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Miguel estava exausto pela viagem e ansioso para o que viria no dia seguinte, seu primeiro dia de treinamento. Finalmente tinha saído do fim de mundo onde estivera alocado nos últimos dois anos e agora ia servir em uma base maior, teria a chance de pilotar aviões que não estivessem caindo aos pedaços e com mais frequência. Havia provado seu valor e se destacado o suficiente para conseguir esse novo posto, estava em ascensão e mal podia esperar. A verdade é que não era muito ambicioso, mas amava voar. E saber que poderia fazer isso cada vez mais e melhor era o que o fazia levantar da cama toda manhã. Mas antes de começar a servir na nova base, tinha um mês de treinamento pela frente. A cidade era à beira-mar e dominada por turistas que queriam visitar as belas praias e militares que vinham fazer parte de testes e programas de treinamento. Era um lugar tranquilo e bonito, perfeito para passar um mês. Claro que sabia que teria muito trabalho, estava bem longe de estar de férias, mas ia aproveitar o contato com a natureza e a paz de espírito tanto quanto possível.

Tinha que estar pronto às 6h do dia seguinte para o primeiro encontro onde conheceria o oficial instrutor de sua turma. Esperava que não fosse um dia apenas de teoria e conseguisse pelo menos chegar perto de algum avião, mas não queria criar muita expectativa. Eram 20:18 e estava com energia demais, sabia que se fosse diretamente para a base, se acomodasse e tentasse dormir antes das 21h ia acabar tendo insônia e rolando na cama a noite toda. Se aproximou do bar, o único estabelecimento ainda de portas abertas na cidade e decidiu tomar algo que o fizesse relaxar. Não tinha o costume de beber muito, sabia que uma ou duas cervejas seriam suficientes para socializar com os companheiros e relaxar o suficiente para dormir melhor. Ao entrar, encontrou um pequeno grupo que reconheceu imediatamente. Tinha visto as fotos dos companheiros na ocasião da convocação e era muito bom com rostos e nomes. Se aproximou e se apresentou, sentando ao lado deles e se inteirando do assunto. Estavam todos ansiosos para o dia seguinte e não conseguiam falar em outra coisa, pelo menos até ele aparecer.

Miguel evitava muito falar sobre sexo e romances perto de outros militares. Todo mundo sabia que vários dos homens eram gays e bissexuais, inclusive falavam abertamente sobre suas conquistas, mas sempre fora de ambientes institucionais e sempre em um tom que o incomodava demais, como se pudessem ficar com quem quisessem sem se tornar menos homens, desde que seguissem certos padrões estéticos e de comportamento. O pior deles era tratar seus alvos de sedução como objetos, como se estivessem ali para servi-los e serem descartados. Porque um homem de verdade é sempre agressivo, não se envolve e é obviamente ativo. E, na opinião dele, bem egoísta. Que tipo de homem só pensa em receber e não dá nada em troca? Certamente não Miguel Díaz. Então preferia evitar o assunto e não criar conflito.

Mas dessa vez, o assunto foi entregue a ele de bandeja, literalmente. O garçom se aproximou da mesa e Miguel quase desmaiou. Não achava que ele tinha mais que uns 22 anos, e era a pessoa mais linda que já tinha visto. Tinha a pele branca, mas bronzeada pela vida no litoral. Cabelos ondulados que chegavam até o pescoço e emolduravam o rosto bonito de forma muito harmoniosa. O maxilar era perfeito, as bochechas tinham um tom levemente rosado e Miguel podia apostar que ele ficava vermelho muito facilmente. Os lábios eram de um tom de rosa delicado, cheios e largos. Queria ver o sorriso dele mais do que quis ver qualquer outra coisa antes. O nariz era delicado e combinava perfeitamente com o resto do rosto, inclusive os olhos verdes que brilhavam como estrelas quando refletiam a luz. Por um momento pensou que estava vivendo uma daquelas cenas de filme em que alguém se apaixona à primeira vista ou vê um anjo e é incompreendido pelas pessoas em volta. Mas quando voltou ao presente, viu que os companheiros também tinham reparado na beleza do outro.

"Vocês querem mais alguma coisa?" Ele perguntou educadamente.

"Talvez o seu telefone, doçura." Paul respondeu. Miguel quase revirou os olhos.

Voando Alto (kiaz/Robbiguel)Where stories live. Discover now