar da culpa, era como uma âncora amarrada ao meu pé que me puxava sempre para baixo. Ou quase sempre.

Com Dipper era como se o peso fosse reduzido, como se a gravidade deixasse de existir por alguns segundos. Passei a mão pelo rosto, eu não estava mesmo me apaixonando por um garoto que tem tantos problemas quanto eu, estava? Eu não olharia para ele duas vezes se isso fosse um ano atrás, provavelmente nossos caminhos sequer se cruzariam e... Isso seria um desperdício. Eu gostava da companhia dele, igualmente ou até mais dos meus outros amigos da Califórnia.

Bufei completamente descrente de que havia conseguido me enfiar em uma situação como essa. Eu havia chorado na frente do Pines! Não queria admitir, mas isso com certeza era alguma coisa, eu não era do tipo que se deixa comover ou consolar por qualquer um, ainda sim, Dipper sempre me pegava em momentos assim. Fechei os olhos e me lembrei de abraçá-lo... Queria me sentir assim de novo, mesmo que estivesse triste na hora, fazia um bom tempo que não me sentia tão bem com outra pessoa me envolvendo dessa forma.

Não, não. não, era ridículo. Éramos apenas pirralhos tristes que matam aula juntos, nada além disso. Não podia fazer isso comigo mesmo ou com ele, não pretendia ficar em Gravity Falls por mais que um ano... Não queria me prender a nada daqui.


Δ


– Eu estava pensando... – Dipper começou enquanto entrávamos na escola, mas então bufou e mexeu no cabelo – Esquece.

Arqueei a sobrancelha, perguntando mentalmente o que ele gostaria de me dizer, mas como resposta só obtive um olhar de "Eu já disse, esquece".

"Por favor, Pinetree" Pedi ainda em pensamento enquanto lançava outro olhar.

– É só que... Eu queria... – O sinal tocou e Dipper aproveitou isso como deixa para fugir de mim, entrando no corredor lotado de gente. Fui atrás dele e o segurei pelo pulso, percebi pelo canto de olho que conseguimos despertar alguma atenção com isso.

– Pine...

– Bill, acredite em mim, é só uma ideia estúpida – O moreno deu de ombros e eu assenti. Estava tentando não pensar muito sobre isso quando um garoto passou esbarrando propositalmente em nós, olhando por cima do ombro com um sorriso zombeteiro.

– Qual o problema dele? – Perguntei para Dipper, que revirou os olhos.

– Acho que a essa altura, já devem ter percebido que você só anda comigo... Caso seja algo incomum no planeta da California, isso se chama homofobia. Homens não podem ter amizade com outros homens, ou pelo menos não podem parecer tão próximos – Ergui as sobrancelhas, aquilo era mesmo sério? Em que século estávamos vivendo? Que tal na época da peste ou do feudalismo? – Não importa, só... Vamos para a aula.

Amnesia - BilldipOnde histórias criam vida. Descubra agora