Capítulo 38 - Juliette

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Juliette

Abri meus olhos e senti uma paz tão grande, não fazia ideia de onde estava, mas me sentia bem ali. Não conseguia me lembrar de nada, apenas olhava aquele mar e prestava atenção nas ondas grandes que quebravam nas pedras próximas da praia, sentia a areia quente nos meus pés e o calor gostoso do sol era como um carinho na minha pele que estava gelada. Avistei alguém vindo em minha direção, senti meu coração disparar e um frio percorrer todo meu corpo, corri o mais rápido que pude, mesmo sem acreditar no que meus olhos viam, quando me aproximei eu a abracei  e as lágrimas caíram sem dó, eu coloquei minhas mãos em seu rosto me certificando que ela estava mesmo ali, tinha tanto para dizer, mas nenhuma palavra saiu de minha boca. Era como seu eu não soubesse mais como pronunciar um único fonema, apenas a olhava e chorava, ficamos assim por um bom tempo, ela deitou em meu colo e eu fiquei ali acariciando seus cabelos enquanto ela me olhava, com o mesmo olhar de sempre, só que era um olhar de paz, ela parecia feliz, mas também não pronunciava uma única palavra. Conversamos através do olhar, entendi que ela queria que eu voltasse, mas eu só queria estar ali com ela. Depois de um tempo ali, ouvi uma voz me chamando longe e me pedindo para voltar, ela me olhava dizendo para eu ir, mas eu negava. Tampava os ouvidos, me negava a escutar quem quer que fosse que quisesse atrapalhar aquele momento. Permaneci ali e ela mesmo contrariada me fazia cafuné nos cabelos, era tão bom. Como eu senti falta disso. Agora  reencontrei minha paz que eu perdi desde que ela se foi. Não tenho ideia de quanto tempo aproveitei daquele carinho, mas ouvi algo que senti meu peito doer, um choro de bebê me fez sentir que eu precisava  voltar. Olhei para ela desesperada não queria ir, mas ela me sorriu como se quisesse dizer que estava tudo bem e que ficaria feliz se eu voltasse. Chorei e a abracei, o choro foi aumentando em meus ouvidos e eu me vi flutuando e quanto mais o choro aumentava mais alto eu subia e mais longe dela eu ficava, ela foi ficando lá, pequena, pequeninha.

ISRAEL

Quando cheguei ao hospital todos estavam desolados, no quarto dos bebês estavam apenas a família de Rodolffo. Débora, Huayna e o restante dos amigos da Ju estavam todos na capela pedindo por um milagre. Rodolffo estava sedado e seu Juarez estava ao seu lado arrasado, eu o abracei e disse que estava ali para o que precisasse, segurei no ombro de Rodolffo e vi ele abrindo os olhos, não sei explicar mas ele me olhou de um jeito tão sereno e me abriu um sorriso que senti uma paz me invadir, sem dizer uma palavra ele voltou a dormir e eu não sei porquê, mas vi meu pai nele. Por mais que não fosse o momento, uma onda de felicidade se apossou de mim, eu cheguei ali transtornado como todos, mas agora sentia uma paz e uma certeza de que tudo daria certo. Ouvi Maria Luísa chorar e dona Vera se levantou para pegá-la, mas eu a impedi dizendo que podia ficar tranquila que eu levaria ela para uma volta e a faria dormir novamente.  Fui andando para o lado da UTI onde eu sabia que a Juliette estava, algo me dizia que se ela ficasse próxima da mãe ela se acalmaria. Por mais que estivesse com uma criança berrando em meus braços, parecia que ninguém se importava, apenas sorriam para mim e deixavam que eu caminhasse por onde quisesse, quando cheguei na porta da ala onde a Juliette estava internada, Maria Luísa berrou a plenos pulmões, eu a ninei como fazia com a Duda, com Raelzinho e com Cecília e como num passe de mágica Maria Luísa se acalmou e mesmo dormindo ela sorriu gostoso, eu me permiti sorrir também. Uma movimentação de médicos me tirou daquele momento mágico. Algo estava errado e era bem onde Juliette estava, perguntei para uma enfermeira o que estava acontecendo e ela me sorriu:

- Um milagre! Juliette acordou.

Mesmo achando difícil de deixarem eu pedi para vê-la. A enfermeira simplesmente disse:

- Eu não estou vendo você entrar. - E piscou para mim.

Entrei e encontrei Juliette um pouco atordoada no meio de tantos médicos, quando ela me viu ela chorou esticando os braços para pegar a filha, olhei para um dos médicos que assentiu, então entreguei Maria Luísa em seus braços. Ela sorriu me agradecendo e me perguntou com certo receio:

Sonho de Amor - 2ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora