3.

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— Algo ronda a sua cabeça — afirmou ele.

— Sim — assentiu ela —, queria falar contigo sobre uma decisão que tomei.

— Comigo? Por que comigo?

— Porque você é meu amigo mais antigo, e provavelmente me conhece melhor que ninguém. Ademais, preciso de uma opinião sincera.

— Muito bem, de que se trata?

— Estou pensando em ter um filho.

Aquelas palavras bateram no cérebro de Christopher como se tratasse de uma parede. Sacudiu a cabeça, tratando de dar-lhes sentido, mas foi inútil.

— Não sabia que... Que estava saindo com alguém — comentou Christopher sem a olhar nos olhos.

— Não saio com ninguém.

Graças a Deus, pensou Christopher de imediato, involuntariamente, sentindo um imenso alívio que associou simplesmente a um instinto de proteção para ela. Tinha-lhe um grande afeto. Tinha-a amado louca e inutilmente, durante anos, e tinha sofrido uma imensidão quando Dulce começou a sair com outro. Mas tinha sabido dominar sua abstenção e casar-se com uma mulher maravilhosa, Wendy. Dulce e ela tinham ficado amigas e nada mais. Wendy costumava assistir aos almoços mensais, dos velhos tempos. Era natural que sentisse afeto por Dulce, fazia parte de seu passado.

— Christopher! Você está bem? — perguntou Dulce ao vê-lo calado —. Não pretendia assustá-lo.

— E se não sai com ninguém, como é que... pensa ter um filho?

— Para isso servem os bancos de esperma.

— Os bancos de esperma? — repetiu Christopher incrédulo.

— Sim, guardam esperma congelado — explicou Dulce ruborizando-se, sem olhá-lo nos olhos —. De fato, fiz já uma série de teste de fertilidade, e me recomendaram vitaminas e alguma outra coisa. Supõe-se que sou uma candidata perfeita para a gravidez. O único que tenho que fazer é eleger um doador e iniciar o procedimento.

— O procedimento?

— De inseminação artificial. Selecionei já alguns candidatos, mas queria conhecer sua opinião — acrescentou Dulce pondo uma pasta em cima da mesa e a estendendo para ele.

— Diga-me que não está falando sério — Dulce calou —. Demônios! —exclamou Christopher passando a mão pelos cabelos —. Fala sério, Dul... Por que? Por que assim? E por que agora, precisamente?

— Vou completar trinta anos em novembro, Christopher — afirmou Dulce com calma —. Quero ter família. Filhos — corrigiu-se —. Quero ser mãe enquanto seja jovem ainda, e tenha energia para criá-los e os desfrutar.

Entre linhas, caladamente, surgiu em ambos à lembrança da desgraçada e solitária infância de Dulce. Christopher recordava seus sufocantes avôs, sempre censurando, incapazes de perdoar a sua filha por ter ficado grávida estando solteira. E, quanto à mãe de Dulce... Bom, o melhor que tinha comentado a respeito dela a mãe de Christopher, que nunca tinha falado mal de ninguém, era que "não teria estado a mais que mostrasse um pouco de carinho por sua filha".

— Trinta anos não é tanto — argumentou Christopher —. As mulheres agora têm filhos com quarenta. Por que não espera um pouco mais? Pode ser que mude de opinião.

— Não lhe peço a opinião para que me critique — contestou Dulce com dureza —. A decisão está tomada. Só queria saber que pensava sobre a escolha de doador, mas esquece — acrescentou retirando a pasta, que ele agarrou imediatamente.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora