Vinte e quatro

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Ariana

O celular voltou a tocar na sala, insistente.

Levantei e saí da cama, enquanto Heitor acompanhava meus movimentos, estendido nu na cama. Era uma visão de tirar o fôlego, capaz de desviar uma boa alma. Pela reação, ele também gostava do que via.

Saí do quarto antes que ele quisesse continuar nossa conversa, além de outras coisas. 

Fui até a sala e vesti minhas roupas amassadas, mas secas. Vasculhei a bolsa atrás do celular, descobrindo, estarrecida, que havia várias chamadas perdidas da pousada e de Dr. Ernesto, algumas de Dona Laura. Liguei primeiro para meu chefe, imaginando o que seria tão urgente para Dr. Ernesto ligar tantas vezes.

—  Ariana, finalmente! — Senti um tom de urgência em sua voz. — Estou telefonando desde ontem. Compreendo que estivesse de folga, mas é importante. Dr. Otávio vai receber um grupo de turistas de São Paulo esta noite, e quer que você prepare o jantar. Você deve estar na vinícola às duas horas, Dona Laura está tentando entrar em contato para combinarem tudo. É um jantar muito importante para Dr. Otávio.

Olhei a hora na tela — 13:30.

—  Vou para lá agora, Dr. Ernesto.

Encerrei a ligação, apressada. Eu ainda tinha que ir para casa tomar um banho e trocar a roupa; não podia me apresentar para um trabalho vestida daquela maneira, com as roupas cheirando à água de rio.

Heitor apareceu na sala. Havia vestido a calça, o peito bronzeado de fora. Era mesmo um pedaço de mal caminho. Ele franziu a testa.

—  Aconteceu alguma coisa?

Deve ter percebido minha agitação.

—  Seu pai vai receber um grupo de São Paulo esta noite e quer que eu prepare o jantar. 

Ele fez uma cara de desagrado. Eu também não estava nada feliz. Voltar ao casarão depois dos últimos acontecimentos não era algo que eu esperava tão cedo. 

—  Tenho que estar lá daqui meia hora, para começar os preparativos. Mas antes preciso tomar um banho e trocar a roupa.

—  Claro.

Heitor voltou para o quarto e reapareceu pouco depois vestindo uma camiseta limpa, apanhou as chaves do carro e saímos. Aproveitei e liguei para Dona Laura avisando que chegaria atrasada, mas que ela não precisava se preocupar. Heitor estacionou em frente ao prédio e saltei ligeira.

—  Eu levo você até a vinícola.

—  É melhor não, Heitor.

—  Vinícius não vai estar lá a essa hora, mas tia Lívia, sim.

Antes de entrar no prédio, tive um mal pressentimento sobre aquele jantar. Espero estar enganada. Tomei um banho rápido, prendi o cabelo num rabo de cavalo, vesti uma calça cargo preta, camiseta branca e desci. Heitor fumava com o cotovelo apoiado na janela aberta. Apanhou uma sacola sobre o painel e colocou no meu colo assim que sentei ao seu lado.

—  Eu a levaria para almoçar no Armazém, se tivéssemos tempo, mas vai ter que ficar para outro dia.

Dentro da sacola havia um sanduíche de carne seca, garrafa de água e suco. Olhei para Heitor agradecida. Só então percebi que estava faminta.

—  Você não vai comer?

—  Eu arrumo qualquer coisa na cozinha de Dona Laura.

Eram duas e vinte e oito quando chegamos ao casarão. Na varanda da frente, Vinícius e a tia discutiam. Heitor permaneceu sentado no SUV, olhando a cena, assim como eu. Eles se viraram com o ruído do motor e nos viram. Não pude deixar de sentir uma pontada no coração, vendo Vinícius ali, arrumado e elegante, os óculos escuros presos na camisa branca. 

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now