stiches

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ROSEANNE PARK

Jungkook fazia movimentos com as mãos e dizia palavras vagas para me guiar até a sua casa, que era muito longe de onde nós estávamos antes. Fiquei checando pelo espelho e retrovisor para tentar ver se tinha alguém nos seguindo, mas aparentemente não tinha. Aquilo era suspeito demais.

— Entre naquela rua — ele sussurrou.

Estávamos no leste de Seul, em uma rua estreita com muitos prédios comuns e pequenos. Jungkook pediu para que eu parasse em um com paredes marrons, com uma escada do lado de fora.

— Temos que ir até o quarto andar.

— Você vai aguentar?

— Tenho que aguentar.

— Jungkook, você está sangrando...

— Eu consigo, não desmaiei até agora. Vamos logo.

Eu desci do carro e fui para o outro lado abrindo a porta e obrigando Jungkook a se apoiar em mim. Ele estava tentando muito não mostrar que precisava de ajuda, mas deve ter percebido o quão assustada eu estava com a quantidade de sangue e decidiu que negar a minha ajuda seria pior.

Não sei como conseguimos subir aquela escada. Ainda estava claro e agradeci pela rua estar vazia, assim não seríamos vistos. Assim que chegamos ao pé da porta, Jungkook tirou uma chave e abriu, segurando um murmúrio de dor em sua garganta. Quando entramos, ele se jogou no sofá que estava do lado esquerdo da porta.

— Tranca.

Tranquei a porta e fui até a cozinha, foi fácil achar uma vasilha com remédios e curativos já que o armário era minúsculo. Enchi um copo d'água e voltei para a sala, puxando meu segurança pelos ombros até ele se ajeitar no sofá.

— Consegue levantar a blusa? — pedi, ele estava pálido, e mesmo que tenha assentido vagamente, eu soube que ele não conseguiria. Estava fraco demais.

Usei a minha mão para ele apoiar as costas e a outra para levantar a sua camiseta. Agradeci por ela não ser tão justa, senão seria complicado demais.

Limpar todo aquele sangue me deixou enjoada. Jungkook fazia barulhos toda vez que eu chegava com o pano perto do ferimento, quando estava molhado doía ainda mais. Eu estava apavorada, mas não deixaria aquilo transparecer. Não até ele estar bem.

— Rose...

— Shh — sussurrei — Isso vai acabar logo, eu juro.

Quando terminei o curativo, amarrei em volta de sua cintura e apertei com força, um grito de dor escapou dos lábios de Jungkook e eu tentei não me aterrorizar ainda mais.

— Por favor, me diz que você vai ficar bem — não planejava dizer aquilo em voz alta.

— Vou... você precisa... celular...

Enquanto ia até a cozinha buscar um copo d'água para que ele bebesse, procurei pela casa algum telefone. Qualquer um que fosse. Achei dentro da cômoda, na segunda gaveta. Demorou um tempo para ligar, mas assim que a tela brilhou eu iniciei uma chamada para Taehyung.

— Alô? — a voz do meu irmão soou do outro lado da linha.

— Tae! — não percebi que já estava chorando — Invadiram a casa, Jungkook foi baleado, tivemos que fugir...

— Rose, meu deus — o suspiro do outro da linha deixava claro que Taehyung estava morrendo de preocupação — Nós recebemos um alerta há uma hora atrás. A polícia já está lá a essa altura.

— Está?

— Sim, é claro. Onde você está? Vou mandar um carro para te trazer pra sede. Não dá pra ficar sozinha.

— Não estou sozinha. Jungkook está comigo, e está ferido.

Ouvi meu irmão inspirar e expirar devagar.

— Não dá pra levá-lo a um hospital agora. Jungkook está sendo vigiado de perto pelos homens do nosso tio.

— Então levamos para a sede e chamamos um médico.

— Rose...

— O que é?

— Não pode trazer ele aqui.

— Por que?

— Quando o papai puder...

— Não! — o grito ecoou pelo quarto todo — Tem que me contar agora. Chega dos seus segredinhos e do papai. Eu cansei.

— Ele vai te ligar. Me diz onde você está...

— Eu não vou. Não importa o que você diga. Se não posso sair daqui com Jungkook, então não saio.

— Você está se arriscando demais por alguém que você conhece há três meses.

— E você perdeu todos os escrúpulos! Não vou deixar ele aqui pronto pra morrer.

— Vou te trazer para casa e...

Sem pensar duas vezes, joguei o celular contra a parede e o quebrei bem no meio. Chutei ele até virar caquinhos para garantir que não viessem nos rastrear.

Voltei para a sala.

— C-conseguiu?

Olhei nos olhos castanhos de Jungkook, não queria dizer pra ele a verdade. Não agora, pelo menos.

— Vamos ficar aqui por um tempinho.

Ele ficou confuso.

— Vai ficar tudo bem. Está doendo muito?

Sua cabeça assentiu, relutante. Me sentei ao seu lado no sofá e afaguei os seus cabelos que estavam suados. Seus olhos estavam sonolentos durante o caminho que meus dedos faziam nele.

— Jungkook... o que eu faço? O que eu devo fazer?

Seus lábios se juntaram, recuperando força para falar.

— Fica comigo. Só... não saia daqui.

Sua mão livre segurou a minha sobre o curativo, e eu observei cada parte daquela face que vinha me prendendo nos últimos dias. Tinha medo dele me achar patética por estar apaixonada por ele, ou por confiar tanto em alguém que mal conheço. Quero acreditar na minha intuição quando ela diz que posso ter um porto seguro quando olho para Jungkook.

— Dorme, me chama qualquer coisa — beijei sua testa, e sua mão não soltou o meu pulso. Seu toque era suave, gentil, tão fraco que eu quase não o sentia.

Passei horas sentada ali, vendo Jungkook adormecer no sofá. Refleti sobre a decisão de não ir para casa, mesmo que sozinha. Eu estava metendo os pés pelas mãos? Estava me precipitando?

Eu nunca conseguiria deixar ele aqui sozinho, com esse ferimento gigantesco,  pronto pra morrer. E mesmo que seja o trabalho dele me proteger, eu ainda me sentia em dívida com ele.

E também, existia o ponto de nossa relação não ser extritamente profissional.

Beijei a sua mão e me levantei, indo para o quarto e procurando por roupas limpas para quando ele acordasse. Estava quase tudo vazio, e só fui achar uma camiseta decente na última gaveta. Quando retirei ela de lá, encontrei um álbum de fotos.

Eu não devia bisbilhotar. Não devia mexer nas coisas de Jungkook a menos que ele quisesse mostrá-las a mim. Coloquei no lugar onde estava e fechei a gaveta, orgulhosa do meu auto-controle.

O apartamento era pequeno, cinzento, e não tinha quase nada além de um sofá, uma cama, uma cômoda, geladeira e um fogão. Não tinha porta-retratos, cartões, nada que lembrasse Jungkook que ele, um dia, teve uma família.

Ele ainda dormia pacífico.

Percebi que não me sentia tão assustada quando estava com ele.

•••

deixem a estrelinha ok? <333

PANDORA | rosekookDonde viven las historias. Descúbrelo ahora