Prólogo

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Janeiro de 2007.

Nem mesmo o sol invadindo o quarto pela janela, que eu havia esquecido de fechar na noite passada, conseguiu me fazer despertar. Só quando o meu celular tocou, alto e irritantemente com uma das minhas músicas preferidas, eu abri os olhos resmungando. Eu o peguei na cômoda ao lado da cama e atendi sem nem mesmo olhar no visor.

— Onde caralhos você está?! — a voz de Mark do outro lado da linha me fez levantar da cama em um pulo.

— Chegando. — minto.

— Porra June, eu sei que você acordou exatamente neste minuto! Você está atrasada! Veste uma roupa decente e corre pra cá, vou ganhar tempo pra você. — ele diz irritado.

— Certo. Desculpa, Mark. — murmuro caminhando rapidamente para o banheiro.

Mark havia desligado o telefone.

Tomei um banho apressado, vesti um terninho ridículo, prendi o cabelo que estava tão horrível que não tive coragem de deixá-lo solto. Peguei meus saltos no meio do corredor junto a bolsa jogada no chão e então corri para fora do apartamento.

Peguei um táxi na frente do prédio e pedi para o motorista dirigir o mais rápido possível.

Ele atendeu o meu pedido, mesmo no trânsito infernal de Los Angeles conseguimos chegar bem rápido. Eu o paguei e desci do carro rapidamente, caminhando para dentro do prédio e depois indo até a recepção. Me mandaram para o oitavo andar. Peguei o pequeno roteiro da bolsa e o li rapidamente, eu já tinha o lido umas mil vezes, mas nunca era demais. Não quando eu precisava decorar as falas pro teste.

Eu estava nervosa.

As portas do elevador se abriram e dei de cara com Mark. Ele me encarou com um semblante sério e irritado. Eu estava acostumada com isso. Mark sabia ser bem duro comigo, na maioria das vezes. Isso me atraía nele. Éramos uma boa dupla. Por isso dormíamos juntos sempre que era possível.

— Nem demorei tanto. — digo vendo ele soltar um suspiro.

— Eu devia ter dormido com você ontem, assim você não iria se atrasar. Esse teste é importante. — ele fala baixo enquanto toca em minha cintura me guiando para uma sala onde haviam algumas outras pessoas.

Eu não respondo. Ele estava certo.

— Ah, finalmente. — o homem de meia idade que eu reconheci como o diretor falou, um pouco irritado também. — Vamos lá. Você vai contracenar com Chris Evans, precisamos saber se vocês têm química. — ele aponta pra um homem parado há poucos metros da gente.

Ia ser moleza. Eu tinha química com qualquer pessoa.

Quando ele se virou pra mim e abriu um pequeno sorriso preguiçoso, senti um incômodo bem na barriga. Ele era bonitinho. Droga.

— Vamos lá, senhorita Quinn. — o diretor diz impaciente me chamando para me posicionar na frente das câmeras.

Jogo minha bolsa nos braços de Mark e vou até o local indicado. Me sinto nervosa. Até demais. Não era o meu primeiro teste, mas aquele era um papel que eu queria muito. Se eu conseguisse seria a minha primeira protagonista. Já estava na hora.

— Oi. — digo ao tal do Chris que também está ali, bem na minha frente. Ele parece concentrado.

— Oi. — responde sem me olhar. — Podemos? — pergunta ao diretor.

— Em três... dois... um... — o diretor grita.

Eu preciso respirar fundo. Não sei quanto tempo fiquei apenas encarando o homem na minha frente. Ele ergue as sobrancelhas e, sem fazer questão de disfarçar, ele rola os olhos.

— É você que começa. — o homem parado em minha frente fala, impaciente. — Corta, corta! — ele se vira para o diretor. — Podemos começar novamente?

— Eu não tenho todo o tempo do mundo, Quinn! — o diretor fala estressado, me encarando.

Meu Deus! Onde eu vim parar?!

— Começaremos em três... dois... um... — diz novamente. — Gravando!

Eu não podia travar naquele momento. Então eu começo.

Você deve me achar uma louca... mas eu sinto muita pena dela também. — digo. Ele dá uma risada, como o script pede. — Você me acha uma louca?

— Bom, você pode estar sofrendo de síndrome de Estocolmo. — diz divertido.

— Você está brincando. — dou uma risada.

— Sim. — ele responde. — Mas eu acho que você deveria me beijar agora.

Fico parada por longos segundos. Eu estou o encarando por muito tempo que fica estranho. Eu esqueci a porra da fala. Vejo Chris rolar os olhos novamente e voltar a falar com o diretor:

— Corta!

— Desculpa! — falo. — Podemos começar novamente?

— Não vai rolar. — Chris diz se afastando, ele vai até o diretor e fala algo em seu ouvido.

— Bom, muito obrigado por seu teste, June Quinn. — o diretor diz, escrevendo algo em sua prancheta.

— Espera aí, o que? — pergunto.

O diretor vem até mim, estende a mão e agradece novamente. Eu o encaro sem entender direito.

Vejo o tal do Chris arrumar seus papeis em sua mochila ridícula, eu bufo e caminho até ele.

— O que diabos você falou para ele? — pergunto, irritada.

Ele me olha como se me achasse uma idiota.

— Só disse a verdade. — fala simplesmente. — Que você não está pronta para um papel como esse.

— E quem você pensa que é para dizer se estou ou não pronta? — questiono ainda mais irritada. Sinto meu rosto queimar de raiva.

Ele me olha sério.

— Se você tivesse estudado mais esse roteiro, as coisas até poderiam ter sido melhores. — ele diz dando de ombros.

— Quer saber? Que se dane! — digo. — Você e esse filme ridículo!

Saio dali batendo os saltos no piso, exatamente como uma criança mimada. Passo por Mark puxando minha bolsa de suas mãos. Caminho apressada para o elevador. Mark me segue, entrando junto comigo.

Ele fica em silêncio. Ele sabe que nesses momentos é melhor me deixar em paz.

— Mark. — eu falo sem encarar o homem parado ao meu lado. — Eu espero que esse tal de Chris Evans se dê muito mal nessa vida. — murmuro. — Que esse seja a porra do último filme que ele irá fazer, aliás, quem é ele? Eu nunca ouvi falar em Chris Evans. Atorzinho de merda.

E assim eu segui para o meu apartamento novamente. Amaldiçoando o nome de Chris Evans. Esperando nunca mais ter que encontrá-lo nesta vida.

I found you • Chris Evans Where stories live. Discover now