37.

225 13 0
                                    

— Comprei-o porque era solto na cintura. Pensei que me cairia bem, se tivesse que ir a algum lugar elegante. Não sei se me caberá.

— Ah! — exclamou Finn contemplando sua barriga —. À velocidade que cresce, cedo não poderá se pôr mais que uma calça de moletom.

— Ora, obrigada. É de grande consolo.

— É um prazer.

Dulce e Finn tinham conseguido uma grande camaradagem, e ela estava encantada. Quando começou a se levantar da cama, ele lhe mostrou um a um os cômodos da casa. Jogavam cartas, jogos de mesa, e Dulce deixava-o ganhar, para vê-lo contente. Finn cuidava-a e dava um escândalo, se necessário, contanto que ela descansasse. Dulce adorava-o.

— Finn...

— Humm?

— Gosta de crianças?

— Acho que sim — contestou ele saindo do armário —. Nunca tive muita relação com elas, era filho único.

— E eu. O que sei sobre crianças caberia na cabeça de um alfinete.

— Pois espero que aprenda depressa — sorriu Finn.

— Sim, eu também — contestou Dulce vacilando um momento —. Vai ficar conosco, quando esses dois pequenos terremotos correrem pela casa, quebrando tudo e deixando pedaços de vasos nos tapetes?

— Pergunta sério, verdade?

— Christopher precisa de você. E eu. Não poderia me ocupar de uma casa tão grande como esta, com dois meninos e uma galeria que atender.

— Não me vou ir a nenhuma parte — afirmou Finn —. Christopher é ótimo. É amável e... tolerante. Deu-me uma oportunidade, quando a precisava, e isso não posso esquecer. Eu fui à Universidade — acrescentou olhando Dulce nos olhos —. Meu colega sentimental tinha dez anos mais que eu, tinha dinheiro, era muito sofisticado... Jamais precisei trabalhar. Depois ele ficou doente, e quando morreu me senti perdido. Não tinha nenhuma habilidade especial, ninguém a quem cuidar... Quando minha tia me disse que Christopher precisava de um mordomo, me senti imensamente agradecido, apesar de ser uma oferta temporária.

— Christopher... Nós estaríamos perdidos sem você. Suponho que tenha saudades de Wendy, tanto como ele.

— Wendy era uma mulher muito doce — afirmou Finn com os olhos fixos na roupa —. Foi terrível, quando morreu...

— Sim, eu a conhecia — afirmou Dulce incapaz de resistir o olhar —. Era perfeita para Christopher.

— Não sabia, Christopher me contou que são amigos desde meninos, mas não sabia que... — Finn enxugou as lágrimas sem ocultar sua dor —. Sinto muito, Wendy e eu estávamos muito unidos.

— Claro — contestou Dulce arrependendo-se de ter iniciado aquela conversa, sentindo-se num segundo lugar.

— Parece cansada, por que não tira uma sesta? Posso terminar isto depois.

—Sim, o farei.

Depois da saída de Finn, Dulce demorou muito para dormir.

Christopher não voltou a tocá-la por muito tempo, exceto por alguns castos beijos no rosto. Dulce foi à consulta do médico ao completar doze semanas de gravidez, e este lhe reduziu a medicação. Para desgraça de Dulce, as náuseas não diminuíram. Ao completar as catorze semanas, o médico voltou a prescrever-lhe o tratamento completo. Também lhe fizeram outra ecografia. Então, os fetos tinham já forma humana.

— E não só isso — disse o técnico—. Querem saber o sexo?

— O que acha? — perguntou Dulce a Christopher.

— Não sei se poderia suportar o fato de não saber — sorriu Christopher —. E você?

— Não sei gosto das surpresas, mas temos muitas coisas que comprar. Não seria ruim saber a cor, antecipadamente. De acordo — repôs Dulce respirando fundo —. Diga.

Christopher tomou a mão de Dulce e entrelaçou os dedos de ambos com força. O técnico sorriu e contestou:

— São meninas. Rosa.

— Meninas! — exclamou Dulce —. Sapatilhas de balé. Fivelas para o cabelo.

— Bolas de futebol — contra-atacou Christopher —. Não sejas feminista — acrescentou se inclinando para beijá-la —. Felicidades, mamãe.

— Digo-lhe o mesmo papai — contestou ela lhe devolvendo o beijo.

Ao sair do hospital, não foram diretamente a casa. Christopher levou-a às compras. Tinham comprado móvel infantil semanas atrás, de maneira que foram diretamente ao departamento de roupas.

— Escolha o que quiser. Em rosa, com fitas, laços, o que seja. Eu vou buscar um par de trajes de beisebol que vi por aí.

Em lugar de voltar com trajes de beisebol. Christopher voltou com dois gorros de beisebol pequenos da equipe de Rede Sox. Dulce tinha escolhido alguns vestidos, mas nem estavam cheios de laços e, tecnicamente, nem sequer eram rosa. Enquanto pagavam Dulce contou entusiasmada ao caixa que acabavam de se inteirar de que iam ter gêmeas.

— E já sabem que nomes lhes darão?

— Não, ainda não — contesto Dulce olhando Christopher —. Nem sequer falamos disso.

Naquela noite Christopher comunicou a Dulce que jantariam na sala de jantar. Ela se levantou da sesta e se vestiu. Sempre tinham jantado no quarto ou na cozinha, de modo que aquilo era uma novidade. Christopher esperou-a ao pé da escada, sorrindo e oferecendo-lhe a mão.

— Muito linda, ainda que suponho que precisará de um vestuário novo.

— Só calça de moletom, segundo Finn. Você também está muito lindo.

— Pensei que devíamos celebrar — explicou Christopher —. Saber que são meninas parece que se faz ainda mais real.

— Sim, é verdade — contestou Dulce admirando a mesa que Finn tinha preparado, com candelabros, e a vela acesa —. Sinto-me decadente, quando alguém me serve o jantar assim.

— Eu já superei — riu Christopher —. Gosta de como cozinha Finn? Se você prefere preparar a comida posso lhe pedir que...

— Não, céus! — sorriu Dulce —. Acredite, jamais desejaria que eu cozinhasse. Por que acha que saía sempre pra comer fora, quando vivia sozinha?

— Ah, nesse caso seguiremos tal e como até agora. A Finn encanta-lhe cozinhar. Se disser o contrário, é mentira.

— Acho que está tão entusiasmado com a ideia de ter bebês como nós.

— E falando de bebês... — Christopher pôs-se em pé para atingir um velho e empoeirado livro e voltar depois à mesa. Afastou o prato de Jessie e deixou-o diante dela —. No outro dia, quando trouxe essas três caixas de sua casa, uma delas se rompeu pelo fundo. Ao ir recolhê-lo, isto me chamou a atenção.

Dulce observou o livro. Era uma Bíblia, evidentemente muito antiga.

Um filho teu (Adaptação) Vondy Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt