1|𝗘𝗸𝗮𝗵𝗶

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Sina Deinert

— Não acredito que o senhor vai me obrigar a ir, papà. — Há cerca de meia hora tento, a todo custo, argumentar com meu pai.

— Primeiramente, não grite comigo mocinha, eu sou a autoridade nessa casa! — esbravejou absolutamente irritado.

— Eu sei! Me desculpa. — sussurro.

Eu não costumo alterar a voz com meu pai, mas ele desejar que eu participe daquela obscenidade é demais para minha sanidade mental.

— Eu sei que você não quer fazer parte daquilo filha, mas são as leis, não fui eu quem as criei, não posso mudá-las. — retruca.

Papà é um capitão renomeado dentro da máfia e não pode ao menos tentar pular uma simples regra por sua filha amada?

Não quero participar daquele show de carne humana. Sou diferente daquelas pessoas, não nasci para ser uma esposa troféu.

— Mas pai, ninguém vai notar se eu não for. Por favor, não me obrigue a tal coisa. — digo cabisbaixa, fazendo um biquinho que quase sempre funciona com ele. — Por favor. — Me esforço ainda mais na expressão de cachorro pidão.

— Não posso, principessa, são as re... — Seu celular começa a tocar e ele levanta o dedo me pedindo um minuto.

Como sei que não durará só um minuto, me levanto, fazendo um barulho agudo quando arrasto a linda cadeira preta aveludada de seu escritório, passo pela porta batendo-a atrás de mim.

Não sei como meu pai consegue me obrigar a fazer uma coisa dessas, qual o problema dele?

Qual o problema de todos os homens dessa máfia maldita?

Mas, acima de tudo, qual é o problema daquele cretino que se diz capo?

Isso não é normal. Tudo bem que nada no meu mundo é normal, mas essa idiotice supera qualquer coisa. Como os pais podem oferecer suas filhas de mão beijada, como se fossem um pedaço de carne ambulante.

Chegando ao meu quarto me jogo sobre a cama e fico encarando o teto, tenho vontade de chorar, mas nunca choro por besteira. Sou forte.

Não foi fácil conviver com o fato de que meu pai sempre sonhou em ter um herdeiro, mas minha mãe não pôde lhe oferecer esse privilégio de ser pai de um filho homem.

Muitos dos homens que vivem no meu mundo com certeza iriam procurar outras mulheres para terem filhos homens, mas meu pai sempre amou muito minha mãe e se conformou em ter apenas uma menina, com isto ele acabou fazendo o que nenhum pai da máfia jamais fez, me transformou em um soldado feminino.

Claro que escondido de todos.

Digamos que sou um soldado encubado.

Ele me ensinou tudo que um homem feito aprende, eu sei lutar, desarmaria um homem desprevenido facilmente, e o melhor de tudo foi ele ter me ensinado a atirar.

Modéstia à parte sou uma ótima atiradora, poderia facilmente fazer parte da elite da máfia, e por isso me considero melhor do que muitos desses homens que se acham o centro do mundo, mas não chegam aos meus pés.

E sabe o quê mais? Faço tudo isso em cima de um salto de quinze centímetros.

Abro minha gaveta do criado mudo e tiro de dentro dela meu bebê, uma Glock G25 calibre 380, pela qual tenho verdadeira admiração e apreço, foi o primeiro presente que eu ganhei e realmente me cativou.

Tudo bem que ganhar roupas boas e lindos sapatos também não é nada mal, mas nem toda roupa do mundo se compara a uma Glock G25. Lembro-me como se fosse hoje a primeira vez que atirei com ela, acertei bem no meio do alvo.

𝗧𝗵𝗲 𝗖𝗮𝗽𝗼'𝘀 𝗰𝗵𝗼𝗶𝗰𝗲|ⁿᵒᵃʳᵗOnde as histórias ganham vida. Descobre agora