Capítulo 90

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Narrativa

Anne estava decidida a ir o mais fundo possível em suas memórias, mesmo que isso talvez pudesse revelar a ela ainda mais traumas escondidos, ou machucar feridas que nem ao menos haviam se cicatrizado por completo. E mesmo tendo consciência desse perigo, a garota queria por um fim em tudo, o que a encorajou a continuar abrindo cada uma daquelas portas, uma a uma.

—— O que você vê agora Anne ? – A doutora continuava a sua perguntas supervisionando cada expressão facial que a garota tinha.

— Hum, eu acho que estou em um parque agora. – Fala baixo. — estou sentada em um banquinho de praça, tomando um sorvete de casquinha. E ainda por cima é de caramelo, eu detesto sorvete de caramelo. – Ela faz careta ainda olhando para o que seria ela mesma a alguns anos atrás. — Devo estar em uma memória errada ou algo do tipo.

— Talvez você gostasse do sabor antes, e com o tempo foi mudando o seu paladar.

— Eu acho bastante improvável. – Da de ombros. — Ele tá aqui de novo, o meu avô, está pagando o moço do carrinho de sorvete. Espera...tem alguém se aproximando de mim, um rapaz de capuz escuros, não consigo ver o rosto dele.

— Chegue mais perto, se lembre de que eles não podem te ver. São apenas memórias.

Anne se aproxima do banco da praça se sentando ao lado de sua versão jovem do passado, podendo ver com mais clareza de quem se tratava. Imediatamente a fazendo ter uma ânsia instantânea.

— Aquele velho idiota está te dando sorvete antes do jantar outra vez ? – Rosna arrancando a casquinha das mãos da garota. — O que foi que eu te falei sobre esses sorvetes de caramelo ? Agora os seus dentes vão todos cair.

— Eu não quero ficar sem dentes. – A menina começa a chorar desesperada correndo para os braços de seu avô. — Vovô, ele disse que meus dentes vão cair.

Ora seu verme sem coração, por que fica dizendo essas coisas pra menina ? Não vê que está assustando ela ? – O homem se irrita com a atitude de Hammer levando a garota pra Longe.

Pode ir, vai lá velho anêmico. Aproveita seus últimos dias com ela. – Grita.

— Anne, você ainda está aí ? – Pergunta a doutora preocupada com o silêncio repentino.

— Estou sim, eu acho que essa memória foi pouco antes de nós mudamos da Cidade. – As coisas voltam a se tornar cinzas de poeira espessas mais uma vez, deixando claro que não havia mais nada a ser recordado naquele dia. — Eu gostaria de saber o que aconteceu com ele.

— Uma coisa de cada vez Anne, você já se lembrou que tinha um avô, e o nome de suas amigas. Não precisa ter pressa em nada. Com o tempo as coisas vão sendo respondidas.

— Não, eu quero ir mais fundo, quero saber o que aconteceu. – A menina segue para mais uma porta decidida a obter algumas de suas respostas, se vendo mais uma vez em uma memória esquecida, dessa vez já no lugar onde costumava morar quando criança.

— Eu estou brincando com algumas tintas, usando um vestido branco com flores azuis, coberto por tinta vermelha e amarela. – Ela da um sorriso pequeno ao sentir a felicidade em seu próprio rosto. — Eu estou conseguindo me recordar desse dia, eu tinha ganhado as tinhas de presente dele.

— Isso é bom, você já está se recordando do seu avô pouco a pouco. Tem mais alguém aí com você ?

— Tem sim.

Olha só o seu estado, eu sabia que essas tintas eram uma má idéia. – Chistine puxa a menina do chão a levando para perto da pia. — Trate de se limpar o mais rápido possível, o seu pai já vai voltar do trabalho, e eu não quero que ele te veja dessa forma. Ou então vai pensar que eu não posso cuidar de uma criança.

Enquanto ela gritava com a garota, o telefone da casa começa a tocar, a incomodando com o barulho alto e repetitivo. — A mais que saco. – Sopra atendendo a ligação. — Quem é ?

Senhora Everhart, aqui é do hospital Merswast, estamos ligando pra avisar que o seu pai deu entrada na nossa UTI a algumas semanas. Nós tentamos entrar em contato a um tempo, mas as nossas chamadas foram rejeitadas.

É eu sei, ele tem problema do coração, está sempre correndo pra esses hospitais. Idai ?

Ele faleceu na manhã deste sábado, o contato de emergência corresponde a seu número, então me pediram que avisasse diretamente a senhora.

— Droga... – Ela se apoia sob o balcão suspirando profundamente.

Ainda está aí senhora ?

— Sim estou aqui. – Retruca. — Eu não vou demorar. Anne vem logo, nós temos que ir.

A gente vai ver o vovô ?

— É, nós vamos sim.

•••

A garota ficou paralisada em meio a memória, como se um pedaço dela houvesse sido arancando de dentro do peito. O que tirou totalmente a sua coragem de continuar com o procedimento.

— O que é isso ? O que está acontecendo com ela ? – Tony começa a ficar preocupado quando percebe o Corpo da garota se estremecer sob a cama.

— Anne, está me ouvindo ? O que está acontecendo aí ?

A menina não podia responder, ela não tinha forças nem coragem de abrir seus lábios, de modo que tudo que ela fez foi continuar a correr de porta em porta, buscando ainda mais respostas para suas perguntas.

— ANNE, ANNE POR FAVOR ACORDA.

— Se acalme senhor Stark, não podemos fazer com que as coisas aconteçam de forma brusca. – Intervem a médica. — Precisa dar um tempo pra ela processar o que descobriu.

— Mas e se ela não acordar ? E se ela ficar presa na própria mente pro resto da vida ? – Gagueja. — Não foi pra isso que eu trouxe ela aqui. – Ele aperta forte em ambas as mãos da garota, ainda tentando a trazer de volta a consciência.

Mesmo que ainda abalada com a sua descoberta, a menina consegue sentir a presença do seu pai, o que a lhe deu forças o suficiente para poder se acalmar outra vez.

— Eu estou aqui pai. – Responde ainda de olhos fechados. — Eu vou por um fim nisso de uma vez por todas. – A garota respira o mais fundo possível, seguindo em direção para uma última porta, cujo a sua cor não era brilhante, tão pouco colorida como as demais em que ela já havia entrado. Aquela era escura e tenebrosa. E com certeza, não seria uma lembrança fácil de se encarar.

O meu pai é o Tony Stark Where stories live. Discover now