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O dia amanheceu tão bonito e quente quanto Miguel esperava. Era quase triste ter que se levantar às 5h e estar pronto para trabalhar às 6h em pleno verão, numa cidade litorânea. Mas ele não iria reclamar, afinal fazia o que amava e era isso que importava. Tomou um banho rápido e frio como as acomodações permitiam e partiu para o refeitório para tomar café com os outros. A maioria estava no mesmo barco, muito animados para o primeiro dia real de treinamento, sem mais introduções, mas morrendo de sono e vontade de escapar e aproveitar a manhã em uma das belas praias das redondezas.

"Tira a mão, Eli. Você já comeu o seu." Demetri disse e deu um leve tapa na mão de Hawk. Eram amigos de infância e isso tornava muito engraçada a forma como interagiam, o primeiro era o único capaz de chamar o outro pelo nome verdadeiro e obter resposta. Quando Miguel estava com eles, se sentia em família, eram como seus irmãos. "Ai, Dem, precisa ser tão grosso? Eu tô com fome."

"Que foi agora? Brigando a essa hora da madrugada?" Miguel perguntou rindo.

"Eli comeu o maldito enroladinho dele sem nem mastigar e agora quer atacar o meu." Demetri denunciou.

"Tava tão gostoso, só pedi um pedacinho!" Hawk respondeu, indignado.

Miguel se divertia cada vez mais e apenas esperava que todos os problemas deles continuassem assim. "Toma, Hawk, pode pegar o meu. Deixa o Demetri comer em paz."

"Obrigado, Serpiente!" Hawk disse animado.

"Mas vê se mastiga essa merda direito, senão nunca mais te dou nada." Miguel avisou e deu um sorriso cúmplice a Demetri, que revirou os olhos. "Não encoraja ele, Diaz." Demetri nunca usava codinomes. Era sua marca registrada.

"Vocês querem ir à praia hoje depois do treinamento? Já acordei pensando nisso." Miguel sugeriu, esperançoso.

"Praia na segunda-feira? Deve estar vazia. Nem vai ter umas garotas legais pra conhecer."

"Como se alguma delas fosse te dar bola... Eu topo. Odeio praia lotada." Demetri disse, ignorando o olhar ofendido do amigo.

"Ótimo! Agora a gente só precisa torcer pro dia ser tranquilo."

-

Não estava sendo nada tranquilo, nem um pouquinho. A parte teórica e estratégica com o Coronel LaRusso havia sido desafiadora, mas recompensadora na mesma medida. Cada ideia que eles tinham era questionada e tudo que eles sabiam era posto em xeque. Sabiam que o instrutor tinha muita experiência e uma mente brilhante, mas não esperavam que tivessem tantas novas informações a absorver. A cabeça de Miguel estava a mil e ele mal podia esperar para colocar isso em prática e voar.

Era exatamente aí que morava o problema. Quando foram ao hangar conhecer os aviões que pilotariam durante o mês, foram apresentados também ao Capitão Lawrence. E foi assim que descobriram o caos que era a dupla, carinhosamente apelidada de Lawrusso. Os dois tinham estilos de vôo e combate completamente diferentes e isso se refletia na forma que ensinavam.

Daniel era brilhante, estratégico, paciente. Não era a pessoa mais calma do mundo, mas sabia o limite de seu temperamento e usava isso para fazer as coisas sempre no tempo que achava certo, da forma que planejava. Acreditava fortemente que uma boa estratégia era o melhor caminho e que o sucesso do trabalho em grupo dependia de equilíbrio e disciplina, além do comprometimento aos planos traçados. Não achava que o medo era algo ruim e deixava isso claro, mas sempre frisava que ele devia servir como alerta e jamais paralisá-los. Deviam aceitar o medo, encará-lo e vencê-lo. Sempre estava disposto a tentar de novo e fazer o que tivesse que fazer quantas vezes fosse preciso para alcançar o padrão que achava necessário.

Johnny era talentoso, enérgico e criativo. Sempre que algo dava errado, pensava em maneiras de resolver ou contornar o problema e era muito inovador. Não era nem um pouco paciente, mas era muito esforçado e não tinha medo de experimentar coisas novas. Amava improvisar e achava que planejar demais era limitante e perigoso, que um bom piloto devia estar sempre pronto para começar do zero sem tempo de pensar. Também dizia que medo era para "mulherzinhas". Trocou por "bebezinhos" assim que viu as caras de desagrado de Tory e Aisha. Sua ideia de trabalho em equipe era muito mais competitiva que colaborativa, achava que se todos tentassem ser os melhores, isso faria o grupo melhor.

Voando Alto (kiaz/Robbiguel)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora