2.8. mamãe sabe o que é melhor

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Minha paciência recebeu ordens de estar permanentemente preparada para a luta.

Charlotte Brontë

Villette


Georgia passou as semanas seguintes concentrada no trabalho que precisava fazer na construtora e, também, no canteiro de obras. Depois da conversa desastrosa que teve com Helena, achou por bem limitar as taças de vinho durante a semana. A última coisa que queria era que pensassem que ela tinha um problema com a bebida.

Na sexta-feira, quando chegou ao quarto de hotel, olhou ao redor e foi golpeada pelas duras palavras que voltaram à cabeça dela. Helena não a reconhecia mais. Não era de se estranhar que ela quisesse se manter o mais distante possível dela. Georgia havia se transformado em alguém que nem ela mesma gostaria de ter por perto.

Pensando nisso, ela pegou a mala que guardou em um dos armários e colocou sobre a cama. Pelos próximos cinco minutos, tirou as roupas do cabide e colocou tudo dentro da mala. Georgia deixou algumas coisas para trás, mas avisou na recepção que passaria para pegar depois.

— É isso mesmo que estou vendo, Brasil? — Toya disse assim que abriu a porta e a viu do outro lado, segurando a mala como uma sem-teto. — Veio para ficar?

— Cansei de olhar para aquelas paredes — Georgia murmurou, passando pela prima sem esperar por um convite para entrar. — Vou ficar aqui até resolver o que fazer da minha vida. Espero não te atrapalhar nesse meio tempo.

— Até parece — ela bufou, fechando a porta com um baque que a assustou. — Olha o tamanho dessa casa. Capaz da gente nem se ver direito.

— Preciso de uma dessa — ela seguiu Toya pelo extenso corredor, em direção às escadas, corrigindo-se em seguida. — Na verdade, preciso comprar um terreno.

— Um terreno? — Vitória parou no meio do corredor e olhou para ela com um misto de confusão e curiosidade. — Isso é tão anos noventa. Compra logo uma casa, criatura.

— Só se eu achar a casa ideal — ela fez uma concessão e Vitória pareceu refletir.

— Tenho uma amiga corretora que disse que tem algumas casas à venda em Perdizes. Depois mostro as fotos e podemos dar uma olhada — ela voltou a caminhar e fez um gesto para Georgia segui-la. — Vem, vamos subir. Dei folga para a Gerusa hoje. Estamos por nossa conta e risco.

Assim que estava instalada no quarto de hóspedes, cujas paredes eram muito mais amigáveis do que as do hotel, desceram à sala para jantarem. Georgia ficou surpresa quando descobriu que estavam comendo a deliciosa carne de sol que Israel havia feito mais cedo.

— Me diz então — Toya a cutucou do outro lado da mesa de jantar —, que tipo de casa você procura?

— Bem, precisa ser bem espaçosa — ela disse, citando de cabeça o que Helena especificou anos atrás. — Cinco quartos, uma sala grande, cozinha, sala de jantar, espaço para um jardim e uma piscina. Com um terreno extenso posso mandar fazer. Já tenho a planta.

— Deixa eu adivinhar — ela ergueu um dedo com a expressão de quem tinha entendido tudo. — A casa que você prometeu para a Helena.

— Eu sei que é maluquice — Georgia suspirou, ciente de que estava indo longe demais —, mas eu não tenho mais nada a perder. Na pior das hipóteses, eu vou ter uma casa.

— É disso que ela precisa: que você lute por ela — Toya apontou um dedo para ela, os olhos cintilantes e cheios de energia. — Eu sei que é difícil para você ouvir isso, mas foi isso o que o Daniel fez. Ele nunca deixou o lado dela. O pai dele era contra o namoro dos dois, influenciado pela titia, claro, mas ele jamais duvidou.

As Curvas do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora