6. Quieto

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Há uma cabana abandonada nos confins da mata. Coberta de musgo no telhado.

Jungkook e eu corremos pelas folhas secas e molhadas. A chuva não cessa e nós estamos ensopados.

- Eu vou checar. - Ele diz, a voz ainda tentando soar firme mesmo que seus lábios estejam arroxeados.

Estávamos a horas correndo na chuva, fugindo dos desertores e procurando por abrigo. O frio incomum começava a assolar nossas peles. Precisávamos nos esquentar de alguma forma o quanto antes.

A madeira range quando ele pisa sobre a mesma. Ele mantêm uma arma perto do corpo e eu fito os arredores. Mas não há nada mais que mata molhada e chuva por toda a parte.

Jungkook abre a velha porta, seus olhos astutos fitam lá dentro habilmente.

- Não tem ninguém.

Eu suspiro em alívio, subindo os degraus depois dele e adentrando o espaço que o mesmo deixou aberto.

A cabana tem um cômodo só. Onde ao mesmo tempo se dividem quarto, sala e cozinha. Há panelas sobre armários, mantimentos apodrecidos, como se a pessoa que morasse ali houvesse abandonado tudo do dia pra a noite.

O fogão é a lenha e há um pouco desta ao lado.

Mas eu quase respiro em alívio em ver a cama. Tem uma cama estreita com um cobertor e um travesseiro.

- Podemos nos abrigar aqui até a chuva passar. - Ele diz. Mas já estou tirando as botas e virando-as para deixar a água escorrer.

- Não vamos passar a noite? - Pergunto e retiro todas as armas do meu corpo.

Duas facas médias em meu cinto, mais duas pequenas por dentro destes, as duas armas no coldre de perna, mais facas presas em minhas panturrilhas e até mesmo uma que prende meu cabelo.

Deixo todas sobre a mesa.

- Se encontrarem essa cabana será óbvio que estaremos aqui e não gosto de estar enclausurado com olhos lá fora.

Eu quase sorrio, quase. Até me lembrar que ainda estou zangada com ele.

O fato se nutrir sentimentos românticos por meu parceiro de crimes frio e calculista ao estilo Sasuke Uchiha e Thomas Shelby, não foi a escolha mais sabia que eu fiz.

Jungkook era misterioso demais e discreto demais com seus próprios desejos. Ele tinha todo aquele jeito focado em missões, nunca se distraindo, mas quando estavam fora do trabalho, algumas vezes ele desaparecia durante toda a noite e voltava apenas pela manhã. As únicas coisas que denunciavam que ele tinha estado de alguém eram as marcas em seu pescoço. Em casos mais dolorosos, como ontem, já o vi flertar em tavernas com algumas moças. O resultado era pior, eu o assistia levá-las pelas mãos para os fundos de algum bar ou para qualquer lugar distante de olhos espiões, como os meus.

Levo minhas mãos até os meus fios e os torço, escorrendo a água abundante deles.

- Entendi.

A blusa está colada em meu corpo quando a ergo, grudenta.

- O que está fazendo? - Perguntou.

Eu estendo a blusa em uma cadeira.

Só então, o olho.

Seu cabelo negro está molhado, colado em sua testa, bem como os cílios espessos.

Ele é como o filho da noite, sua beleza chega a ser obscena.

- Sobrevivendo. - Eu desvio o olhar, batendo a coberta até tirar a poeira. Mas não há, na verdade. O tempo ali parece ser tão chuvoso, que a poeira é inexistente. Tudo que há são folhas secas ou pedaços de galhos e teias de aranha. - Se não tirar essa roupa, em breve vou ter hipotermia. Nós dois, na verdade. Sugiro que você faça o mesmo.

10 beijos de vocêWhere stories live. Discover now