22 - ABRIL 1865 - parte 2

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Talvez para quebrar o clima tenso que estava no complexo, talvez porque fazia tempo que eles não se divertiam, vários dias depois desse encontro incômodo fomos todos comer em um lugar chamado Yokubō. Me vesti de homem, coloquei capuz e tirei a máscara apenas na hora de passar pela entrada por questões de regras do local. Alguns pareciam sentir um certo incômodo de levar uma mulher em um dos bordeis da cidade, incômodo que foi logo esquecido quando estávamos lá.

Chegamos a uma sala grande reservada apenas para nós e nos acomodamos em qualquer lugar.

– Que se dane! – Natsu gritou – Hoje eu vou festejar às custas de Satoru! Estou tão emocionado que acho que vou até chorar. Hoje é a noite do Satoru, pessoal! Bebam o quanto quiserem e esqueçam seus problemas!

– Ei – Satoru falou quase em um rosnado – Você ficou louco?

– Ah! Hoje eu vou beber até cair – Tatsuo falou também bastante animado.

– Nem todo mundo pode beber – Tashiro falou sem tirar o sorriso.

Senti uma pontada de culpa e tristeza por isso e resolvi internamente acompanhá-lo sem a bebida.

– Há mais o que fazer do que beber – Yukio disse tentando animar o amigo – Você sabe... comer, por exemplo.

– Sim – Tashiro respondeu sorrindo – Você está certo. Que se dane, hoje quem está pagando não sou eu mesmo. Então, por que não?

Não precisava ser um gênio para saber do que eles estavam falando, mas gostei da maneira camuflada em que foi dito.

A porta do outro lado da sala se abriu, revelando cinco belas garotas; entre elas, uma se destacava, provavelmente a "anfitriã" (Oiran), ou como quer que se chamem as cortesãs de alto escalão nesses estabelecimentos.

– Boa noite, senhores. Obrigada por terem vindo – ela falou com a voz melosa e animada ao mesmo tempo.

Ela usava um lindo quimono e mantinha um sorriso que era de alguma forma deslumbrante e recatado. Sua pele era branca como porcelana, com suaves reflexos vermelhos nas bochechas. Seus lábios pareciam macios e carnudos, e seu cabelo negro brilhava a luz. Até eu era capaz de ver a beleza oculta por trás de toda a maquiagem dela. Por um momento, olhei com admiração por sua beleza, mas então a característica sensação de que havia alguém mais além de seres humanos ali me despertou do pequeno transe. Ela me olhou e algo cintilou em seus olhos avermelhados, mas sumiu quase imediatamente e vi seu sorriso alargar.

– Meu nome é Keiko e irei entretê-los esta noite – ela seguiu com sua voz sedutora – Por favor, divirtam-se. A comida chegará em breve.

Quando a comida chegou, a festa de fato começou, mas eu não conseguia afastar a sensação que eu havia tido com a chegada das garotas.

– Cara – Tatsuo disse completamente bêbado já – Saquê caro é muito diferente! Ele desce tão suave!

– Você nem tocou na comida, Tatsuo – Natsu disse cutucando-o – Se você continuar bebendo com o estômago vazio, vai ficar mais bêbado antes mesmo de ter a chance de se divertir.

– Tanto faz – Tatsuo disse rindo – Você sabe quantas vezes eu consigo beber tão bem? Nunca! Me encher de comida seria apenas uma perda de espaço no estômago!

– Você parece um vagabundo – Satoru disse rindo – Vamos beber mais então.

– Calma – Tatsuo disse – Só porque você bebe como se houvesse um buraco no seu estômago não significa que o resto de nós consegue fazer o mesmo. A única que consegue bater seu recorde é a Ambar – Tatsuo apontou para mim e eu olhei para os lados para o caso de alguém ter ouvido.

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