49. Attraversiamo

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Roma

Eu ainda sentia o formigamento da ponta do dedo dele tocando nos meus lábios. Coisa que já tinha acontecido há quase uma semana, mas algo naqueles dias amenos de outono não me deixava esquecer.

Era tudo muito bonito, muito doce e atraía lembranças de igual beleza.

Sentada em um café, eu olhava a imponente Roma se estendendo pela calçada. Tons terrosos, pão recém assado, grãos selecionados e um trio de amigos, em seus quarenta anos, conversando animadamente em outra mesa.

Naquela manhã, depois de uma longa conversa com o meu pai, chegamos a conclusão de que nenhum de nós voltaria para Chicago. Nem eu, nem ele, nem Anya. Estávamos um em cada canto do mundo, vivendo nossas próprias vidas e segurando nossos laços através de telefonemas e promessas de que nos veríamos no Natal.

Eu comecei a lembrar de coisas que já estavam há tempos perdidas na minha mente.
Como o dia em que libertei os quinze gatos da minha tia porque ela era uma mulher terrível. E quando coloquei pimenta na cerveja do irmão do meu namorado.

Meus pequenos atos de travessura que me faziam suspirar escondida. Eu parecia inocente demais para qualquer um descobrir minhas peripécias. A única pessoa que sempre sabia era o meu pai.

Tomei um gole do meu café e avistei uma silhueta conhecida vindo na minha direção. Os cachos dourados dançando com o vento e a expressão tênue quando sentou na outra cadeira disponível.

— Me seguindo, Hemmings?

— Claro. Passei o dia pensando e escrevendo músicas sobre você.

Ele fez sinal para a garçonete se aproximar e fez o pedido em italiano.

Claro que ele sabia italiano.

Limpei a garganta.

— Algo sobre o meu humor brilhante ou o caimento do meu cabelo?

Luke fez uma careta e umedeceu os lábios. Em seguida, recitou os seguintes versos.

"Floating on the water / She said love me like you touch me / Blue rock and roll daughter / I'm not the man you see."

Os versos faziam alusão ao que eu havia dito na banheira.

Eu bufei baixinho, mantendo o contato visual no azul ainda mais claro naquele dia de sol.

— Eu nunca disse isso.

— Licença poética.

— Quais outras mentiras você conta em nome da licença poética?

Ele levantou uma sobrancelha e se preparou para me responder, mas fomos interrompidos por duas garotas que o abordaram. Eu cruzei os braços e vesti uma feição serena enquanto ele, gentilmente, tirava fotos e dava autógrafos.

Elas se afastaram, animadas demais para notar que deixaram o pilot com Luke. Ele sequer pareceu notar também.

— Esse foi o septuagésimo autógrafo que eu dei na última hora. Quando eu escrevo meu nome muitas vezes, ele acaba ficando engraçado. Acho que escrevi errado esse último — refletiu.

— São quatro letras.

— Acho que puxei uma perna a mais no u.

— Foi só impressão sua — rebati.

Então, ele se inclinou na minha direção, puxou a minha mão que repousava sobre a mesa e pôs a ponta do pilot na minha pele.

Escreveu "Luke". Eu sequer fiz menção de impedí-lo.

Sex - Luke HemmingsWhere stories live. Discover now