Eu quero que você saiba, essa sou eu tentando

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Oi, mais um capítulo, esse continua situado no ep 5, depois que o Wanderley revela que é da Ordem, eu tentei dar uma visão emocional sobre como as duas estavam e lidaram com isso. Os próximos capítulos podem demorar por que eu vou ter que ser um pouco mais criativa. Eu espero que gostem.

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Amelie se sentou no chão frio do banheiro, um olhar vazio em seu rosto, o pavor que sentia ainda tomava seu corpo com tremores. A sua única âncora pra o mundo real era o som do chuveiro ao seu lado, o único dedo de Bárbara entrelaçado com o seu mindinho sobre a banheira de cerâmica branca, e as palavras de Wanderley: –Ela precisava dar tudo de si agora, ter coragem de salvar aquelas pessoas, de ajudar Bárbara, e depois aprender a viver com o que aconteceu.

A francesa virou a cabeça para olhar a loira ao seu lado, os cachos dourados sempre tão soltos e livres, estavam molhados e baixos, o sangue escorria pelo ralo, limpando a pele de Bárbara do terror, mas não as manchas em sua alma, essas durariam para sempre.

A loira não falou nenhuma palavra além dos gritos no hall de entrada, ela se deixou ser guiada por Amelie até o banheiro da mansão, a loira não sabia se suportaria entrar na sua pequena casa depois do que aconteceu, e quando a de cabelos esbranquiçados ia sair ela segurou hesitante suas mãos em um pedido silencioso para que ela ficasse. Bárbara estava com raiva, tanto ódio que parecia que ia consumi-la inteiramente, como que tudo que ela era antes desse dia tinha sido derretido, e sumido. A única coisa que fazia ela sair da dor que parecia enterrar todos os seus sentimentos era Amelie, ela ainda não sabia como seguiria em frente, ela ainda se sentia como uma ferida aberta pronta pra sangrar até morrer, ela ainda se sentia vulnerável, tão vulnerável que parecia que nada havia sido deixado para a proteger de tudo que vinha acontecendo. Mas depois que a névoa de raiva se clareou um pouco, ela ainda estava em choque, porém ter o apoio de Milo, Amelie, e até mesmo Wanderley fazia parecer que ainda havia esperança, uma pequena luz na escuridão que tomou sua vida de forma tão repentina.

A dupla permaneceu em silêncio, seus olhos se encontravam na meia penumbra às vezes, Amelie via seu próprio pavor, seu medo, refletido no desespero e raiva no olhar de Bárbara.

O banho terminou em poucos minutos, Bárbara continuou sentada na banheira, as pernas puxadas até o peito e os lábios carnudos batendo, de frio ou medo, Amelie não saberia dizer. A francesa sabia que a loira não ia se mover sem ajuda, ela estava muito imersa em sua própria consciência pra isso, ou qualquer outra coisa.

–Bárbara, eu vou te tocar, tá bom?–Amelie lavantou e pegou uma de suas toalhas, voltando e se agachando ao lado da banheira enquanto perguntava baixo, nenhum resquício do sotaque francês em sua voz. Bárbara levantou o olhar, olhando para a outra com um aceno de cabeça em concordância. As palavras sumiram e a única coisa que restou foi um abismo no peito da jardineira.

Amelie secou os cabelos da loira primeiro, passando a toalha suavemente pelo couro cabeludo, depois desceu até o ombro e assim o resto do corpo, tudo em silêncio e com o máximo de cuidado, ajudou a loira a se levantar e sair da banheira, a enrolando na toalha e a guiando até seu quarto. Bárbara se sentou na cama, seu corpo parecia pesado demais para se sustentar em pé.

Amelie vasculhou sua mala em busca de roupas que servissem na mais baixa, decidindo dar uma blusa solta e um suéter roxo com gola rolê que com certeza ficariam enormes na mais baixa, e uma calça cargo preta. As roupas características da outra estavam largadas na pia encharcadas de sangue, a mansão anteriormente imaculada estava uma bagunça. Amelie entregou as vestimentas, mas Bárbara não deu sinal que se vestiria, ainda parada, a francesa mordeu seu lábio inferior, se sentando ao lado da outra na cama.

–Eu vou te ajudar, tá bom?–Amelie prosseguiu com suas ações ao receber um aceno positivo da outra. Depois de vesti-la, Amelie calçou suas botas de jardinagem, a única coisa que sobrevivera ao banho de sangue. A francesa reparou no grande machucado que o braço da outra tinha, resolvendo fazer um curativo improvisado rapidamente. A de cabelos esbranquiçados segurou o braço da outra com cuidado e trabalhou em silêncio, seu corpo ainda estava tenso, preparado para qualquer coisa ou prestes a implodir. As armas na sua mesa de cabeceira pareciam gritar seu nome, provocar sua sanidade.

Ao ver as lágrimas escorrerem livres pelo rosto de Bárbara, que permaneceu inexpressiva apesar disso, Amelie quebrou o silêncio com cuidado.

–Bárbara, eu não sei como você tá se sentindo, acho que nem eu sei mais o que tá acontecendo aqui, não sei se minhas palavras vão te ajudar ou piorar tudo, mas você não tá sozinha nisso, a gente vai enfrentar isso juntas, e acabar com a porra desse monstro, ele não é invencível.–A turista sentiu seus olhos lacrimejantes, tentando achar uma força que ela não tinha dentro de si. Ela voltou a ficar em silêncio enquanto terminava os curativos, e ia se levantar mas Bárbara interrompeu, se aproximando lentamente, ainda quieta e chorando, rodeou o pescoço da outra em um abraço apertado, escondendo seu rosto no pescoço da mais alta e deixando sua camisa úmida com as lágrimas.
Amelie ficou sem reação por um momento, somente se deixando ser abraçada, mas resolveu deixar o peso em seus ombros de lado por um segundo, afundando no abraço da outra com tudo que tinha. O espaço era quase inexistente entre elas, e as lágrimas escorriam livremente e em silêncio. O contato pareceu durar uma eternidade pras duas, por um singelo momento, o mundo, a ilha de Tipora e tudo se foi, e eram somente duas almas quebradas procurando conforto uma na outra.

  Sua bolha se quebrou com uma batida na porta fechada. Bárbara foi a primeira a se afastar, finalmente reagindo e indo até a cabeceira pegar uma das armas, seu cabelo estava puxado em um coque bagunçado para impedir que atrapalhasse. Amelie viu isso como um sinal que o seu tempo acabou, era agora, não tinha mais como fugir. A arma pareceu uma âncora quando ela segurou em suas mãos trêmulas e foi até a porta com Bárbara ao seu encalço.

Wanderley esperava ansioso do outro lado, e nenhuma palavra precisou ser dita para as duas saberem: –O momento chegou...
  

Duas Margaridas-Bárbara e AmelieWhere stories live. Discover now